Capítulo 1

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Pessoas a correr passam por mim enquanto estou parada a ver aquele espaço do outro lado da rua, um café que me traz muitas memórias. 

Memórias das quais, a maior parte são de dias cansativos, café atrás de café, sempre sem parar. Agora são apenas memórias que já não vivo.

Duas razões para agora não viver a mesma rotina de há dois meses atrás. 

Primeira, fui despedida. Não por fazer um mau trabalho, nem por chegar tarde nem nada. Apenas porque há dois meses atrás aquele, apesar de ser o café onde trabalhava, era o meu local favorito para passar as minhas tardes com o meu namorado, e um dia ele apenas chegou ao pé de mim numa das nossas tardes naquele local "perfeito"e disse que queria acabar tudo comigo. 

Depois disso o meu desempenho foi-se abaixo. O meu patrão não estava a gostar pois ele queria que tudo corresse na perfeição, por isso despediu-me, não só para o bem do seu negócio mas também para mim.

A segunda razão, bem já disse tudo, acho que afinal só há uma razão e essa razão chama-se Jonathan. Eu não gosto de dizer que ele tenha sido a razão pela qual fui despedida, porque até foi bom para mim, comecei uma "vida do zero". Estou a continuar os meus estudos em dança, o que sempre sonhei, por isso não vou considerar o Jonathan o culpado por ter quebrado daquela rotina melancólica.

Dois meses depois estou aqui especada a olhar para o meu café preferido, a perguntar-me se devo ou não entrar. Não sei mesmo o que fazer, quero entrar porque tenho saudades daquele cheiro imundo a café, mas poder encontrar o Jonathan com outra pessoa não está no topo da minha lista. Vou mas é esquecer esta ideia! Não vai fazer diferença se entrar ou não, certo? Possivelmente irei encontrar novos trabalhadores, novos clientes e não muito mais. Afinal de contas é só um café.

Nesta minha confusão de pensamentos, olho para o lado e consigo vê-lo. Não acredito nisto, fiz tudo por tudo para tentar não o encontrar, mas aqui está ele; a seguir directamente para a porta do café.

Meu deus como continua a ser o rapaz perfeito que me lembrava.

Tenho que confessar que sinto saudades dele, aquelas tardes passadas naquele café na nossa mesa são inesquecíveis. Ainda me lembro dos vídeos e dos textos cómicos que ele me mostrava só para me conseguir fazer rir quando estava de mau humor; do seu riso quando reparava na minha cara de "tentar não rir" mas, no final tinha que rir porque não conseguia conter para mim. Os vídeos que ele mostrava não tinham jeito nenhum, eram apenas palermices, mas eu gostava porque sempre me faziam rir, os clientes à nossa volta sempre a queixarem-se por fazermos demasiado barulho, já era uma rotina ouvir aqueles"shhhh!" porque fazíamos sempre o mesmo, mas havia aquelas pessoas que já nos conheciam, e que não se importavam com isso. Lembro-me que numa tarde de domingo estávamos a ver uns vídeos de gatos e cães e uma senhora, que já nos tinha visto várias vezes naquele mesmo lugar, sentou-se na nossa mesa e começou a comentar os vídeos e a contar histórias hilariantes que aconteceram com os seus gatos. Foi uma das melhores tardes que passámos juntos.

Agora, aqui estou eu a lembrar-me de todos os momentos que passei com aquele que me destroçou o coração. Eu já me conheço bem, não consigo ficar aqui sem entrar naquele café, por isso pego no meu telemóvel e ligo para a minha melhor amiga. Se vou entrar, não vou entrar sozinha.

Telefono à Riley duas vezes e ela não atende. Mas que raio anda ela a fazer.

À terceira tentativa, atende depois do segundo toque e digo:

- Mas que raio, não atendeste a minha primeira chamada porquê?

- Olá para ti também. Oh, desculpa é que eu tenho uma vida para além de estar sempre contigo.

- Está bem, eu perdoo-te. Agora tens de vir ter comigo o mais rápido possível.

- Porquê? Em que sarilhos te meteste, rapariga? - Diz isto como se eu fosse uma rapariga muito problemática, como sempre o faz.

- Não, não estou em sarilho nenhum. - Fico um pouco hesitante por lhe dizer o motivo, mas é a minha melhor amiga, ela vai compreender - Estou à frente do "Coffee Star" e acabei de ver o Jonathan a entrar.  - Depois de dizer isto começo a sentir a minha cara a aquecer.

- Ahh, já percebi, tu queres espia-lo. - Diz-me isto entre risos, fazendo com que a minha cara fique ainda mais vermelha e quente.

- Não é nada disso. - Infelizmente a minha voz fraca denuncia-me.

- Claro que não é. Apenas queres entrar no café só porque sim, depois de teres dito que nunca mais querias voltar a entrar nele.

- Não vale a pena estar com rodeios, pois não? Tu conheces-me melhor do que eu própria. Por favor, vem ter comigo, agora, não quero entrar sozinha. - Após ter dito isto, ouço um longo suspiro vindo do outro lado da chamada.

- Tu sabes que não consigo dizer não. Daqui a meia hora estou aí.

- Meia hora?!

- Sim, estou no cabeleireiro, cheguei há pouco e ainda não terminei. Por isso se queres esperar, esperas. Se não quiseres, entras sozinha como a mulher que és.

Depois de ter dito isto desliga-me a chamada na cara. Às vezes ela dá comigo em doida.

Meia hora! O que é que vou fazer em meia hora? Daqui a meia hora, ele já se deve ter ido embora.

The Coffee ShopWhere stories live. Discover now