Duas semana depois de ter sido despedido e do incidente pseudo-sexual, encontro-me deitado no sofá a olhar para o bolor que cresce no teto da minha sala (acho que vou ter uma longa relação, a mais longa que já tive. E ninguém me pode mandar a baixo porque não deixa de ser um ser vivo, e se ele quiser não vejo porque terá que ser discriminado este nosso amor).
Aquele emprego não me satisfazia, ficava 8 horas, às vezes mais, a olhar para a porcaria de um pedaço de plástico e um pouco de vidro a piscar, dizendo-me o que fazer. Isto é a descrição que eu dou a um computador. Recebia tão pouco dinheiro 'naquilo' que nem chegava para matar o nascimento de mais um micro-ecosistema no meu teto. Chegava todas as manhãs ao escritório, onde todos ja estavam a falar das suas mulheres ou namoradas, alguns apenas a dizer que tinham dado uma 'ganda queca' com uma gaja (travesti na minha opinião), e que isto se iria repetir na próxima noite. E o que é que eu tinha? Uma paixão que acabou por ter um ataque à minha frente quando eu estava prestes a ser despedido (nunca mais ouvi falar dela...).
Acho que duas semanas depois de se ser despedido, já se está pronto a levantar o cu do sofá e ir comprar o jornal ou aquelas revistas para as quais já tenho idade, não para ler, apenas para procurar emprego (ou fazer as palavaras cruzadas e o sudoku). Os únicos empregos eram de canalisador, vendedor de bíblias ou mecânico. Bem, de carros não percebo nada. Apenas sabia desentupir uns canos que se movimentavam pela rua através, se tivermos sorte, de umas belas e carnudas pernas acompanhadas de um igualmente belo airbag anal, mas de certeza que não eram esses os tubos necessários há desentupição. Quando vi o anúncio das bíblias fiquei maravilhado, era so falar com umas velhinhas e tinha dinheiro garantido, mas depois pensei que já toda a gente idosa tinha uma coisa daquelas.
Decidi então iniciar/criar a minha própria bíblia e religião. Comecei por investigar o que é que os padres faziam, sem ser olhar para rabos de criançinhas e comer as freiras, não descobri muito mais acerca da sua profissão. Reparei que para ser diferente não poderia ter padre, mas aí iria ter de ser eu a explicar aos meus fieís do que se tratava esta nova religião. Ainda não sabia o que lhe chamar, mas visto que o meu nome é Miguel, igreja Miguelina não era uma má hipótese. Fiz uma lista do que iria ser a minha igreja.1- Não é permitido comer a maior parte dos legumes. (Isto só porque não sou grande fã de coisas verdes, excepto ET's)
2- Penteados estranhos de cabelo não poderam entrar nos recintos declarados como Igreja Miguelina.
3- A roupa é importante. Usar camisolas de mangas compridas não é permitido. (Nas mulheres é permitido, porque quando usam camisolas deste tipo, as suas 'almofadinhas' sobresaem mais)
4- Os batizados passarão a ser feitos com água de garrafão ou da toneira. (A água benta a meu ver fica parada muito tempo, e isso trás doenças)
5- Encontrar um sem-abrigo ou drogado, disposto a sacrificar-se para ser o simbolo da minha igreja.Quando ia para o sexto ponto percebi que isto não era lá muito diferente do que era a igreja atualmente. Embrulhei o papel em forma de bola, atirei para o lixo. Um pouco mais tarde começou a ficar muito frio, fiquei com a aquela sensação que os rapazes têm nos tomates de que eles encolhem (tal como as mulheres nos mamilos, só que estes ficam mais bicudos). Fui então buscar os papeis com as ideias da igreja e juntei-os todos num cantinho chamado lareira, peguei-lhes fogo (e ainda bem porque não sei se os senhores da reciclagem abrem todos os papeis à procura de algo interessante para ler, e não queria que eles me roubassem as ideias), e depois disso deixei de ter frio.
Decidi que iria pedir o subsidío de desmprego, e que voltava a trabalhar no verão, só faltavam 2 meses, por isso não ia ter uma relação tão séria com o meu micro-ecosistema como tinha pensado no ínicio.