Desci as escadas do condomínio e já no piso do primeiro andar conseguia avistar a vista da porta da rua.
O tempo não estava dos melhores (para alguns) mas eu, sendo uma preferência minha, gostava.
O céu estava com um toque acinzentado e uma mão cheia de nuvens. Daqui a alguns minutos poderia começar a chover e eu não trouxe guarda chuva. Bonito.
Talvez a Sara tenha trazido um a mais. Ela sabe que eu sou esquecida.Rente às paredes dos prédios, caminhava segurando a mala com mão esquerda e a pasta na mão direita, onde continha todas as minhas obras e outros rabiscos que escrevera apenas por escrever ou por não ter nada de que fazer.
Eu morava na Amadora, que se situava mais especificamente em Lisboa. A capital de Portugal.
Amadora era uma cidade movimentada. Principalmente de manhã, quando toda a população vai trabalhar ou para o colégio.
Ás vezes chega a ser difícil de andar aqui nos passeios das ruas...A pastelaria na qual eu e a Sara sempre tomavamos o pequeno almoço, ficava a cerca de uns 10 minutos do meu condomínio.
Antes da tal, existe uma, mais perto, mas eu não gostei.
Desde decoração a panificação, não gostei. Prefiro muito mais a Barca Doce, com uma enorme variedade de bolos e bebidas mais uma luxúria de decoração em tons de branco e dourado.------------------------------------------
- Bom dia Mariana. - Saudou Sandro, o empregado da receção. - A Sara está nas mesas do fundo à tua espera. - Informou, com um ar sorridente. Ele gostava do que estava a fazer ali.
Vinte e cinco anos e seis de experiência em hotelaria. Começou tudo aos 19. Sei a história toda mesmo não pretendendo sabê-la pois aquele homem tem um grande defeito: Nunca vai com um pé atrás naquilo que faz. Ele simplesmente faz e pronto.
Bem, digamos que ele confia logo nas pessoas. Conta logo a vida toda para as pessoas. Hoje em dia isso não é nada bom e eu já lhe disse isso. É a verdade nua e crua.Agradeci apenas assentindo com a cabeça e passei rente a ele com algum charme que eu própria sabia que tinha. Aliás, estamos numa pastelaria de classe, há que entrar com alguma classe.
Não demorou muito para ela reparar que eu estava ali. Começou a acenar como quem diz "Oi, estou aqui!".
Notei-a e logo me aproximei da mesa sentando-me numa cadeira branca quase meio translúcida.- Está aqui o livro. - Disse ela de mão estendida com o pretendido na mão, ao mesmo tempo que dava mordidas no pastel de nata acanelado. - Gostei muito. As personagens estão bem descritas e a história em si está bem escrita e interessante.
A propósito, gostei imenso do escritor e ouvi dizer que esse livro provém de mais edições, estou ansiosa por saber mais das obras dele!De puro facto, adoro a Sara, nunca vi pessoa mais inteligente que esta rapariga e é tão raro encontrar gente exemplar e formal quanto ela.
Pessoas ao meu nível agradam-me mas não posso faltar muito disso já que não vale sequer a pena.- Fico feliz por teres gostado. - Contestei sorridente.
Ela era a única pessoa na qual eu conseguia extrair um sorriso verdadeiro. - Não pagaste esta tarte pois não? Deus queira que não. Sabes que eu não gosto que me paguem nada.Em cima da mesa, ao lado da travessa de bolos, estava um pequeno prato com uma tarte de amêndoa, um dos meus doces favoritos.
A Sara não é muito apreciadora deste tipo de bolos então só poderia ser para mim.- Come à vontade. É para comermos descansadas enquanto conversamos.
Para acertar contas já basta os meus pais que só falam disso.Os pais da Sara são os dois empresários. Quanto à qualidade de vida, ela passa bastante bem.
Já eu, estou nem acima nem abaixo. Estou na média mas pouco me importo com o dinheiro. Sou mais de locais acolhedores e silenciosos onde possa desfrutar dos meus romances literários.Conversámos de diversos assuntos desse o nosso curso até a algumas coisas desinteressantes.
A nossa mesa situava-se ao pé da grande janela.
Esta tinha uma linda vista para a cidade movimentada pois a pastelaria tinha escadaria para o piso de cima, onde nós sempre ficávamos sentadas para ver a vista enquanto comíamos.Falando em vista, já se notavam os pingos de chuva e as gotas a escorrerem pela janela.
Se a Sara não trouxer um guarda chuva a mais, não sei como irei resolver a situação, e a chuva parece cair em grande quantidade...- Está a chover demasiado e eu não trouxe nenhum guardado chuva muito menos um impermeável...
Trouxeste um a mais? - Caso de vida ou de morte
(pronto talvez esteja a hiperbolizar um pouco).
Gosto de chuva, gosto de como cai, da raiva que trás consigo às vezes, mas, não gosto de a sentir, ela não tem de sentir raiva de mim.- Não, desculpa. - Respondeu suavemente mas com algum remorso reflectido na voz baixa.
- Está tudo bem. Não seria a primeira vez mas seria uma das poucas vezes.
Ambas arrastámos as cadeiras e nos levantámos, vestindo os casacos, luvas, cachecóis. Colocando as malas ao ombro, as pastas na mão e ajeitando os cabelos longos que tanto eu como ela possuíamos.
Quando descemos as escadas, a Sara ficou pela casa de banho, mas eu, já perto da saída, deparei me com uma multidão de rapazes à minha frente, que sem se aperceberem, estavam a impedir a minha passagem para a saída.
"- Então, estás com medo? O gato comeu-te a língua?
- Eu parto-te todo filho da puta."É provavelmente um confronto entre adolescentes.
Decidi afastar-me e sentar-me numa das mesas da esplanada. Bem lá do fundo.
Alguém deve parar esta discussão, por exemplo o gerente ou até um cliente. As pessoas têm pressa.
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Pecado
RomanceUma história para treinar a escrita. Já a tinha em mente há algum tempo. ---- Mariana Sousa, com 15 anos espetados na pálida face. Um extremo nojo de meninos, difícil de socializar com ambos os sexos. Demasiado complexa, tímida e seria. Literatur...