Capítulo 2 "Como a chuva"

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12 de Outubro de 2015

16h30

O autocarro estava demasiado sossegado esta manhã. Silencioso demais, toda a gente demasiado empenhada em si própria. Incluindo eu. Se estivesses lá, sei que ias animar aquilo. Queria-te lá. Estou a ter filosofia agora e a escrever-te. Sempre filosofia, já viste? Talvez filosofia seja a nossa cena. Está aqui tanto barulho, só me quero ir embora. Dói-me a cabeça. Recebi uma mensagem há pouco. "Tenho saudades tuas" dizia. Mas não eras tu. Nunca és tu. Preferia que fosses tu. Tanto. É a primeira vez que te escrevo sem estar a ouvir uma qualquer música sincera e deprimente.

Tirei a caneta ao Liam. Ele não deu por nada. Devolvo-lhe quando acabar. Eu e ele estamos afastados ultimamente, queria voltar a tê-lo como tinha. Mas preferia voltar a ter-te aqui. Prefiro-te sempre a ti.

A stora está a dizer que vamos ter uma aula de pacote. Sabes o que raio é uma aula de pacote? O nome soa engraçado. Mas continuo sem saber o que é. Esqueci-me do caderno. Ela pensa que estou a escrever o sumário, mas estou a escrever-te a ti. Outra vez a falar da aula de pacote. Descobri que é uma aula para "despejar" matéria. Socorro.

A este ponto sinto-me mais próxima de toda a gente. Mas tudo o que queria era estar mais próxima de ti. Já imaginaste como seria se estivesses aqui? Eu já. Seria único. Seria a calma no meio da tempestade. Serias tu, simplesmente.

Estamos a falar de experiências estéticas. Pelos vistos uma experiência estética é uma experiência que nos marca, que nos muda. És a minha experiência estética, então. O teu nome foi referido agora, duas vezes. Gosto dele, talvez também por ser o teu.

Não consigo deixar de me sentir triste agora. O cartaz daquele festival que te tinha falado foi revelado ontem, ele não vem cá. Ele, cujas letras dizem tudo o que te queria dizer. Ele, cujas letras questionam tudo o que te queria perguntar. Ainda tinha esperança, mas agora resta-me esperar. Só que não gosto de esperar. Quero vê-lo agora. Quero que ele apareça aqui e cante para mim. Quero que tu apareças aqui e cantes para mim. Pensei em gravar partes e mandar-te. Já não posso. Talvez um dia. Tenho pensado também se te deva mandar mensagem de "feliz Natal". Vai chegar tão rápido. Acho que não vou mandar, não conseguiria lidar com a dor da tua ignorância. Mando apenas no ano novo, já não deve estar em mim por volta dessa hora.

Vai tocar. Não quero ir para casa. Não quero ir estudar. Não quero deixar-te. Preciso de manter esta ideia de ti.

19h10

Lembras-te daquele rapaz que te falei? Estive tão perto dele hoje. Ele não tem os teus olhos, não tem o teu sorriso, não tem o teu jeito único de vestir, não tem a tua aura. Ele não és tu. Eu desejava que fosse, pois é o mais próximo de "ti" que consigo estar.

Acreditas que já não me lembrava da música que me cantaste uma vez? Já lá vai mais de um ano. Até hoje ainda não percebi se é possível gravar chamadas. Gostava de te poder voltar a ouvir. Passou em aleatório hoje, mas não era a tua voz. Não a queres voltar a cantar para mim? Confesso-te aqui que, apesar das vezes consecutivas em que te pedia para cantares para mim, a tua voz não é das mais afinadas. Não é daquelas que ganharia concursos, nem prémios, nem fãs. Mas ganhou-me. Porque era a tua. E eu gostava.

A chuva a cair é calmante. Adoro o cheiro que fica depois dela. Queres partilhá-la comigo? Um dia, certo? Um dia ainda vamos dar um passeio na chuva, só nós os dois. Falar sobre tudo e sobre nada, só falar. Tal como costumávamos fazer.

Também gosto do teu cheiro. É como a chuva, calmante. Não sei que perfume usas. Isso faz-me pensar que nunca fui ao teu quarto, nunca fui a tua casa sequer. Gostava de ir um dia destes. O quarto de uma pessoa pode dizer muito sobre ela, sabias? Quero descobrir. Roubava-te logo uma camisola, uma daquelas grandes e quentinhas, para que quando a usasse sentir que me estavas a abraçar. Ia usá-la sempre. Já te disse que o teu abraço é tudo o que preciso?



Vida Passada (Harry Styles fanfic)Where stories live. Discover now