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 Elijah  já tinha me mandou umas cem mensagens e umas cinquenta ligações e acredite eu queria estar brincando.

Quase não li nenhuma mensagem e ligações estavam longe de serem atendidas. Logo cedo daquele dia minha mãe voltou, era quase uma tradição que um sábado no mês nos juntássemos para fazer alguma coisa, seja comer sorvete ou só assistir um filme no cinema, e bem, hoje era o dia do sorvete, peguei o filme favorito da minha mãe "Casablanca" e começamos a assistir deitadas no sofá. Alguém tocou a campainha e me levantei num pulo.

- Eu atendo. - Disse.

- Quer parar o filme? - Minha mãe perguntou tentando conter as lágrimas, o filme mal tinha começado e ela já estava chorando, neguei e fui em direção a porta.

- Que bom que você está em casa eu preciso falar com você. - Elijah disse quase num só ar e fechei a porta na cara dele. - Clary eu preciso falar com você, por favor. -  Ele disse de novo do lado de fora e eu continuei sem responder.

- Clary, está tudo bem aí? - Minha mãe perguntou da sala.

- Claro mãe, espera só um pouquinho. - Saí da casa já empurrando o peito dele para as nossas vozes não fossem ouvidas pela minha progenitora.

- Clary, porque não atendeu minhas ligações? Te liguei tantas vezes e...

- Olha. - O cortei bruscamente. - Nós estamos bem, porque do nada você resolveu se importar tanto?

- Porque... - Tentou formar alguma coisa mais depois colocou a mão nos cabelos e virou de costas pra mim e passou a mão no cabelo como se ainda estivesse chateado. - Nós estamos bem mesmo?

- Estamos ué. - Ri, forçadamente, mas ri. Acho que ele não percebeu.

- Então.... - Começou mas a minha mãe entrou na nossa linha de visão.

- E você é?

- Elijah, a senhora deve ser a mãe da Claryssa.

- Sou eu sim. - Minha mãe semi fechou os olhos o analisando de cima a baixo e prendi a respiração, pelo jeito Elijah também.

- Eu acho que vou indo. - Ele apontou para o carro estacionado na frente da nossa casa, ele tinha carro?

- Se você quiser pode almoçar aqui amanhã. - Minha mãe disse com o olhar dessa vez menos tenso, olhei para Eli implorando para não concordar, depois eu pensaria melhor sobre esse comportamento da minha mãe.

- Okay, até amanhã então. - Imaginei mil formas de matá-lo e ele apenas deu um sorriso discreto pra mim. - Foi um prazer conhece-la senhora Goodman.

**

Eu tentei evitar minha mãe até o final do dia, fui dormir sem muita conversa e tentei acordar só mais tarde do dia seguinte, mas mesmo assim minha mãe achou uma brecha e enquanto fazia o almoço me chamou para conversarmos. Eu acho que já estou morta antes mesmo da gente ter que conversar.

- Então Clary...

- Mãe eu posso explicar, é que ele é só um amigo a gente se encontrou e ele me pediu para o ajudar e...

- Ei! Calma filha. - Ela riu do meu desespero. - Eu gostei dele, eu apoio vocês dois, algo me diz que ele é um bom menino. - Na minha cabeça eu quis rir, tanto pela reação(totalmente estranha) da minha mãe, quanto por ela falar que Elijah era um "bom menino", não ele não era, só se fazia de um para depois arrancar seu coração e lançar aos lobos, sim eu sou dramática, aceite.

- Você só pode estar de brincadeira, você reparou que ele é um menino não é? - Ela riu mais e parou de misturar a salada focando os olhos em mim.

- Sim reparei, mas eu acho que eu te segurava demais e...

- Ele é gay.

- O que? - Ela perguntou meio gritando que até me assustei dando um pulinho pra trás.

- Ele é gay mãe.

- Como? Mas... Como assim?

- É uma longa história... - Antes de terminar de falar a campainha tocou, fui atender e logo Elijah já estava dentro de casa.

- Olá senhora Goodman.

- Oi Elijah, vamos comer? - Ela riu educada e se sentou na mesa levando consigo as panelas, na maior parte do tempo a única coisa que se ouvia era o barulho dos talheres.

- Então... - Limpei a garganta e continuei. - Lembra os nossos vizinhos que se mudaram quando eu era pequena mãe? - ela me olhou sem entender nada.

- Nós tivemos muitos vizinhos filha.

- Não, to falando dos únicos que realmente viraram nossos amigos e que eu era amiga do filho deles... - Tentei de novo e ela abriu a boca quando se lembrou.

- Elijah King? Filho dos Kings daqui da rua? Meu Deus como estão seus pais? - Eli riu levemente.

- Eles estão bem.

- Nossa eu nem sabia que vocês tinham voltado, desde quando estão na cidade?

- Desde o começo do ano.

- Nossa isso é demais, você e a Clary brincavam tanto e até choravam quando iam se despedir. - Minha mãe riu da lembrança que só ela via, enquanto nós dois só mantínhamos sorrisos no rosto, totalmente congelados. - Acabei de lembrar, eu tenho uma foto muito linda de vocês dois esperem aí que eu vou buscar. - Minha mãe disse enquanto saía da mesa e ia em direção ao seu quarto.

O silêncio voltou até nós terminarmos de comer, eu via o quanto ele parecia desconfortável, tentando dizer algo.

- Clary, eu...

- Achei! - Minha mãe gritou interrompendo qualquer coisa que o Eli gostaria de dizer, ela logo colocou próximo de nós a foto, era uma foto antiga de mim e do Elijah juntos, parecia o meu quintal no fundo e o dia parecia estar acabando pelos raios de sol que passavam nos nossos rostos infantis, mas o que mais me assustou foi ver os nossos lábios unidos. Olhei assustada para minha mãe, eu já beijei ele?

- Mãe...

- Vocês estavam brincando de papai e mamãe esse dia, vocês eram muito fofos. Ainda são. - Minha mãe se deu ao trabalho de completar, fechei meus olhos morta de vergonha.

Alguns minutos depois da sobremesa e do Elijah prometer levar a mãe dele na próxima vez (Sim, vai ter uma próxima, eu não sei se rio da minha desgraça ou só aceito e choro) ele foi indo para a porta.

- Clarissa, leve Eli para a porta filha. - Mãe, não me peça para ser educada, mas quando ia discutir ela me lançou aquele olhar de "é uma ordem", então me levantei e o levei até lá.

- A gente pode conversar agora? - Dei de ombros e fechei a porta atrás de mim. - Olha, eu sei que fui um babaca com você ontem, quer dizer, você estava muito... O que eu quero dizer é que eu não queria ter agido daquela forma, e quando eu te vi daquele jeito eu só não sabia como agir e... - Ele parou de falar quando viu meu olhar indiferente, então ele respirou fundo e continuou. - Desculpa por ter sido um idiota com você.

- Você já disse isso. - Não deixei nenhuma emoção sair pela minha voz e ele me olhou como se estivesse frustrado e tentasse me entender.

- Mas eu quero que você acredite.

- Falar mais vezes não vai fazer nenhuma diferença. - Disse e vi o exato momento em que as palavras atingiram ele, desviei o olhar. - Olha, nós estamos bem ok? Só... Não faça de novo. Hoje a noite pensei em nós irmos para uma boate, pra você tentar de novo, ou sei lá. - Ele concordou levemente. - As dez a gente se encontra...

- Pode ser na minha casa. - ele completou por mim, assenti e entre dentro de casa novamente.

Mil emoções querendo tomar espaço dentro de mim e eu não sabia a qual ouvir por isso me despedi da minha mãe e fui deitar, talvez isso ajude a colocar tudo em ordem, e hoje é só isso que eu preciso: Ordem.



Meu Novo Amigo GayOnde histórias criam vida. Descubra agora