Nós
Do ponto de vista de uma narradora peculiar.
E lá se vão os noivos de braços dados, quer dizer, marido e mulher a partir de hoje. Os convidados riem, aplaudem e jogam arroz nos recém-casados. Toda felicidade emana daqueles dois que estão saindo da igreja. A mesma que anos atrás foi o ponto do seu primeiro encontro. Onde se olharam e conversaram pela primeira vez. Foi nesse dia que se iniciou uma bela história de amor. Aliás, não foi aí o início. De fato! O começo desse romance surgiu num vagão de metrô.
Um nerd observava, encantado, uma garota viciada em livros que aparentemente só olhava para seu livro, mas de soslaio admirava o garoto. E isso aconteceu por um longo ano. Realmente eram muito tímidos. Mas até que essa timidez rendeu uma boa estória. Quando tudo começou nem imaginavam que uma dia se casariam. Na verdade, achavam que nunca mais se veriam. Mas a vida, muita vezes, consegue ser bem irônica e adora pregar peças. E num dia chuvoso tentando fugir da chuva se encontraram numa igreja. Sei que realmente pensaram em sair correndo, encarar a chuva era bem mais fácil. Mas, não conseguiram se mover parecia que a conexão dos seus olhares não poderia ser rompida. Até hoje isso acontece bastante.
Ninguém disse nada para variar. Ficaram se olhando e se olhando. Nem parecia que piscavam. Até que – finalmente- ele disse algo.
- Oi. – Simples, mas já é um começo. Ela prendeu o fôlego e enfim respondeu.
- Olá. – Assim se iniciou o diálogo que mudou para sempre suas vidas. Palavras simples, mas importantes. O engraçado é que hoje eles não param de conversar por um segundo.
Ele olhou para a garota e percebeu que ela estava tremendo, procurou seu casaco na bolsa e colocou nos ombros dela.
- Para te aquecer! – Boa, garoto. Espera, ele não era tímido?
- Obrigada. – Ela sorriu.
- Tudo bem com você?
- Sim, e você?
- Também. É muito bonito de se observar, não é? - ele apontou para a chuva.
- Realmente. Além de garotas, gosta de observar também a chuva? – ele arregalou os olhos. Agora, ela mandou bem.
- Er... o quê?
- Não se deve responder uma pergunta com outra pergunta. – Outro ponto para essa a sabe tudo.
-Bem, você notou? Mas você sempre estava lendo.
- Nem todo o tempo. – ela olhou para baixo envergonhada.
- Desculpe-me, não tive má intenção.
- Eu acredito. Só não entendo por quê?
- Bem... foram muitas coisas em você que me chamaram a atenção.
- Como o quê? – Ele ficou de costas para ela com medo de dizer tudo que estava em sua mente. Sua timidez o sufocava, mas ele tinha tomado uma decisão e não deixaria escapar a oportunidade e nem a bela garota.
- No primeiro dia de aula, eu entrei no metrô e um pouco adiante eu te vi. Você estava lendo "a menina que roubava livros"e parecia tão concentrada. Logo, depois você começou a chorar. Depois sorriu. Depois ficou surpresa. Uma reação atrás da outra a cada página que virava. Logo, depois você levantou, guardou o livro com tanto cuidado e se foi. E depois eu percebi que passei todo o tempo olhando para você. Deveria estar parecendo até um louco obsessivo. Mas você me deixou abismado. Somente com simples reações, mas aos meus olhos se tornou interessante. E assim aconteceu pelo resto do ano. Seu amor pelos livros, seu jeito diferente, suas reações tão espontâneas, você me deixou extremamente fascinado. E até que um dia eu percebi que te amava. Somente te ver me fez te amar. Não sei explicar, mas eu encontrei em você um amor que nem em livros se pode encontrar. – A garota chorava e o olhava com tanto encanto. E como não se encantar com algo tão lindo.
- Desculpe-me, por não ter ido falar com você. Sou tímido. Por mais que as pessoas digam o amor ultrapassa qualquer barreira. Que deveria vencer a timidez. Mas só eu sei dizer o que senti. A agonia e o desespero de nunca poder falar com você. Não foi por falta de querer. Talvez não entenda, mas é horrível passar por isso.
- Não entender? Eu vivi isso. Desde o primeiro dia, eu percebi seu olhar sobre mim e você não sabe o quanto sou grata. Seu olhar me fez tão bem, tão feliz. Eu me senti especial pela primeira vez na vida. Eu não entendia seus olhares, só sei que me faziam muito, muito bem. Admito era um tanto esquisito um garoto que eu não conhecia estar olhando para mim direto. Achei que me olhava maliciosamente, mas não. Foi fácil de decifrar que seu olhar carregava fascínio. E por mim, quem diria. O garoto dos óculos azuis que tomou conta da minha mente o ano todo. Sabe, não sou a única estranha, você também não é nada normal. Não sei o que outras garotas pensam, mas para mim você é uma beleza rara. Clichê, mas amo quem você é. Nem te conheço, é verdade. Mas você já é uma parte de mim. Louco? Bastante, mas é o que eu sinto. Na verdade, isso tudo é pouco para explicar. O que realmente você me faz sentir não pode se explicado em palavras. E isso eu sonho desde criança. E no final, você era o meu sonho. É o meu sonho. – A alegria do rapaz era mostrada em todos os sorrisos que deu ao decorrer de cada palavra e também em forma de lágrimas devo dizer. Uau! Isso é um amor que nem
nos melhores filmes foi presenciado.
E sem dizer mais nada, selaram seu amor num beijo que transmitiu tudo o que estava guardado nas suas almas. O mesmo que foi repetido na escadaria da igreja na frente dos convidados que testemunhavam mais uma vez o amor da garota viciada em livros e do nerd dos óculos azuis. Os mesmos que um dia achavam que estavam destinados a nunca ficar juntos. Como já disse a vida é irônica. Eu sou irônica. Adoro pregar peças que por sinal resultaram numa excelente história. Pelo menos para mim. E lá se vão os recém casados de braços dados indo para mais uma nova história.
E finalmente Ela e Ele se tornaram Nós.
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Ela/Ele/Nós
Romance"Nunca cruzamos um olhar, ela sempre olhava para o livro e eu sempre olhava para ela." "Mas uma palavra eu diria: "Obrigada." Por fazer com que me sinta feliz e a começar a descobri em mim algo de especial. E ele fez isso tudo com apenas um olhar...