Nascimento

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Acordei.
Eu não sabia quem eu era, o que eu era, e aonde eu estava. Tudo que eu podia ver era branco, coisas brancas e fofas, e eu estava sentada em uma delas.
-Senhor, ela está pronta. - Uma voz atrás de mim falou, me fazendo virar e quase cair da coisa branca e macia
-Calma, pequena. - Uma voz um tanto calma e protetora me disse, me fazendo sentar novamente. Tentei falar. Não saiu nada. Como ele podia falar e eu não? - Eu sei. Você ainda não aprendeu a falar, mas vai, com um pouco de treino, e aprenderá a andar também. Quer saber por que está aqui?
Fiz que sim quase imediatamente, curiosa para saber meu propósito. Coisas castanhas balançaram na frente de meu rosto. O peguei com as mãos. Isto é meu? O que é isto?
- Isto se chama cabelo. - Uma pessoa se fez presente na minha frente. Bem, pessoa? Tinha umas coisas pretas atrás dele.
-Ela está aprendendo rápido. - A voz terna se fez presente novamente. Eu não conseguia ver de quem ela era, porque não tinha mais ninguém ali, mas ela me deixava com uma sensação boa, de paz, tranquilidade. Quase quis dormir novamente.
-Senhor, eu acho que ela tem algum defeito. - A pessoa em minha frente disse.
-Ela é perfeita. - Novamente, a voz tranquila disse, e senti como se uma mão carinhosa afagasse meus... Cabelos?! - Pode começar o treinamento com ela. Daqui a nove meses, seu protegido nascerá.
-Tudo bem. - A pessoa com coisas negras me pegou no colo, e senti que ela me levava para longe da voz terna. - Você vai precisar saber de duas coisas antes que comecemos o seu treinamento. Primeiro: Seu nome é Mavis. Segundo: Você é um anjo.

2 meses depois.

A minha parte favorita do dia era quando íamos observar os humanos.
Eu e meu amigo, Callum, íamos para a nuvem mais longínqua e nos escondíamos nela, para que Gabriel, nosso mentor, seus olhos verdes, seu cabelo castanho claro e suas grandes asas negras não nos achasse. Ele nunca tomava muito de seu tempo para cuidar de nós, pois não éramos os únicos anjos do treinamento. Tinha cerca de mais de um milhão de anjos para serem treinados, e Gabriel, sozinho, cuidava de mais de duzentos. Então, trabalho demais para um arcanjo só.
Callum e seus olhos castanhos escuros, seus cabelos da mesma cor e seu sorriso carinhoso tinham me cativado desde o primeiro dia de treinamento, pois quando a garotinha de cabelos castanhos e olhos azuis, junto de suas asas brancas, entrou na turma, ele já estava lá, e foi o primeiro a falar "Bem- Vinda", as únicas palavras que ele havia aprendido. Portanto, aprendemos a falar juntos. Ele era o anjo mais simpático que eu já tinha conhecido.
Callum também, como eu, tinha uma curiosidade enorme pelos humanos, tanta quanto a minha. Por isso, sempre que tínhamos a oportunidade de escapar de Gabriel, íamos observar os humanos. Não podíamos descer, claro, mas vê-los de longe já era uma coisa maravilhosa. Pequenas formiguinhas andando por cidades enormes, andando rápido e fazendo uma coisa que eu gostaria muito de poder fazer: Rir. Se sujando de chocolate, de terra. Tomando banho, as bolhas voando. Dormindo. Conversando.
Eles eram incríveis. Eu queria tanto ser como eles.
-Achei vocês. - Gabriel, voando acima de nós, nos fez gritar.
-Desculpa, senhor Gabriel, nós só somos curiosos. - Callum, já se desculpando, como sempre fazia, se levantou. Já mencionei que "Desculpa" foi a segunda palavra que ele aprendeu?
-Curiosidade é uma característica humana, Callum, você não deve ter isso, e muito menos você, Mavis. Curiosidade só traz dor ao mundo dos humanos. Veja. - Gabriel nos apontou uma mulher (devido à nossa visão avançada, podíamos vê-la). Ela estava sentada numa cadeira, com as mãos no rosto, os ombros encolhidos e mexendo. Chorando. - Esta mulher descobriu que o namorado a traia com outra, e foi curiosa demais a ponto de procurar se aquilo seria verdade ou não. Curiosidade a faz chorar por descobrir a verdade. Curiosidade fez Eva comer do fruto proibido e dar para Adão. Não devemos ter esse sentimento. Como vamos oferecer proteção se formos curiosos?
Olhei mais uma vez para a mulher que chorava, enquanto Callum assentia rapidamente, como um soldadinho obedecendo ordens.
Eu queria ser curiosa. Eu queria chorar.

3 meses depois.

Callum e eu havíamos nos tornado amigos de um anjo chamado Kian, que possuía olhos castanhos claros e cabelos pretos, e suas asas magnificamente pretas, e quase nunca falava com ninguém, sempre ficava em seu canto, aprendendo as lições em silencio como um ninja obscuro (aprendi essa palavra enquanto via um humano assistindo filme), e que havia chegado meses antes da gente. Mas desde que ele e Callum se tornaram amigos, Kian nunca maios ficou quieto, ele se tornou alegre (o que Gabriel reprovava em nós).
Nós três geralmente fugíamos para que pudéssemos rir, e atrapalhar outros anjos e arcanjos em seus afazeres. Mas erámos completamente dedicados a nosso treinamento, e por isso Gabriel não nos importunava tanto.
No entanto, Kian nos deixou cedo demais. Apenas duas semanas depois, no exato dia 12 de Janeiro, ele teve que partir, pois já haviam dado os seus nove meses. Ele havia chegado mesmo muito antes da gente e seu protegido havia nascido. Um menino.
Callum e eu ficamos então sozinhos novamente. Callum havia gostado muito de Kian.
Mas de alguma forma, eu sabia que íamos vê-lo novamente.

Hey Angel |N.H.Onde histórias criam vida. Descubra agora