- Você acha que se mudar de novo vai ajudar? - Bet pergunta.
-Eu não sei... Sinceramente eu não sei. Mas morar próximo de você, me vai da força.
- Pode contar comigo, eu sou sua irmã, Júlia. Estou aqui para isso.
- Obrigada, Bet.
As duas mulheres que já passaram da casa dos quarenta anos de idade conversam sentadas, na nova casa da Júlia Lampard. Ambas são bem semelhantes e quem não conhecesse poderia achar, na primeira impressão, que seriam irmãs gêmeas.
- E o Lúcio? As coisas estão melhores?
-Está mais calmo. Não aceitou muito se mudar para cá no começo, mas acho que é por causa do pai dele. Dessa vez mudamos para longe, não o comunicamos, trocamos os números dos celulares, ele não vai mais perturbar.
Bet parece ter desviado o olhar agora, se alienou um pouco da conversa, olhou para sua caneca antes cheia de café e agora vazia. Percorre a nova cozinha não muito grande de sua irmã, rapidamente com os olhos.
-Bet, Bet...
-Ah, desculpa. Eu tive um devaneio.
-Está bem?
-Sim, sim. Poderia me trazer mais café, por favor?
-Claro.
Júlia se levanta e vai até o balcão atrás de si. Pega o bule, o cheiro de café fresquinho lhe invade as narinas.
Bet começa a falar algo que talvez não falaria se soubesse que Lúcio está chegando perto, quase adentrando a cozinha.
-E seu filho? O que vai fazer com ele?
Beatriz é a mais nova, uns cinco anos, e por isso a mais mimada. Cabelo loiro alisado por chapinha, estilo chanel, na altura dos ombros. Pele branca como a neve. Sua face é um pouco mais redonda que a da irmã, as bochechas levemente avolumadas.
-Como assim? - pergunta Júlia, surpresa com a pergunta, enquanto termina de por o café para sua irmã.
Lúcio se esconde atrás da parede da cozinha, do lado direito da entrada, esperando ouvir o que sua tia vai falar.
-Ele já tem dezessete anos, vive enfurnado em casa. Têm duas passagens na polícia, arruma confusão na escola, direto. Você teve que se mudar três vezes por causa dele, quando ele vai tomar juízo?
Júlia não gosta do que ouve, sabe que sua irmã não "mede" as palavras, mas parece que agora ela passou dos limites. Volta, coloca a caneca na mesa e se senta.
-É assim que você vai me ajudar? Falando mal do meu filho?
No outro cômodo Lúcio se controla ao máximo para não partir pra cima da sua tia. As lembranças de quando era pequeno e ficava com Beatriz. "Apanhar por nada", pensava, "era uma injustiça". Quando Bet se mudou ele ficou que era só felicidade, mas são vizinhos de novo, "aquilo de novo não", Lúcio pensa, ela é uma "ratinha" perto dele agora.
Ele não percebe, mas seu rosto está vermelho de ódio. Aos poucos volta a se acalmar e se reconstituir, sair dos devaneios assassinos.
-Lúcio é na dele, brilhante na escola e não precisa tomar jeito.
-Está bem, não está mais aqui quem falou.
-Oi, mãe, oi, tia Bet.
Lúcio entra na cozinha subitamente, como se não estivesse escutado nada. Sua tia toma tamanho susto que bate com as pernas na mesa e derrama café em seu colo.
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Ortom - O Sangue Da Liberdade...
Horror#SimplesmenteEscreva #primeiras Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência. Está é uma obra publicada e registrada. Plágio é crime, seja original! Postarei um capítulo novo todas quartas-feiras e domingos. Com...