Meia hora depois e a Riley ainda não apareceu. Fiquei sentada num banco do outro lado da rua à espera dela, já passou o tempo que ela disse e ela ainda não chegou.
Uns quinze minutos depois ela aparece com o cabelo bem arranjado e liso. Quando se aproxima de mim diz-me, levantando o cabelo:
- Gostas do meu cabelo?! – Fico perplexa a olhar para o seu cabelo, que anteriormente era só castanho e agora parece um arco-íris.
- Oh, meu Deus! O que te passou pela cabeça para pintares o cabelo dessas cores todas?
- Eu já te tinha dito que queria fazer isto.
- Eu sei, mas não achas que foi numa má altura?
- Porquê?
- Sei lá.
- Pois, mas fiz isto numa boa altura. Se te estás a referir ao facto de ter de arranjar um emprego, eu já tentei de tudo. Já fui a montes de entrevistas e ninguém me aceita, só por ter pouca experiência. E para mais se eu tiver o meu cabelo solto ninguém repara nas cores por debaixo.
De certo modo ela tem razão. Se tiver o cabelo solto ninguém repara no arco-íris, e em relação ao emprego ela tentou de tudo, acompanhei-a em todas as suas entrevistas. Sempre foi para as suas entrevistas com um grande sorriso mas no final saía com um ar triste, mas dizia-me sempre que estava tudo bem, que para a próxima iria correr melhor.
Observo a cores que ela tem no seu cabelo e por estranho que pareça até lhe ficam bem. Ela explicou-me, da melhor maneira que conseguiu, como é que a cabeleireira lhe pintou o cabelo. Para trinta minutos, até foi rápida a pintura.
Depois desta conversa distrativa reparo que passaram 10 minutos e chamo-lhe a atenção:
- Hey, estás a fazer de propósito, não? Não te pedi para vires cá para me falares do teu cabelo.
- Pois, claro. – Começa a empurrar-me para as passadeiras e continua a dizer – Vamos lá, temos que ir espiar o teu Ex!
- Não é espiar. – Digo isto da forma mais credível possível, mas tenho de admitir que ela é a minha melhor amiga e já me conhece na perfeição.
Continua a empurrar-me, mas impeço-a. Ela começa a ficar um bocado chateada, pela minha atitude e desculpo-me.
- Desculpa, mas não consigo fazer isto. – Consigo sentir uma pequena lágrima a sair do meu olho.
Não sei como descrever a razão por estar quase a chorar. Só preciso de entrar no café como se nunca tivesse deixado de lá entrar e fingir que o Jonathan não está lá.
Começo a sentir-me fraca e sento-me outra vez no banco. A Riley senta-se ao meu lado e tenta reconfortar-me, mas ela nunca foi boa nisso.
- Vá lá, Abigail. Não te podes deixar ir abaixo só por teres a oportunidade de voltar a ver o Jonathan. Tu não és nenhuma criança, nem um cão para estares a implorar que volte para ti. Tu sabes que ele não vai mudar de ideias.
Isto não me faz sentir melhor, mas ela tem razão. Não posso fazer nada para o ter de volta.
Já estou aqui com meio caminho andado, por isso não vou recuar só por ele estar no café.
- Certo, tens razão. – Levanto-me determinada a entrar, mas quando a Riley avança à minha frente, o meu corpo parece ficar paralisado. – Riley? O que achas que pode acontecer se ele me vir?
Fica por momentos a olhar para mim, como se eu fosse uma criança e diz:
- Tu sabes que há a grande possibilidade de ele nem reparar em ti e se reparar poderá fingir que não te viu. – Diz da forma mais cruel que conseguiu, mas não imaginava outra resposta vindo dela.
O semáforo passou a verde para os peões e avanço, tendo uma Riley com um ar desamparado sem saber o que dizer ou fazer. Segue-me pelas passadeiras a olhar para mim com um simples sorriso e por momentos parece ir dizer alguma coisa mas faço sinal com a cabeça para ela não dizer nem uma palavra, para não me arrepender do que estou a fazer.
Aquelas passadeiras parecem infinitas. Olho para o meu relógio e vejo que são 11h15. Não sei quanto tempo passou desde que comecei a andar, mas ainda estou a meio das passadeiras e já passou a verde para os carros. Não compreendo porque razão é que estou ainda no meio das passadeiras. A Riley abana-me e quase grita para eu andar e nesse momento volto à realidade. Não estou a andar, estou parada no meio da estrada.
Os carros começam a buzinar com mais força e durante mais tempo, enquanto a Riley tenta puxar-me para o passeio, pedindo desculpas fazendo alguns gestos com a mão.
- Abigail, o que é que aconteceu? – Consigo perceber o tom de voz dela de frustração, que tenta disfarçar com preocupação.
- Desculpa. – É só o que consigo dizer, não tenho capacidade para dizer mais nada.
- Não tens que pedir desculpa, sabes isso. Mas não compreendo, o que é que aconteceu? Estavas tão determinada.
Pois, mas a palavra determinação não combina muito bem comigo.
- Eu sei, mesmo assim vou entrar, mas quero que me prometas uma coisa.
- Claro, tudo o que quiseres.
- Se eu ficar bloqueada em qualquer circunstância ajuda-me no que puderes, por favor. Mesmo que fique parada à entrada sem entrar, ou que ele venha falar comigo e eu não diga nada, por favor, ajuda-me.
- Abigail, eu vou ajudar-te em tudo o que precisares, ok? – Não lhe digo nada, apenas aceno com a cabeça.
Ela mete o seu braço à volta do meu e seguimos em direção à entrada do "Coffee Star". Quando entramos ficamos paradas por uns minutos à frente da porta, tempo suficiente para dar uma vista de olhos em torno do espaço, e assim que reparo no Jonathan fico de olhos fixos nele. A Riley pergunta "Vamos sentar?" e apercebo-me que no final de perguntar também reparou nele e rapidamente, puxa-me ao de leve para uma mesa livre.
Sentamo-nos numa mesa com uma vista perfeita para o Jonathan. A Riley tenta que eu me sente numa das cadeiras que fica de costas para ele, mas eu digo que não, pergunta-me se tenho a certeza e digo que sim com a cabeça.
Ela vai ao balcão e faz o nosso pedido, enquanto espero por ela na mesa, de olhos virados para baixo. Quando volta a sentar-se há minha frente, diz que vão demorar uns minutos a fazer as nossas bebidas e que veem trazer à mesa.
Levanto um pouco a cabeça e direciono os meus olhos para o Jonathan e reparo que ele está a olhar para mim, com ar um pouco surpreendido, e no instante a seguir olha para a rapariga que está à sua frente e diz qualquer coisa que faz com que ela olhe para mim.
Não consigo deixar de olhar para ele, mesmo que ele já tenha reparado que estou fixamente a olhar para ele e que a sua "amiga" também tenha reparado. Não me importo com isso, neste momento só queria estar ao seu lado, queria poder abraça-lo e voltar a dizer que o amo. Mas o meu coração ainda está demasiado frágil para sequer voltar a dizer-lhe alguma coisa e vê-lo aqui com outra rapariga na "nossa mesa" piora tudo.
Uns minutos depois, a rapariga que está com o Jonathan, levanta-se e veste o casaco. Ela parece fazer sinal para o Jonathan também ir com ela, e por muito que me irrite, ele levanta-se e avança para a saída ao seu lado, olhando para mim uma última vez antes de sair. Não sei como descrever o seu olhar e muito menos o seu ar, parecia triste mas não percebo o porquê.
Pela janela do café, consigo ver os dois a passar para o outro lado da rua e depois parecem estar a despedir-se com dois beijos; demasiado formal para aquela rapariga ser namorada dele. No mesmo banco onde estive sentada à espera da Riley, o Jonathan senta-se e faz uma breve chamada. Depois de desligar o telemóvel, mete-o dentro do bolso das calças, e fica ali sentado a olhar para o café.
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The Coffee Shop
RomanceDepois de dois meses, Abigail nunca pensou voltar àquele café. Cheio de memórias de trabalho duro, tardes de paixão e o seu pior desgosto de amor. Será que vai fazer diferença voltar a entrar naquele café ou poderá ela encontrar a pessoa que pos...