Asphyxia

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Para deixar registrado esse momento que me recuso a crer, deixarei entalhado na madeira desse recipiente que me encontro com meus próprios dentes o meu total desespero.

Não há outra forma de fazer isso. Não tenho pincel muito menos um tinteiro, nem se quer conseguiria mover meus braços a altura de meus olhos.

O recipiente em questão assemelhasse e muito a uma espécie de caixão. Exceto pelo fato de ter sido enterrado de maneira vertical e ter dois palmos a mais de largura e diâmetro.

Acima de mim, uma espécie de conta-gotas ligado com um duto pelo lado de fora derrama cerca de vinte gotas por minuto que pingam em minha careca.

Isso é agonizante. Com o tempo, o eco do som das gotas pingando tem tomado proporções ensurdecedoras com o abafado ambiente que eu me encontro.

Tenho que ficar de pé em uma posição extremamente desconfortável, enquanto a água cai sobre mim e clamo por compaixão de meus inimigos.

Tremo de cansaço, frio e pânico.

Não sei quantos dias mais conseguirei ficar nessa situação. Nem se quer consigo dormir.

A essa altura, meu único entretenimento é ler essa mensagem que eu mesmo entalhei com meus dentes.

Sempre tive medo de perder meus entes queridos e confina-los em um caixão pelo resto do tempo até a putrefação.

Nunca me imaginei ser confinado em um caixão ainda vivo, pelo resto de tempo até o enlouquecimento.

Queria eu ser uma gota para cair na cabeça de alguém.


Camadas do Medo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora