1.É um desprazer conhecê-la.

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Fui enganada desde que comecei a compreender palavras, desde... Sempre. Isso seria algo bom? Desculpe, eu não vejo isso.

Sinto o silêncio corrompendo minha alma, mas não estou sozinha.

-Natali! Por favor, Natali... - dizia aquela voz feminina, conhecida e desconhecida ao mesmo tempo. Eu estava vagando no escuro.

Sinto as paredes se fecharem, mas elas estão mais normais do que nunca.

É como se eu fosse um prédio demolido em uma ilusão.

- Princesa, você sabe quem sou? -Uma voz amável disse em meio ao escuro avassalador em que eu estava. E apenas uma pontinha se iluminou. Meu eu sabia quem era. - Confia em mim?

Eu não sei o que deveria dizer. Sinceramente não sei. Mas a antiga garota ainda estava ali e respondeu por mim.

- Confio. -Escutei a voz que era minha e ao mesmo tempo não era. - Sempre confiarei.

°°°

Meu nome é Natali White Lopez e essa é a história da minha vida.

Tenho dezesseis anos e moro com minha tia Ana Luíza, irmã do meu pai, desde o meu nascimento. Um exemplo de que a vida é uma grande caixinha de surpresas: eu me tornei completamente órfã no dia em que nasci. Minha mãe teve uma parada cardíaca no exato momento em que eu descobri como era o ar aqui fora. Conseguiram salvar-me por pouco. Mas minha mãe provavelmente não soube disso.

E também perdi meu pai. Segundo minha tia, ele era um homem incrível que amava minha mãe incondicionalmente. "Sabe aquele amor que temos a sorte de presenciar ao menos uma vez na vida? Era o amor daqueles dois.", minha tia vivia dizendo.

A morte dele foi causada por puro conflito de sentimentos. Alguns minutos após meu nascimento, um médico foi avisar ao meu pai que minha mãe veio a falecer, minha tia Analú, como é chamada, presenciou tudo e me disse que os médicos não contaram ao meu pai que eu sobrevivi. Na mente dele, a perda dos dois maiores amores para o meu pai, haviam quebrado seu coração. Então, ele simplesmente correu para o estacionamento do hospital, pegou o carro com que viera e saiu em disparada. Talvez quisesse pensar.

Algum tempo depois, minha tia recebeu a notícia de que ele sofreu um acidente. O carro dele colidiu com um caminhão no meio de uma curva. O motorista do caminhão estava bêbado e meu pai, extremamente fora de si. O caminhoneiro sobreviveu, mas meu pai morreu na hora. Nessa noite, eu perdi as pessoas que me proporcionaram a vida.

Atualmente, eu só penso que talvez pudesse ter sido um pouco diferente se meu pai soubesse da minha existência. Mas não odeio minha vida como é agora. Analú sempre me diz que de algum lugar, eles estão olhando orgulhosos de terem gerado alguém como eu.

Eu não posso dizer que sou o exemplo de boa menina. Eu acho que ao conhecer minha história, entenderão o porquê. Sinceramente, devo adiantar que, qualquer um preferiria ser meu aliado em uma guerra.

E agora aqui estou eu, nas minhas queridas e desejadas férias de verão. Todos os meus colegas de classe - que por um acaso, nunca mais verei na vida, estão planejando ir à praia ou algo parecido. Definitivamente, eu não preciso disso. Prefiro aproveitar as horas de sono que terei nesses ótimos dias...

- Natali, acorde logo! - uma voz familiar dizia enquanto eu era balançada.

Hoje em dia não pode nem dormir em paz?!

- Só mais vinte e quatro horas... Eu juro. - eu disse com a voz abafada pelo travesseiro.

- Garota, pare de brincar! É uma emergência! - dizia a voz familiar, tão logo, esbaforida.

Um garoto diferenteOnde histórias criam vida. Descubra agora