5 anos depois.
O jardim era colorido. A grama verde, flores coloridas, árvores altas, nenhuma nuvem no céu límpido e azul. O sol brilhava forte e o aroma de grama recém-cortada chegava aos meus pulmões.
TOC!
Sebastian, meu irmão gêmeo, se vangloriava com mais um troféu de suas corridas. Até Lexi estava lá.
TOC!
Ela estava deitada na grama, ao meu lado, sorrindo para o sol com seus fones de ouvido no último volume.
- Venham comer, crianças! - Minha mãe gritou anunciando o almoço.
TOC!
Todos entramos em casa para se deliciar com um almoço maravilhoso que minha mãe havia feito.
TOC!
Espere! Minha mãe não sabe cozinhar! E Sebastian não ganha uma corrida há... bem, há muito tempo... Quase há tanto tempo quanto eu não vejo Lexi.
TOC!
Sentei-me na cama com o coração acelerado. Era apenas um sonho. Esfreguei os olhos para me acostumar à pouca luz do quarto frio.
TOC!
O barulho vinha da porta de entrada do meu pequeno apartamento. Enrolei uma manta nos ombros e sai do quarto. Como eu já imaginava, estava vislumbrando Sebastian, meu irmão gêmeo, encostado no batente da porta.
- O que você esta fazendo aqui, Sebastian? - perguntei ainda sonolenta.
- Molly me deixou para fora do apartamento. De novo – revirei os olhos para ele - Será que posso dormir no seu sofá? - perguntou ele.
Abri ainda mais a porta e dei passagem à ele como resposta. Sebastian foi direto para o sofá, aconchegando-se com o travesseiro que ainda estava lá desde a última vez que sua namorada Molly o havia deixado trancado para fora do apartamento. Isso estava acontecendo cada vez com mais frequência, e se Sebastian não deixasse de ser um idiota logo, ele iria se mudar definitivamente para o meu sofá.
- O que aconteceu dessa vez? - perguntei indo em direção ao abajur já que ainda estávamos no escuro.
- Eu não fiz nada de errado, tudo bem? Estava indo muito bem na corrida, ia ganhar o terceiro lugar se o babaca do O'Connor não tivesse me empurrado para fora da pista.
Foi ai que eu entendi sobre o que ele estava falando, pois quando liguei o abajur, vi o rosto do meu irmão cheio de sangue, e um machucado enorme em sua testa, logo acima do olho direito.
- Eu estava perguntando sobre a Molly – eu o interrompi – Mas acho que já entendi porque ela não quis você dentro do apartamento.
Sebastian resmungou alguma coisa enquanto eu ia em direção ao banheiro buscar o kit de primeiros-socorros.
Sebastian tem vinte e um, mas a mentalidade de um menino de sete anos, e mais velho do que eu por apenas um minuto e quarenta e sete segundos – um detalhe que ele faz questão de lembrar sempre que pode. Participa de corrida de carros faz pelo menos seis anos e eu nem me lembro mais quando foi a última corrida que ele ganhou. Sebastian é um péssimo motorista. Mas ele não desiste, e faz isso principalmente pelo dinheiro.
Há dois anos e meio ele sofreu um acidente na pista, e desde então se tornou cada vez mais difícil ele sair de uma corrida com o carro intacto. Sebastian sempre tenta esconder de mim e de Molly quando ele sofre um acidente, mas quase nunca consegue.
- Ai! - gritou ele quando encostei no ferimento de sua testa. O ignorei e comecei a fazer o curativo.
- Molly viu você nesse estado? - perguntei.
- Não. Quando eu estava saindo para a corrida ela ameaçou me deixar para fora caso saísse de dentro do apartamento. Não achei que ela fosse mesmo fazer isso.
- Pare de agir como um idiota, Sebastian! Molly esta por um fio de perder a paciência com você, e quando isso acontecer ela vai te colocar para fora do apartamento definitivamente. E eu não estou nem um pouco afim de ter você dormindo no meu sofá para sempre.
- Dá um tempo, Kayla. Molly só está irritada porque não ganhei a última corrida. Ela vai me perdoar logo.
- Você não ganha uma corrida há muito tempo. Então trate de parar de ser um idiota e resolva as coisas com a Molly. Da próxima vez não deixarei você dormir no meu sofá.
Levantei quando terminei o curativo e fui em direção ao meu quarto, nem sabia que horas eram, mas estava tão casada que só queria me jogar na cama de novo.
- Ei, Kayla! – disse meu irmão antes de eu entrar no quarto e eu me virei para ele – Obrigada - eu sorri para Sebastian antes de fechar a porta do quarto.
No dia seguinte fui acordada por Sebastian abrindo as cortinas do meu quarto e pulando na minha cama. Puxei o lençol até cobrir o rosto, mas meu irmão logo o puxou para fora da cama.
- Hora de acordar, irmãzinha! - gritou ele.
- Me deixa em paz, Sebastian! Quero dormir! - disse ainda de olhos fechados procurando em vão as cobertas, mas elas já não estavam mais em cima da minha cama.
- Nós temos que ir, hoje é a corrida de classificação e eu não posso me atrasar. Nem você, até mesmo porque, a atração principal da corrida de hoje é o seu namorado.
Bufei com suas palavras. Sebastian tinha razão, hoje é o dia da maldita corrida de classificação, basicamente um show de adrenalina organizado por Pitt, o dono da pista. Durante o ano todo há corridas em sua pista, mas o verão é uma ocasião especial. Pitt diz que ele organiza esses eventos porque as pessoas precisam de algo para se ocupar, algo em que acreditar, e ele faz dos carros e seus pilotos esse "algo".
Hoje é a corrida de classificação, ou seja, todos os pilotos irão correr disputando um lugar no campeonato. Para Pitt, 'piloto' são todos aqueles idiotas que possuem carteira de habilitação, um carro, e um estúpido desejo de sentir a adrenalina estando à beira da morte. Meu irmão e meu namorado são apenas dois de muitos desses idiotas. E o campeonato da temporada é o evento mais importante da nossa pequena cidade no litoral do Texas. Motoristas texanos e de outros estados passam o verão aqui, somente para participar, ou assistir, o campeonato.
Todo o ano é a mesma coisa. Há a corrida de classificação, na qual os vinte e cinco pilotos que atravessarem a linha de chegada por primeiro, irão participar do campeonato. Durante a temporada ocorrem diversas corridas e em cada uma delas há um número de pilotos que vão sendo desclassificados, até que, no fim do verão, ocorre a grande corrida, na qual os dois melhores pilotos do campeonato vão disputar o prêmio.
Ah, é, há um prêmio para o idiota do piloto vencedor: 30 mil dólares. Quero dizer, o piloto vencedor irá ganhar este prêmio caso consiga chegar inteiro na linha de chegada.
- Molly estará lá? - perguntei levantando da cama.
- Espero que sim. Ela tem que ir. Ela não me deixaria na mão numa corrida dessas, deixaria? - Vi a dor nos olhos de Sebastian, ele ama aquela garota quase tanto quanto ama correr. Mas entendo o lado de Molly, não é fácil namorar um piloto, principalmente por não saber se ele irá voltar inteiro da próxima corrida.
- Bem, então saia daqui! Preciso me vestir! - eu o empurrei para fora do quarto e fui em direção ao armário.
Droga! Sebastian tem razão, hoje é a corrida de classificação e Jake é a atração principal, então é obvio que ele fará de mim, seu prêmio particular.
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Confie em Mim
RomanceKayla ainda está tentando se recuperar de seu passado traumático, mas com seu irmão irresponsável e seu namorado ciumento que sempre trazem à tona lembranças indesejadas, esquecer o passado torna-se muito difícil. Mas Kayla sempre conseguiu segurar...