Heretic

II

Segunda-feira de manhã, 5 horas, tempo de acordar e ir trabalhar no manso senhorial. Era isso que as famílias Payne, Malik e Horan faziam no segundo dia da semana, e se repetia por mais um dia. Os outros quatro dias eram destinados ao trabalho na ''sua'' terra.

Apesar de ter que acordar tão cedo e trabalhar como verdadeiros animais durante o dia inteiro, Liam, Zayn e Niall gostavam da vida que tinham. Eram amigos, inseparáveis, deve-se ressaltar, desde o momento em que suas memórias conseguiam lembrar sem falhar. Os três moravam em casas próximas, no mesmo feudo, trabalhando para o mesmo Senhor.

Niall era o mais animado dentre os três, sorrindo em momentos em que, pensando-se bem, deveria estar chorando. A situação deles não era das melhores, como a de todos os outros camponeses. Viviam em casas próximas, separadas por cercas que delimitavam o seu espaço. Suas casas eram de madeira, e o telhado, de palha. O chão era de terra batida.

Os três, juntos com seus pais, vão para o manso. Há uma colheita de trigo iminente. Vêm trabalhando nisso há alguns dias. E, apesar do sono, da fome e do cansaço, os garotos carregavam sorrisos nos rostos, pois ficariam o dia inteiro juntos. O trabalho não era moleza, mas o fato de estar ao lado um do outro já era motivo de felicidade.

- Como foi a noite de vocês? –pergunta Niall, dando início a uma conversa, quando chegam.

- Foi ótima, tirando o fato de ter de dormir no chão. –diz Liam.

- Eu dormi como um bebê, abraçado com o Cat. –replica Niall.

- Você sempre é assim, e, a propósito, que nome interessante para um gato. Sua criatividade me impressiona. –responde Zayn, exalando sarcasmo.

- Esse nome é ótimo. Não me irrite. –fala Niall, dando um sorriso debochado para o garoto.

Zayn apenas revira os olhos e vai colhendo o trigo, esperando que eles continuassem a conversa, porque ele era o mais tímido, e não conseguia desenvolver um diálogo bem, então apenas os acompanhava. Liam olhava para ele enquanto fazia o seu trabalho, fazendo-o corar e olhar para os próprios pés, mas logo ignorando e continuando. Niall percebeu a cena, que não acontecia pela primeira vez, mas deixou pra lá, preferindo deixar para comentar sobre isso mais tarde.

- Ontem eu comi carne, e foi ótimo relembrar o sabor. Um dos melhores dias da minha vida. Era um pedaço pequeno e não matou a minha fome, mas mesmo assim. Teria chamado vocês se houvesse mais. Desculpe. –disse Niall.

Liam e Zayn deram um sorriso meigo e foram abraçar o amigo. Niall sentia muita fome, mas sempre quando dava, dividia seu alimento com os amigos. Era realmente uma amizade muito forte. Separaram-se e Liam disse:

- Comi o de sempre: pão e sopa. Gostaria de alguma fruta para variar, e por isso eu os convido para se juntar a mim e me ajudar a plantar morangos e uvas na horta da minha humilde casa.

Os garotos riram pelo tom que Liam usou, mas assentiram e acharam que seria um ótimo feito, apesar do esforço.

Liam era o mais velho, com quinze anos. Zayn tinha quatorze, e Niall, treze. Mesmo com as baixas idades, já trabalhavam quase como os seus pais. Entraram nessa rotina cedo, aos sete anos, idade em que crianças nobres estariam indo para a casa de um Senhor, para serem cavaleiros. Mas eles nasceram camponeses, e nessa vida iriam continuar, ao menos que um milagre acontecesse.

- Eu tive pesadelos noite passada. Estava pensando nas coisas que o padre disse na missa do domingo. A história dos monstros que se escondem nos lugares mais escuros me deu muito medo. Acho que continuarei com isso por alguns dias. –murmurou Zayn, tristemente.