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Eu nunca passei tanto tempo num mesmo lugar na minha vida inteira!

Meu Deus, como pode demorar tanto?

Eu aparei um pouco do meu cabelo em uns vinte minutos nó máximo, mas a Clary entrou 'não sei aonde' e está lá a mais duas horas! Como. Pode. Isso?!

Só pra vocês terem uma ideia eu terminei a temporada de "Sherlock"( Tudo bem que faltavam só dois episódios, mas a duração é de uma hora e quinze minutos, então sim, foi muito tempo).

Quando ia começar outro episódio ouvi finalmente a porta ser aberta e me levantei quase que instantaneamente, guardei o celular no bolso da calça e baguncei a parte da frente do meu cabelo.

Ela entrou e eu prendi a respiração, o cabelo estava solto e caía sobre seus ombros, ela usava uma leve maquiagem em cima dos olhos e um delineador fino realçava o verde. Murmurei alguma coisa e ela sorriu pra mim. Paguei tudo e fomos em direção ao bar, que como vocês podem imaginar já estava cheio, happy hour.

- Você não vai falar nada? Digo, ficou tão ruim assim? Eu disse que não é minha praia mas ela insistiu e...

- Tá bom. - Dei de ombros, não queria bancar o babaca, por que, bem, nós nem temos nada para eu ficar toda hora falando isso. Vi que os ombros dela abaixaram um pouco e mordi o canto da boca. Não é hora pra ficar ajudando ela! Que saco.

Entramos e já fui indo direto para o bar pedir uma cerveja, o bom daquele bar é a falta de organização no quesito "bebida pra menores".

- E para você linda? - Perguntou para alguém atrás de mim, que presumi ser a Clarissa.

- Só uma Coca. - Respondeu. Antes que vocês me entendam errado, mas é que eu não posso "nutrir" algo por ela que eu já sei que não vai rolar sabe? Vê-la no salão me fez sentir coisas que eu nunca senti antes e eu não quero me entregar para essa sensação totalmente desconhecida para mim, eu não estou pronto e pensando bem nunca vou estar, eu sou gay, ou melhor vou ser, então pode tirar o cavalinho da chuva.

Ela mordia os lábios com força enquanto olhava para o refrigerante como se fosse a coisa mais interessante do mundo, desci do banquinho em que nos sentamos para tomar as nossas bebidas e virei levemente para ela, sem contato visual.

- Vou dar uma volta. - Respondi saindo de lá antes de uma resposta, um cara esbarrou de leve em mim e pediu desculpas num tom cheio de segundas intenções.

- O que você está fazendo aqui sozinho? - Perguntou levantando as sobrancelhas, o tom malicioso ainda na sua voz.

- Procurando alguém pra beber comigo, topa? - Minha voz saiu um pouco mais nervosa que o normal, mas nada que não se disfarce com um sorriso, ele sorriu de volta e me mostrou uma mesa vazia e mais reservada por ali.

O barulho que o bar fazia pelo número de pessoas era alto, mas não muito, permitindo que todos falassem num tom ameno. Olhando agora ele parecia mais velho que eu, uns cinco ou seis anos, mas nada muito alarmante. Então paquerar um cara é mais fácil do que com mulher, okay, ponto pros gays.

- Então o que você faz? - Perguntou querendo continuar a conversa.

- Atualmente eu só estudo. - Respondi tomando mais um gole da cerveja.

- Faculdade? - Perguntou com a testa franzida não entendendo.

- Ensino Médio. - Respondi mordendo os lábios.

- Oh... Danadinho você.

- Eu tento. - Dei uma risadinha e ele levantou falando que ia buscar outra cerveja para nós. Olhei para onde ele ia e vi Clarissa conversando com alguém, prestei mais atenção e vi um cara de costas para mim a fazendo rir até fechar os olhos, ele segurou a cintura dela para ela não se desequilibrar do banquinho e continuou com a mão ali mesmo depois do ataque de risos dela. Me levantei sem me importar em voltar pra meu "encontro".

- Vamos embora Clary? - Perguntei ignorando o ser que estava com ela, ela limpou a garganta.

- Elijah esse é...

- Vamos... - A puxei pelo braço antes de deixá-la terminar de falar, ela se despediu rápido do amigo e quando finalmente saímos daquele lugar ela empurrou meu peito com toda a força.

- Qual é o seu problema? - Gritou e se separou de mim mais ainda.

- O meu problema? Você ao menos conhecia aquele cara? - Gritei também e parecíamos dois doidos brigando no meio da rua.

- E você conhecia aquele? - Os olhos dela estavam vermelhos e quando ela ficou de costas pra mim me arrependi da merda que estava fazendo, ela estava chorando.
Ela andou alguns passos em direção ao ponto de táxi dali perto.

- Clary, espera. - Ela nem virou para traz e só parou sentada esperando o táxi. - Olha, eu sei que...

- Cala a boca. - Disse sem nem mover os olhos para mim, entramos no mesmo táxi e eu falei os endereços.

- Clary, eu sinto...

- Cala a boca Elijah. - E foi assim, um silêncio quase sepulcral toda o caminho para a minha casa.

- Sua mãe está em casa? - Perguntei um tempo antes de descer.

- Ela teve que viajar de novo.

- Quer ir para minha casa? Meus pais não vão chegar tão cedo. - Ela negou com a cabeça e virou o rosto para a janela oposta a minha. Desci e paguei minha parte ao taxista. Vi o carro amarelo se distanciar cada vez mais, então era aquilo?

**

Clarissa

Como ele pode fazer aquilo?

Ele foi o meu melhor amigo por uma tarde inteira, nós conversamos e rimos juntos, aí depois do salão ele virou outra pessoa. Digo, vocês viram né? E, eu não sei mas depois de tudo que rolou aquela tarde eu pensei que ia mudar, sei lá, que seríamos amigos(?) e, eu pensei que (nunca mais me peçam pra dizer isso) poderia rolar algo mais. Sim, eu sou uma babaca, mas.... Urgh!

E agora ele me tirou a força de dentro do bar quando eu estava tendo um conversa com o Diego, sim o nome dele é Diego. E depois o "mais engraçado"(sim, entre aspas, porque foi uma merda) foi o Elijah chegar como dono da razão e dizer que eu não podia ficar com estranhos.

HA  HA

Ele estava com um cara mil vezes mais velho que ele pra conseguir ser gay, e eu não reclamei. Ele foi um babaca comigo, e eu não reclamei, mas aí ele chega e fala aquilo! Como se eu fosse... se eu fosse uma criança, ou uma puta.

Eu só estou... Com tanta...TANTA raiva dele agora, e eu não sei como expressar, eu quero bater nele com força e xingar ele de todos os nomes possíveis e mais, ah vocês não tem ideia do tanto de "mais" que isso significa.

Mas chegou o momento, mais que uma vez na verdade, mas a minha primeira reação foi querer chorar. CHORAR! Sabe o quão patético é isso?

E eu entrei naquele táxi fedorento com ele, eu sentei ao lado dele por aquele tempinho e não disse nada. Porque ou eu sou uma idiota, ou eu estou com medo de acabar chorando na frente dele e só confirmando a primeira opção.

Entrei em casa que parecia mais fria do que o normal, mamãe já devia ter ido ao aeroporto e Mary já devia ter ido pra casa.

Entrei na cozinha, a única luz que estava acesa era a de lá e bem em cima da mesa estava um prato de biscoitos, que a Mary fazia, e um copo de leite. Sorri tirando os tênis sentindo o chão gelado do lugar e finalmente ficando mais confortável.

Comi tudo aquilo com calma e depois de tomar um banho dormi pacificamente, sem nem me importar com as ligações que estava recebendo.



Meu Novo Amigo GayOnde histórias criam vida. Descubra agora