Sabe a diferença entre um carro e um ônibus?
O número de pessoas que morrem no acidente.
Mas os números não importam quando o acidente envolve alguém que você ama.
Bem, não foi o meu caso, mas não deixa de ser algo minimamente interessante.
No meu caso, eu mesmo morri no acidente.
Então posso dizer que falo com você do além.
Gostaria que você não sentisse medo ou achasse isso um fato estranho.
Até porque, diferente do senso da maioria das pessoas vivas, nós espíritos vagantes somos inofensivos.
É normal ter medo do desconhecido.
Mas eu sou uma prova de que não foi o sobrenatural que me levou ao maior mal que enquanto vivo alguém pode sofrer: a morte.
E também, todos os outros mortos não foram ao óbito com causas sobrenaturais.
E sim, com coisas bem mais corriqueiras do que isso, e até mesmo mais simples do que a minha causa.
Tema o conhecido. Ou aquilo que você julga conhecer.
Quantas pessoas morrem todos os dias por acidentes de trabalho, de transito, assaltos, brigas de rua, ataques de pitbulls?
Ou então, quantos tem uma lenta e dolosa morte por doenças degenerativas ou aquelas repentinas, como derrame ou infarto?
Até mesmo eu, morto, temo apenas o conhecido, temo vocês, vivos.
Todos nós mortos tememos.
Por isso que alguns entre nós decidem assustá-los e perturbá-los durante a noite.
Vendo por esse lado, você deveria temer-nos sim.
Isso. Tema tudo. Tema até mesmo seus próprios pensamentos que o aterrorizam nesse ríspido momento.
E pensando bem, agora você já me conhece.
Boa noite.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Camadas do Medo II
HorrorOs fatos a seguir são frutos de uma mente conturbada e eu aconselho e estimulo que os sigam em todos os aspectos.