Capítulo 2

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As imagens do dia do meu nascimento me invadem em sonhos, me fazem despertar durante a noite, me enchem de medo e, ao mesmo tempo, de uma alegria tremenda. Assustadora. Me seduzem as imagens  das águas arrastando tudo e todos.

Não existe noite de sono tranquilo desde que nasci

Sexta vai fazer dezoito anos que isso aconteceu. Dezoito anos também que meu pai morreu. Um pai que numca pode me pegar no colo, me fazer carinho, me ver crescer. Ele só vem em sonho. Assim como aquele noite de águas e de choro. Ele vem, me sorri, me olha com olhos azuis, iguais aos meus, fala coisas que eu não consigo ouvir, perece que meus ouvidos estão lacrados, sei que ele me diz algo importante, sei que o som de suas palavras chegam até mim, mas não entra em meus ouvidos. Estou blindada ao que ele quer me dizer. E acordo desesperada, e tento adivinhar sua fala e procuro ler seus lábios, e nada. Só o silêncio e a angústia dos olhos dele ao perceber que não o escuto

Não escuto.

Não escuto.

Não.

Meu pai morreu num acidente de carro naquela noite de temporal horrível, quando corria para casa para ver a filha que nascia: eu. E, por causa da chuva ( e por minha causa também), carro bateu num poste e pegou fogo, virou fogueira e meu pai la dentro, preso as ferragens, para sempre levando com ele o afago que ne trazia e que nunca pode me dar. O meu primeiro afago.

Talvez, por isso (Mais por isso, acho, que pela ausência da minha mãe), eu sempre me sinto uma turista nesse mundo, meio alienígena em tudo que faço. Me sinto diferente, torta, estranha. Não é atoa que Dimas eo Werner Wener, aqueles idiotas, vivem me chamando de a estranha. Não revido, sei que sou mesmo. Pelo menos e assim que me sinto: estranha.

Só a Érica, eo Zac não me veem assim. Devem ser cegos, ou tão estranhos quanto eu. Sei lá.Érica e minha melhor amiga, alta de cabelos curtos e loiros, olhos castanhas claros e tem dezessete anos ( só alguns meses más nova  que eu) é eo tipo de menina que ta sempre ao seu lado com um lance e um ombro amigo quando se mas precisa . Zac também é alto, tem o corpo malhado, olhos verdes, encandecente, e cabelos estilo (Justin Bieber) também é meu melhor amigo, tem dezenove anos. Zac e muito brincalhão e sempre se mete em encrencas, por exagerar um pouco, e joga futebol. Nós dois estudamos na mesma sala, e era esta a um ano abaixo de nos, pelo fato de ser mas nova e ter repetido de ano

Já deixei de tentar me entender, de saber o porquê de minha mãe ser tão distante de mim, de só  aparecer pra me ver uma vez por ano.

Houve um tempo em que eu cheguei a acreditar que ela não me amava, porque matei meu pai. Hoje já não penso assim. Mas também  Não sei o que penso, ou deva pensar, sobre as atitudes dela. Não é comum uma mãe largar a filha recem-nascida com sua tia-avó e sumir da vida dela. Foi isso que Alice fez

Mas sexta-feira vou fazer dezoito anos. E, agora, o vento uiva lá fora, faz frio. Bastante frio. Por isso prefiro ficar aqui, presa no quarto, apesar de, há pouco, a Érica ter me ligado pra convidar pra uma noite la na casa dela. Vão o Zac a Penny Lane, e a Irene.

- E o Daniel?- perguntei

- O Daniel disse que não pode- Daniel e tipo o cara mas gato da escola, Moreno alto, cabelos lisos, de pequeno corte, olhos cor de Mel, tem vinte anos, dizem que ele repitiu de ano umas três vezes ou mais, joga no mesmo time que o Zac, ( é estão à more brigando, pela qual o motivo não sabemos). E um verdadeiro Deus Grego.

Sou apaixonada por ele desde a entrada no Ensino Médio, mas por ele ser muito popular vive arrodeado de meninas e nem deve saber que eu existo.

  - Ah- suspirei, meio sem sem saber direito o que dizer

- você vem?- insistiu

-Ah, não sei. Talvez.

Não fui.

Eles devem estar lá, rindo e jogando imagem e ação. E eu aqui na cama, com fones de ouvido, escutando, numb, (da banda Linkin Park). Eu, o Puquerel, Linkin Park e Augusto dos Anjos. Gosto dos poemas dele. As vezes, acho que ele se sentia como eu me sinto: Uma estrangeira num mundo que não se entende.

Mas sexta- feira faço, dezoito anos

Sexta-feira, exatamente as 13hs,  um leve toque de dedos na porta ( ela jamais ia a campainha parece temer o ruído estridente, parece adora a descrição), Alice chegará. Rotina que se repete todo ano. Único dia, em que minha mãe vem me ver. Há vezes em que sinto vontade de fugir, só para não precisar dar um "oi" pra Alice, só para não precisar receber um abraço sem afeto de Alice, so para não ter que dizer um "Obrigado" quando ela me estende algum presentinho. E se ela chegasse e eu não estivesse aqui? Será que iria note a minha ausência? Duvido. Acho que ela apenas cumpre uma tarefa. Aliás, nem sei por que cumpre tão rotinateiramente essa obrigação de ser mãe que nunca foi. Não sei. E acho que nem quero mesmo saber. Nunca falei com tia Ana sobre isdo. Oque a Alice pensa ou deixa de pensar pouco me importa. Não preciso da migalha de carinho que ela oferece.

Quer dizer.

Preciso sim. Pra mim mesma não preciso mentir.

Por isso, não fujo. Por isso, fico esperando que ela vara na porta com os nós dos dedos magros ( ela é muito magra) e que ela ne abraça e diga com aquela voz macia (ela tem uma voz doce envolvente): " feliz aniversário, Tori".  Depois a sorri pra tia Ana, abraca-a com uma força maior do que toca em em mim e pergunta se ando aprontando muito. "Ah, Tori você está uma mocinha", ela diz em seis olhos castanhos ( ela tem olhos muito pretos) cruzam com os da tia. Ambas sorriem. Parece que a um código secreto de olhares entre elas. Código a que eu ainda não tenho acesso. Ainda

A verdade e que a presenca da Alice me atrai, não me deixa fugir, não deixa que eu me esconda na casa da Erica, do Zac, ou sei lá de quem. Fico sempre esperando que seja diferente, que ela me abrace forte, que me de colo dê mãe, que me fale de sua vida, por aonde ela anda, o que faz

Mas não

Alice é fria, convencional. Mais pergunta pela minha vida do que fala da sua. Misteriosa sempre. Algo esconde atrás daqueles olhos negros de cílios longos. A pele muito branca ( como a minha) é mascara de gelo. Nada transmite nada entrega. Talvez eu tenha sido apenas um acidente em sua vida, alguém não desejado que, de repente, apareceu, para pertubar seus planos

O que acho mais lindo em minha mãe mãe são os longos cabelos dela ( ela tem cabelos muito lisos, muito negros, que lhe caem pelas costas feito véu). Meus cabelos são ondulados. Escuros longos, como os dela, mas ondulados como os de meu pai.

Me mexo na cama. Puquerel se enrosca em meus pés. Ronrona. Por vez, acho que ele não é apenas um gato Preto que eu ganhei da tia Ana quando fiz oito anos. E mais. Não se bem o que. Mas é mais.

Bom, essa sou eu: Victoria, uma adolescente que vai fazer dezoito anos, de um metro e setenta magra, mas corpuda ( não igual a Alice), que é extremamente rica, mas não desfruta da fortuna . Órfã de pai. Órfã de mãe viva. A estranha do colégio. Aquele que odeia os cabelos lisos e loiros de Janine. Aquela que ama o Daniel. Aquela que só tem dois amigos: o Zac e a Érica.  Aquela que tem uma tia-avó que ama e um gato que a protege. Eu disse isso? Um gato que a protege? Após o os pós de Puquerel e me pergunto se e esse o algo mais.

Amanhã, domingo. Se não chover, acho que convido a Érica para vir aqui, ou vou na casa dela. Apesar da mãe dela. Uma mulherzinha Mérida a besta. Cheia de ordens. A gente não pode não pode fechar a porta do quarto, não  pode coner no quarto, não pode por os pés no sofá, não pode deixar coisas espalahada pela sala, não pode esquecer pontas de farelos de borracha sobre a mesa ou sobre o tapete. Enfim, uma chata

Já tia Ana não liga pra essas coisas (ela limpa tudo em um passa de mágica, não entendo como faz tão rápido sem ajuda, mas não questiono)

E Alice ligaria? Acho que eu até preferiria ter uma mãe chata como a da Erica, enchendo minha paciência o dia todo, do que ter a Alice, que só aparece uma vez a casa 365 dias.

Sinto uma ardência no braço, olho a mancha. Ela está avermelhada.

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A Filha Das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora