I used to be love drunk, now I'm hangover

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  Amar é como uma droga.

   No começo vem a sensação de euforia, de total entrega. Depois, no dia seguinte você quer mais. Ainda não se viciou, mas gostou da sensação e acha que pode mantê-la sob controle. Pensa na pessoa amada por dois minutos e esquece por três horas... 

                                                                                                                - Paulo Coelho

   A última tarde de Dezembro estava fria e era depreciada pela tempestade iminente e a inexorável falta do que fazer. Movido pelo tédio inquietante, conectei meu ipod em sua caixa de som, recém adquirida, aumentando o volume no máximo possível como se quisesse ouvir detalhadamente o som da banda inglesa, Oasis -uma das minhas favoritas-. Deitei-me em minha cama com as mãos atrás da cabeça fitando o teto e dando início a uma retrospectiva do último ano, trazendo de volta todas as crises internas sobre minha vida ultimamente.

   Havia um vazio ocupando cada canto da minha vida nos últimos meses. Não saberia explicar e sinceramente não me importava o quanto poderia parecer sentimental, até porque talvez todos fiquem sentimentais ouvindo Oasis, o que tornava toda a situação minimamente aceitável. E, como eu estava sozinho, o único julgamento do qual eu tinha que me preocupar era o meu. Já fazia um bom tempo que eu tentava preencher aquele vazio; não que tenha dado muito certo. Foram fortes ressacas nos sábados a tarde, o gosto desagradável de nicotina impregnado na minha boca (que por sinal não tinha surtido qualquer efeito em meu organismo), incontáveis noites prazerosas com garotas deliciosas das quais já nem me lembrava o nome e, no final, nada. Na manhã seguinte voltava a ser o mesmo cara vazio e solitário de sempre. 

"Você precisa é de uma namorada."

   O conselho da minha mãe ecoava na minha mente, me fazendo rir do quanto a ideia soava ridícula. Afinal, não conseguia entender como isso poderia me ajudar. Não que eu rejeitasse a ideia até a morte ou qualquer baboseira vinda de caras que pagam de comedor em festas, não era essa a questão, eu só não conhecia garotas que julgasse valer a pena. Na verdade eu conhecia uma, mas essa era uma questão para outra hora. Inserí-la em meus devaneios não costumava ser saudável.

   A verdade incontestável era que eu precisava de uma ocupação, algo que me distraísse. Já estava cansado das constantes crises existenciais atormentando meus pensamentos. Essa besteira me fazia parecer um viadinho. Apenas no final da playlist pude perceber quanto tempo havia perdido pensando em babaquices e que meu celular tocava pela milésima vez sobre minha mesinha de cabeceira. Tomei o aparelho em mãos o aproximando de meus olhos, no intuito de ver quem poderia ser. A princípio, tive meus olhos um pouco irritados pela claridade repentina. Assim que eles se acostumaram, pude ver que se trava de ninguém mais, ninguém menos que Thomas Fletcher, meu melhor amigo nas horas vagas e babaca qualificado em tempo integral.

- Fala, viado! - Thomas berrou assim que atendi, o que fez com que eu afastasse um pouco o aparelho do meu ouvido. - Posso saber o que estava fazendo de tão importante pra não me atender? - Indagou dessa vez em um tom consideravelmente mais baixo.

- Ouvindo música. - Respondi indiferente e sonolento, como já era de se esperar.

- Aham, sei. - Tom não me poupou de seu comentário maldoso e até mesmo infantil. - Sai desse quarto pra respirar, mano. Vai acabar morrendo de depressão ou de tuberculose. - Meu amigo ralhou do outro lado da linha e eu me surpreendi por ele saber que eu estava no quarto, mas Thomas fazia essas coisas estranhas as vezes. Só que já nos conhecíamos a tanto tempo que já estava acostumado demais para me dar ao trabalho de me assustar com suas bizarrices.

Another Love DrunkOnde histórias criam vida. Descubra agora