Acordei com luzes brancas me cegando. Pisquei várias vezes até conseguir abrir os olhos e ver um tubo de soro enfiado na minha veia. Um som suave de batimentos cardíacos sendo monitorados ecoava pelo meu ouvido esquerdo e ao tentar me sentar senti meu abdome doer como se alguém o tivesse socado várias e várias vezes até esmagar todos os órgãos. Minha cabeça latejava, e eu já sabia o porquê, na verdade, o fato de eu estar num hospital já me dizia que eu havia passado dos limites dessa vez.
- Ela acordou. – ouvi uma voz feminina dizer. Olhei para um sofá verde que havia no quarto e lá estava meu padrasto literalmente esparramado. Minha mãe estava sentada numa poltrona ao lado da minha cama, tinha sua bolsa chique no colo e um lenço de papel entre os dedos.
- O que houve? – o som saiu da minha boca mais baixo do que eu esperava, tentei pigarrear e senti minha garganta arder como o inferno.
- Como você está? – Minha mãe mantinha seu tom suave e severo como sempre, mas o rímel escorrido no canto do olho a denunciava.
- Horrível. O que houve? – fui curta e grossa, minha cabeça começou a girar ao tentar lembrar como eu havia parado ali.
- Você saiu de casa tarde como sempre, e só fomos descobrir onde, como e com quem você estava quando nos ligaram às 4 da manhã dizendo que você tinha desmaiado no chão de um banheiro e não acordava mais.
- Certo, agora me lembro vagamente. – Meus amigos passaram me pegar. Fomos a uma festa. Bebi alguns shots. Beijei um cara. Bebi. Dancei. Bebi. Fumei. Bebi. Isso é tudo que me lembro.
- Você passou dos limites.
- Eu tô bem. – disse despreocupada, tentando tirar aquelas coisas do meu braço.
- Não, você não está. – Ignorei. – Você está me ouvindo? – ela segurou firme meu rosto e o virou para ela. – Você sai de casa toda semana e chega de madrugada, não sabemos o que faz, com quem, nem onde está! – ela berrava – bebe como uma alcoólatra, desmaia no banheiro de um estranho, tem uma overdose e só sabemos o que está acontecendo quando acordamos com uma ligação no meio da noite dizendo que você está no hospital fazendo uma lavagem no estômago!
Uma enfermeira abriu a porta do quarto.
- Senhora, estamos em um hospital! Precisamos de silêncio, tem pacientes que precisam descansar aqui. – não sei como, mas ela disse isso num tom calmo, baixo e ríspido ao mesmo tempo. Minha mãe soltou meu rosto.
- Desculpe. – Assim que a porta se fechou, ela se voltou para mim novamente. – Você vai passar esse verão na casa de praia. – Não protestei. Estava derrotada demais para isso. Ela se levantou, pegando sua bolsa para ir embora.
- Olha, não acho que seja uma boa, querida. – Meu padrasto decidiu se manifestar.
- Vai ser. – Minha mãe disse parada no meio do quarto.
- Mas... – o semblante preocupado de Ben dizia que ele não queria mesmo que eu fosse para Seal Rocks.
- Faz muito tempo que ela não vai para lá, vai ser bom sair de perto das pessoas dessa cidade. – Finalizou a conversa colocando seus óculos escuros e saindo. Ben, como sempre, acenou para mim e a seguiu.
Não fui contra, não chorei, não briguei, não fiz nada. Só fiquei parada, olhando para mim mesma. Meu Deus! Como cheguei a isso?
[...]
Coloquei minhas malas em cima da cama. A casa da praia que tínhamos era enorme, desci as escadas, morta de fome, mas comecei a andar pela sala ao invés de ir direto para a cozinha. Faziam 2 anos que eu não vinha para cá. Costumava vir todo os verões, desde que nasci. Cresci com esse lugar, o conheço dos pés a cabeça, mas sem ele era como se tudo fosse diferente. Percebi que não havia mais fotos dele, nem objetos, nem nada. Tudo que poderia nos fazer lembrar dele foi tirado de lá. Senti meu sangue ferver nas minhas veias.
- O que você fez com as coisas dele? – entrei sem bater na porta do escritório, sentindo meus olhos cheios de lagrimas e raiva.
- Ei! – Minha mãe me olhou indignada – Onde está a educação que eu te dei?
- Cadê as coisas dele? – tentei controlar meu tom de voz.
- Do que você está falando? – Ela perguntou sínica, como se não soubesse do que eu estava falando.
- Você se livrou de tudo que era dele. – disse com nojo.
- Para a sua informação – ela fez uma pausa, enquanto arrumava uma papelada em sua mesa - está tudo na garagem. Pode ir conferir. – ela disse sem nem olhar para mim. Já estava saindo do escritório quando ela me chamou.
- Summer? – Agora ela se deu ao trabalho de me fuzilar com os olhos. – Da próxima vez é melhor você mudar esse tom de voz antes de vir falar comigo.
Saí sem olhar para trás, direto para a garagem. Estava tudo lá, empilhado em caixas de papelão, algumas coisas jogadas por aqui e ali, tudo com uma camada bem fina de pó por cima. A primeira coisa que peguei foi um porta-retratos que estava numa das caixas abertas. Tinha "O melhor pai do mundo" escrito nele, e no centro uma grande foto minha e dele quando eu tinha 9 anos. Eu me lembro muito bem desse dia Passei os dedos para tirar a poeira e vi uma lágrima cair no vidro.
Subi rapidamente até meu quarto e coloquei o porta-retratos na mesinha ao lado da cama. Aquele baixo astral iria acabar me consumindo se eu continuasse ali. Peguei dentro do closet minha prancha antiga, branca, enorme, com uma única listra vermelha na vertical, e decidi fazer algo que há muito tempo não fazia e sentia uma falta gigantesca de fazer, surfar!
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Summertime ❁ Justin Bieber
FanfictionEu costumava passar todos os verões em Seal Rocks. Amava esse lugar e não o trocaria por nenhum outro no mundo, mas depois do acidente jurei nunca mais colocar os pés aqui. Para qualquer lado que eu olhasse, só o que conseguia enxergar era um grande...