Prólogo

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É difícil imaginar como seriam as coisas se mamãe estivesse aqui, eu não gosto de pensar nela, não que eu não queira, na verdade, dói.
Mas hoje, foi meio que inevitável.

Eu não sou do tipo que curte rotina, talvez por que minha vida inteira tenha sido uma, nada surprendente, sempre a mesma coisa sem vida, e emoção, não tenho grandes histórias pra contar, não sou nerd, nem popular, não me enquadro no grupo dos skatistas, nem dos adolescentes rebeldes, não curto erva (se é que me entendem, Oh sim! maconha).
Nada contra sabe?! Só não curto mesmo.

Não entendo de moda, não curto maquiagem, e muito menos fotografias, não tenho redes sociais e não ligo muito pra celular, pois é! Não me enquadro em grupo algum, se é que pôde-se chamar assim.

Eu sempre tive a sensação de que todos a minha volta sabiam quem eram, e estavam onde deveriam estar, ou talvez onde gostariam de estar, mas eu? Bom, eu nunca achei meu lugar.
Talvez eu faça parte da área dos auto exilados, enfim, sou só uma adolescente sem graça, que usa o mesmo all star em todos os eventos, calça jeans e moletom, de preferêcia com toca, assim cubro a minha cabeça, não gosto de chamar a atenção, na verdade eu gosto mesmo é de ficar na minha, sem papo.

  Convivo dia após dia com sensação de estar aqui por engano, sei lá, talvez eu seja uma esquisita nível hard ou são só meus hormônios adolescentes gritando. Apesar dos meus esforços para curtir meu auto exílio eu não consegui me livrar de duas pegajosas amigas, ou melhor; melhores amigas. Por algum motivo que eu não sei, nossa amizade sobreviveu ao longo da minha vidinha. Sandy e Marvi não são como eu, elas são garotas normais, que fazem coisas de garotas normais, elas vão às compras, ao salão, paqueram e adoram redes sociais. Bem diferente de mim, parece até mentira que garotas como elas tenham convívio com alguém como eu, elas me aceitam da forma que eu sou, claro que elas já tentaram por repetitivas vezes me transformar, me enquadrar, me tornar em uma delas, não que isso seja ruim, a verdade é que qualquer garota sonharia em ser como elas, super populares, bonitas e com muito senso de moda, mas como eu já disse; não sou muito normal, porém isso não nos impediu de sermos o trio perfeito, definitivamente elas são as melhores amigas que eu poderia ter.

Nos conhecemos na terceira série e nunca mais nos separamos, eu cresci sem uma figura feminina pra me espelhar, minha mãe se foi muito cedo, eu tinha apenas quatro anos quando ela e Rayane morreram em um acidente de carro, desde então sempre foi meu pai e eu, talvez essa seja a grande razão por eu ser assim (uma pessoa com grandes conflitos internos), eu nunca tive muito tempo e nem ânimo para coisas de garotas, estava ocupada demais navegando no meu sub mundo, não tive tias que eu pudesse contar, nem primas, nem avós, eu nunca soube o motivo real da exclusão do meu pai e eu com toda a família, e também nunca procurei saber, de qualquer modo foi melhor assim. Sandy e Marvi me ajudaram com o buraco que ficou com a ausência de minha mãe, minha irmã, e minha família, elas sempre tentaram me por pra cima, mas isso nunca foi uma tarefa fácil, vou sentir saudades das minhas melhores amigas, não vou vê-las frequentemente, e não terei mais elas entrando no meu quarto e invadindo minha privacidade, agora serei apenas eu e eu, não sou de falar muito, e talvez não consiga fazer nenhuma amizade no novo colégio, é tenso imaginar um ano inteiro sem nenhum amigo, no Brasil as coisas não eram fáceis, mas pelo menos lá eu tinha elas e agora aqui não tenho ninguém.
Quero dizer nenhum amigo, por que ainda tenho meu pai.

Não posso negar que sinto falta de ter uma mãe, porém meu pai tem sido muito bom pra mim. Ele se esforça muito pra me ver bem. Às vezes eu queria que ele relaxasse um pouco e se preocupasse menos comigo. Desde que minha mãe e irmã partiram ele vive pra mim, gostaria de vê-lo vivendo pra ele. Eu nunca o vi com uma namorada, nunca o vi curtir um momento só dele, ele ainda é jovem, bonito e bem sucedido, eu realmente gostaria de ver isso. Mas apesar de eu ser uma garota pouco ativa, existe algo que eu adoro e que me distrai muito, arco e flecha. Minha mãe gostava e quase foi pras olimpíadas, atirar era o que me mantinha mais próximo a ela.

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