Capítulo 08 - Parentesco

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O meu coração pulava dentro do meu peito, eu não sabia o que pensar já que eu nunca havia visto aquele rapaz, e ele me olha de um jeito extremamente estranho, os seus olhos azuis como o amplo céu de Fairy City brilham através da luz que a lua e a luzes do jardim transmitem.

- De onde você me conhece? - engulo em seco me forçando a olhar em seus olhos.

- Precisamos conversar em um local mais privado - propõe ele e eu arregalo os olhos.

- Não - respondo sem pestanejar, me levantando - Eu mal te conheço.

- Por favor, eu só preciso de cinco minutos - ele agarra o meu braço me impedindo de passar pela porta da casa.

- Será que você pode me soltar por favor? - peço com a raiva nítida em minha voz, enquanto ele me solta passando as mãos em seus cabelos ruivos, parecendo bem aflito.

Por milésimos segundos um silêncio nos atinge enquanto eu o fito extremamente confusa. Eu não podia confiar no seres humanos - além de Daniel, óbvio - ele havia me pedido para não confiar em ninguém que ousasse falar comigo, e acho que por um lado ele está certo, mas aquele rapaz tem algo de estranho, ele me fazia lembrar de alguém que eu conheço muito bem.

- Porque eu tenho a impressão que conheço você de algum lugar? - indago sentindo as minhas mãos suarem.

- Porque você me conhece, apenas não se lembra - responde ele com um sorriso casto no rosto enquanto segura a minha mão - Eu sei que você é uma fada Analu.

Arregalo os olhos e sinto os pelos dos meus braços eriçarem, e a porta de entrada abre revelando um Daniel que nos olha confuso.

- Ta acontecendo alguma coisa? - indaga ele olhando mortalmente para o ruivo ao meu lado.

- Eu...

- Ta tudo bem Daniel, não precisa se preocupar - interrompo o rapaz sem pestanejar - Estamos apenas conversando.

- Tem certeza que ele não está te incomodando?

- Tenho, pode ir - peço e puxo o ruivo pelo braço o fazendo entrar na casa, enquanto deixo Daniel para trás completamente confuso.

A música aguda e agitada ecoa por todos os cômodos da sala, e vários jovens fantasiados dançam, bebem e se agarram em vários locais da casa, enquanto eu os observo de olhos arregalados. Eu jamais poderia presumir que os humanos costumam dar esses tipos de festa, é tão assustador, já que em meu mundo as festas - bem não são bem festas - são mais uns rituais parecido com o do meu aniversário, e também existe um pequeno estabelecimento em Fairy City onde diversas fadas os visitam para conversar e comer.

Empurro aquele cara pra dentro do meu quarto e tranco a porta com a chave, fazendo com que o barulho da música cessasse.

- Agora eu quero saber - pronuncio as palavras pausadamente enquanto me aproximo do ruivo que me olha com um sorriso torto no rosto - Quem é você? O que faz aqui? E como sabe o meu segredo? - disparo as perguntas e sinto o rubor em minhas bochechas.

- Calma - ele arregala os olho se sentando na beira da minha cama resfolegando - Eu me chamo Miguel - responde ignorando as minhas outras perguntas.

- Tudo bem, Miguel - digo dando ênfase em seu nome - O que faz aqui?

- O mesmo que você - ele arqueia as sobrancelhas - Vim pra festa do meu amigo - ele sorri sarcasticamente como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Você está brincando comigo não está? - o fusilo com o olhar dando alguns murros em seu braço - Você atrapalha a minha noite dizendo me conhecer e saber o meu segredo, agora desembucha.

Eu não costumo agir com grosseria, mas esse cara já está me tirando do sério. Eu não conseguia raciocinar direito, pois a simples afirmação de que ele sabe o meu segredo, poderia pôr toda a minha missão em perigo, e claro, a minha vida também. Eu não consigo entender como ele sabe que eu sou uma fada se sequer eu já o vi na vida, apesar de ele me fazer lembrar muito alguém.

- Eu preciso primeiro que se acalme - ele me puxa me fazendo sentar ao seu lado na cama e em seguida tira algo de seu bolso me entregando, e pude perceber que é uma foto a qual faz o meu coração disparar - Conhece esta mulher?

Os cabelos azuis e longos pendiam em seus ombros enquanto suas intensas órbitas azuis me fitam, o seu sorriso está largo, e por um momento sinto as lágrimas inundarem os meus olhos, e a imensa saudade que inutilmente eu tentava ignorar durante os dias, devasta o meu peito.

- É a minha mãe - respondo com dificuldade mais a minha voz está mais para um sussurro - Porque você tem uma foto dela Miguel?

Ele nada responde, apenas se joga em meus braços, me dando um longo e apertado abraço e noto que ele chora desesperadamente, o que me faz abraçá-lo de volta e em um impulso afago os seus cabelos, e ele olha em meus olhos tocando delicadamente em minha bochecha, como seu eu fosse um ser em extinção, e percebo que Miguel não parece triste e sim alegre, muito alegre. O que me deixa ainda mais confusa.

- Desculpa, eu não estou entendendo nada, será que...

- Você não sabe quanto tempo eu demorei te procurando - ele segura em minhas mãos como se a qualquer momento eu fosse fugir - E agora você está aqui na minha frente, me belisca, eu só posso estar sonhando.

O olho confusa não entendendo completamente nada do que ele está falando e abaixo a cabeça constrangida, e acho que ele deve ter percebido a confusão em meu semblante e segura o meu queixo o erguendo para olhá-lo.

- Me desculpa, sei o quanto deve estar confusa - ele sorri sem jeito - Deve está me achando um psicopata.

- Tudo bem - respondo, não ousando em perguntar o significado de "psicopata".

- Você vai entender tudo - ele afirma segurando a minha mão e me puxando em direção ao enorme espelho do quarto, nos colocando lado a lado enquanto observamos atentos a nossa imagem - Viu a semelhança?

Engulo em seco olhando para o meu rosto e para o dele, e devo confessar que há semelhança, aliás, muitas semelhanças. Os mesmos olhos azuis, o mesmo cabelo ruivo, o mesmo formato da bochecha e rosto, sem dizer que a nossa altura é a mesma.

Tá, isso já é bem assustador.

- Como isso é possível? - indago boquiaberta enquanto ainda fito a nossa imagem no espelho, encontrando mais semelhanças.

- Analu - ele segura as minhas duas mãos dando um leve aperto - Somos irmãos.

- I-irmãos? - arregalo os olhos não acreditando em suas palavras já que seria impossível, pois minha mãe não havia tido mas nenhum filho.

Ele assente.

- Sim Analu, irmãos gêmeos.

Suspiro e solto minhas mãos das suas enquanto sento na beira da cama completamente desnorteada, e um frio incômodo cerca o quarto fazendo os meus pelos eriçarem. As palavras de Miguel ecoam sem parar em minha mente fazendo a minha cabeça doer e repentinamente ouço três batidas na porta.

- Analu, está tudo bem? - a voz de Daniel invade o quarto e eu olho para Miguel que permanece parado ao lado do espelho.

Ai droga, isso não vai acabar bem.

A Magia do Amor (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora