A senhora Rattazzi

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A SENHORA RATTAZZI ***

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A SENHORA RATTAZZI

NOVA EDIÇÃO

Porto: 1880--Typ. de A. J. da Silva Teixeira, Cancella Velha, 62

A SENHORA RATTAZZI

POR

CAMILLO CASTELLO BRANCO

NOVA EDIÇÃO

MAIS INCORRECTA E AUGMENTADA

LIVRARIA INTERNACIONAL DE ERNESTO CHARDRON, EDITOR PORTO E BRAGA

1880

PREAMBULO

Á NOVA EDIÇÃO

O assumpto aqui tratado--a brochura da snr.^a Rattazzi--tem duas physionomias: uma para risos, outra para critica sisuda. Se uma das faces nos avinca a fronte, a outra tem virtudes therapeuticas de _désopiler la rate_. Eu tentei, pela galhofa pachorrenta, esquivar-me ás phrases amargas que a segunda physionomia--a seriedade--me impunha.

Se uma dama de má lingua nos belisca, devemos imaginar que ella nos faz cocegas; e, em vez de lhe trincarmos os dedos que nos estorcegaram a pelle, corre-nos o dever de imitar quem soffre as cocegas--rir e pernear; mas a mim, ás vezes, succedia-me, quando fazia cocegas a alguem, levar o meu sopapo involuntario. É o que póde acontecer a quem faz cocegas disfarçadas em beliscões.

Un ami de madame, no _Jornal de Noticias_, cheio d'uma paciencia portugueza e muito namorada com as lerdas chalaças da snr.^a Rattazzi, acha que o zangarem-se os portuguezes beliscados por madame é _falta de espirito_.

Assim como, no dizer da princeza de pacotilha, _il y a ventre et ventre_, tambem ha beliscões e beliscões, ó invejavel amigo de madame! Uns são attritos de arminho, cariciosos, como o roçar de dous botões de rosa-chá, em dous dedos opalinos com unhas nacarinas, pelos bigodes encalamistrados de s. exc.^a, o amigo d'ella e de Peniche; outros, são mordentes como tenazes de caranguejo, farpadas de vibora; e, se não deixam contusões rôxas e largas como pontapés de gallegos, penetram os filamentos nervosos e os tecidos cellulares como uma injecção subepidermica de vitriolo. Que a injecção me seja ministrada pela regateira que me vende os seus carapaus, ou pela princeza que me vende os seus livros, queima-me do mesmo feitio. A cravache de Lola Montes doía como se a vibrasse o pulso rijo de Roger de Bauvoir.

Mulher escriptora, por via de regra pouco exceptuada, é um homem por dentro. O coração, que devia ser urna de suavissimas lagrimas, faz-se-lhe botija de tinta; e as dôces penas da alma metallisam-se-lhe aguçadas em pennas de aço. O fuso de Lucrecia e da rainha Bertha desfez-se em canetas. Em vez de tecerem o seu bragal, urdem intrigas. Suspiram publicamente em 8.^o portuguez, 250 paginas; e, quando não suspiram, bufam coleras represadas, dizem que tem idéas, que se querem emancipar, muito aziumadas, naturalistas, com um grande ar de pimponas que entraram no segredo dos processos; e, se não batem nos homens, não é porque elles o não mereçam. O amigo de madame, esse, tem de apanhar do sexo, mais hoje, mais ámanhã.

O Dom Francisco Manoel de Mello tinha razão: _Mulheres doutoras, authoras e compositoras_ dava-as ao diabo. _É triste cousa_, prosegue o critico do Hospital das Letras--_que estejaes com vossa mulher na cama, na mesa, ou na casa, e andem lá pelas tendas mil barbados perguntando por ella_.

Não ha feminilidades que se respeitem desde que a mulher se masculinisa, e, como escriptora virago, salta as fronteiras do decoro, sofraldando as espumas das rendas até á altura da liga azul-ferrête.

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⏰ Última atualização: Mar 16, 2008 ⏰

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