O que é Morserus?

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- O que é Morserus? – Perguntou o Rato criança ao velho Bode.

- Não seja tolo, Roedor. – O Bode respondeu gentilmente.

A criança ficou indignada ela não queria ser tola. Mas se ela não perguntasse não saberia. Tolos não são o que não sabem, tolos são os que não perguntam.

- Posso saber então qual a tolice da minha pergunta?

- Morserus é o nome do nosso mundo. Todo mundo sabe disso.

O Bode colocou o monóculo nos olhos e andou até a proa do barco. A noite era clara, e a Lua Branca brilhava no céu sem nuvens. Sua luz banhava a segunda Lua, a Lua Negra. Era um bom sinal, pois o Capitão acreditava que as noites de duas Luas eram sinal de um ciclo de paz, um equilíbrio temporário entre a luz e a escuridão.

O pequeno Rato colocou mais carvão dentro da fornalha. Era o seu trabalho: limpar o pequeno convés e garantir que o fogo queime forte dentro da fornalha. Ele olhou para cima e viu que o balão estava cheio, sem risco de perder altitude. Sem risco de ele ser chamado de roedor de nuvens, que era como o capitão o chamava sempre que ele não fazia um bom trabalho.

- Poxa Capitão, olha como o senhor é? Sempre achando que eu sou burro. Se eu fosse burro eu tinha ficado em Kazil, passando fome e roubando para viver. – Ele sorriu um sorriso de orgulho misturado com arrogância. – Eu sou esperto, Capitão. Talvez não esperto como o senhor, que sabe fazer um barco voar. Mas eu aprendo o tempo todo. Foi assim que virei guia. Eu aprendi o nome das coisas, quem criou as coisas. E quanto mais eu sabia, mais gorjeta eu ganhava dos turistas.

O Bode sorriu. Sim era por isso que ele tinha escolhido o pequeno Rato. Não pelas perguntas, isso era um sintoma da doença maior que era o eterno otimismo, sempre acompanhados de uma curiosidade insaciável. Era cansativo sempre ficar explicando o mundo para uma criança que viveu toda sua existência numa única cidade e nunca frequentou uma escola. Mas, por outro lado, ele estava velho, e o gosto pela vida estava se esvaindo como o olor de um velho perfume. Músicas sobre amor eterno pareciam não fazer mais nenhum sentindo, seus pratos preferidos tinham agora o gosto insípido, não existia quantidade de sal ou pimenta que lhe devolvessem o prazer que a idade roubou em seus repetitivos dias. Sua vida estava perdendo o significado. O pequeno Rato não era uma cura para esse crescente cinismo, mas era uma homeopatia deveras eficaz.

- Sua pergunta foi retórica, é isso? – O Bode perguntou, passando sua mão pela barbicha longa e branca. – Se você quer uma resposta objetiva então faça uma pergunta objetiva.

O pequeno Rato fechou o semblante. Ele odiava quando o Bode usava palavras como 'retórica'. Havia tanta coisa no mundo que o Rato não conhecia. E sempre que ele achava que tinha descoberto tudo, surgiam palavras como essas, que o faziam ver que ele sabia era nada. Não que fosse admitir isso. Ele acenou que sim. Sempre fingia que sabia e anotava mentalmente no seu baú de burrices tudo que ele desconhecia sobre a vida.

- Nosso mundo é mágico? É isso o que eu quero saber.

O Bode riu. – Não seja tolo, novamente com as perguntas sobre mágica. Já tivemos essa conversa Roedor; não existe mágica.

- Como você explica então a divisão do nosso mundo? Por que apenas Cinco Raças têm Nações enquanto todas as outras vivem em tribos ou em reservas. Eu vi um Lobo uma vez. Os guardas da cidade o arrastaram para a praça e deixaram o povo apedrejá-lo até a morte. – O Roedor coçou a cabeça. – O maior Rato da cidade batia no ombro do Lobo. E o muque do coisa ruim? O corpo era músculo puro. Se não fossem as correntes, ele teria matado a cidade toda. Agora me diz, como que é que os Coelhos têm uma Nação e os Lobos vivem em tribos?

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