Chapter One. The Start 🍁

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Comecei a viver a partir do momento em que fui diagnosticada com câncer de pulmão de não pequenas células no estágio dois, e eu não poderia estar mais feliz.


O meu câncer tomava conta de um lado pequeno do meu pulmão, ele ficava localizado bem na pontinha dele, e isso fazia o par de pulmões se contrair as vezes.

Com 17 anos de idade apenas, e não foi uma surpresa pra mim, mas para os meus pais foi como uma maldição jogada na família. Foi como um choque pois nunca aconteceu nada parecido antes, e logo depois do meu aniversário, super chato não?

Eu uso um cilindro e uma canula para sobreviver, a quimioterapia ainda não tem previsão para mim, então eu só tomo alguns remédios e fico com o cilindro pra lá e pra cá.

Hoje é meu primeiro dia de aula depois das férias, ainda não sei como vou explicar para os meus amigos ou para qualquer outra pessoa que perguntar sobre. O que me preocupa mesmo é a minha melhor amiga, eu não tive nenhum tipo de comunicação com ela nas férias, apenas vou vê-la hoje e jogar a notícia completa. Uma completa droga.  Eu pensei em sair da escola e parar de estudar, mas é meu último ano, falta poucos meses e quero fazer mesmo assim. Talvez eu tenha muitos olhares pra mim, seria interessante. Finalmente minha vida deixou de ser inútil.

Minha mãe estava terminando de arrumar meu cilindro e meu pai estava me esperando para irmos a escola. Papai mudou bastante desde a notícia, estava mais atento e mais amoroso, ele nunca tinha sido assim antes, e eu gosto disso. Ele dá mais atenção a mim e a minha irmã, então isso é bom.
Ele mandou a gente colocar o cinto e fomos. Primeiro minha irmã, ela me disse para tomar cuidado, e logo depois acenou dando tchau. Sua escola não é a mesma que a minha. 

- Qualquer coisa você já sabe, me liga que eu volto correndo, você sabe que eu não trabalho muito longe. - ele falou me olhando ainda dentro do carro.

- Eu vou ficar bem pai. - dei-lhe um beijo na bochecha para confortá-lo e sai do carro.

Eu não queria dizer isso a ele, mas estava nervosa sobre hoje, então respirei fundo e andei até o portão de entrada.
Assim que entrei na escola eu percebi muitos olhares, e isso me deixou envergonhada. Quando cheguei na sala e me sentei, não tive nem 5 minutos de paz. "Amigos", conhecidos, e pessoas que eu nunca tinha falado antes, me perguntaram sobre o que estava acontecendo comigo, e eu disse que depois do intervalo eu diria a todos, e eles concordaram de alguma forma.
As aulas foram praticamente todas iguais, o que era estressante um pouco.
Quando o sinal bateu para o intervalo meu coração começou a acelerar, eu andava devagar puxando o cilindro e muitos olhares a minha volta. Avistei Tay, minha melhor amiga, ela estava sentada no mesmo lugar de sempre, assim que a vi ela abriu um sorriso enorme, e depois do nada  o sorriso foi sumindo aos poucos quando cheguei mais perto. Foi quando ela viu a canula em meu nariz, eu abaixei a cabeça e continuei andando. Ela me abraçou forte e ficou me olhando por um tempo.

- O que é isso? - ela perguntou com a voz baixa.

- O nome é cilindro - olhei pra ele - e isso - apontei para o nariz - se chama canula.

- Quero saber o que aconteceu. - ela me encarou preocupada.

Me sentei ao lado dela e começei do início, de como tudo aconteceu. Enquanto explicava eu vi um grande amigo olhar fixamente para mim, ele se chamava Myke. Ele sabia sobre o câncer, e estava me olhando por muito tempo, talvez ele queria saber em como as coisas estavam.
Contei tudo para a Tainy e ela queria chorar. Ela disse que não queria me perder e eu só pude abraçá-la. E enquanto eu a abraçava, eu olhei ao redor e agradeci por ter pouca gente ao nosso lado.
Quando as coisas estavam mais calmas, eu deixei com que ela experimentasse a canula.

- Faz cócegas. - ela disse rindo.

- Faz sim. - sorri.

Expliquei para os meus "amigos" na sala e eles ficaram "chocados" como disse um deles. Eu voltei para casa no carro do papai e dei uma carrona a Tay. Conversei melhor com ela e respondi todas as suas perguntas.

Quando cheguei em casa fui direto ao banho, está muito calor hoje em São Paulo, o que não faz muito sentido pois estamos em agosto.

Sempre me perguntei em como seria se pudéssemos fazer o que quisermos, sem restrições, sem regras. Eu imagino um mundo melhor as vezes, imagino que todos nós deveríamos amar até nosso sangue secar. Também sinto medo às vezes, sinto que não tenho mais tanto tempo.

Tudo está indo tão bem.


Meu pulmão resolveu parar de fazer o trabalho dele esta noite. As exatamente 3:35 da manhã eu estava em uma cama de hospital com um oxigênio agoniante no nariz, porém ótimo para os pulmões.
Eu não sabia o que estava acontecendo, eu só sentia sono demais para pensar. E ele estava lá, me olhando com aqueles olhos verdes tão bonitos. Eu amo seus olhos verdes, disse, em voz baixa. Estiquei minha mão para tentar tocá-lo, mas talvez eu estivesse longe demais para isso.
















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Olá pequenos leitores.
Estou extremamente feliz por finalmente conseguir postar meu primeiro capítulo de H/V. Espero que apreciem. X
Todo o amor.

V

H/V -The Century Of Love. -VOnde histórias criam vida. Descubra agora