- NÃO VOU. NÃO ME PODES OBRIGAR!
- Vai e acabou! – Grita a senhora de coque bem feito, saia justa e saltos mais altos do que o monte Evereste, mais conhecida por: a minha mãe.
- Quer dizer, são as férias do verão, a única oportunidade que tu me dás para sair com os meus amigos, e até essa oportunidade me queres tirar para ir lá para a caralholândia?
- Tento na língua menina, ou vai acabar por ir sem o seu telemóvel e computador.
Respiro fundo, aquela mulher dá comigo em doida. Tenho de manter a calma se quero pelo menos manter contato com os meus amigos.
- Mas mãe, não faz sentido, eu nunca falei com os meus avôs, nem sei quem eles são, ainda para mais eles nem devem saber falar português! Como é que me vou entender com eles?
Ela manda me um olhar irónico. Calma, respira Madalena.
- Para alguma coisa serve o seu inglês. Arranje-se e prepare as suas malas. Que menina ingrata, Deus do céu! – E sai a abanar mais as ancas que sei lá eu o quê. – LEVE OS SEUS LIVROS E ESTUDE!
Estou farta desta vida! Pego no meu estojo para emergências e começo a partir lápis. Cada lápis conta como cada lágrima que queria derramar e cada berro que queria mandar. Acho que vou ter de comprar lápis novos.
Percebe-se em que tipo de família em que estou. Aquele tipo de família que só existe em filmes. Mas, irónicamente, eu tenho 2 filmes num só: uma mãe distante, nariz empinado, só quer saber de dinheiro e de estudos e um pai distante, porém a melhor pessoa que conheço.
A minha mãe nem sequer quer saber se eu estou feliz ou triste, só quer saber se deixei algum exercício por fazer no teste, que "ai-você-para-o-ano-faz-faculdade-e-tem-que-ser-a-melhor". Lá por desenhar bem e até fazer umas roupas decentes, não quer dizer que tenha de ser a Raínha do Coração de Gelo. Enfim, o que fazer? A melhor escolha que tenho é fazer o que ela quer, tirar boas notas, fazer o meu curso, arranjar um trabalho e livrar me da mão dela para sempre.
Depois temos o meu pai, que está no exército há 5 anos. Sinto me triste por estar sempre fora de casa e ter tão pouco tempo para nós, acho que devia ser uma criança revoltada mas pelo contrário, estou muito grata pelo pai que tenho. Sempre que pode liga me a contar uma aventura nova e saber de algumas cusquisses aqui do bairro dos "famosos-ricos". O meu pai não está no exército por fama ou dinheiro, ele está lá porque sempre foi o que ele quis. Andou não sei quantos anos a praticar musculação (porque eu vi fotos dele em novo, e sejamos sinceros, ele era um frango!) para conseguir passar nos exames. A mãe ainda o tentou afastar da ideia e contratá-lo como alguma coisa lá na agência dela, mas nunca iria resultar. O meu pai nem sequer passa 5 minutos numa loja, quanto mais lidar com roupa todos os dias!
E por fim existo eu, a filha "egoísta e revoltada", que passa os dias no quarto a fingir que estuda muito. Honestamente, não é para ser convencida, mas não preciso de estudar muito para obter as notas que quero. Por um lado até é bom, a minha mãe cala se com as notas e eu ainda consigo me divertir dentro do que tenho lá no quarto. Pronto, nem tudo é mau: tenho computador e telemóvel para ir falando com os meus amigos (até ao dia em que a alucinada da minha mãe se lembre de me bloquear as redes sociais ou algo do género).
Coloco os fones e começo a ouvir Evanescence, com o volume baixo, é claro. Abro o facebook e deparo me com 0 notificações, 0 mensagens e 0 pedidos de amizade. Claro que não ia ter nada, a minha mãe tem me como amiga no Facebook e deve ir lá todos os dias ver o que é que posto e se estou online. Vou para a minha rede social predileta: Twitter. O único sítio que posso ser quem sou sem a minha mãe me estar a controlar.
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SEOGU - Um pesadelo
ФанфикSim, tudo cai. Até as lágrimas que eu estava a conter. Até o amor que sinto por ti. Até o desejo que tenho de te ter comigo, neste momento. E esses não caem, esses fazem um estrondo. Fazem tanto barulho que ocupam todos os meus pensamentos.