Parte I - Courchevel, 1995 – França.
Fevereiro
Observando sua filha brincando com os priminhos, Valery chegou a suspirar mais forte quando uma lembrança invadiu sua mente. Primos... – ela sussurrou para si mesma e se levantou.
- Marie! – ela chamou e logo a linda menina de cabelos esvoaçantes quase brancos de tão loiros e olhos de azuis profundos, girou nos calcanhares e olhou sorrindo com seus lábios naturalmente vermelhos como morangos orvalhados. – Venha, Marie, chega de brincar, diga adeus aos seus primos e vamos entrar!
- Ah, maman... – ela fez beicinho e os primos pararam prestando atenção.
Marie tinha apenas 5 anos, mas exercia um poder de atração intenso e inconfundível. "Puxou a mãe..." – Alguém dissera a Valery certa vez.
- Vamos, a neve está aumentando e é melhor tomar logo seu banho e se aquecer. Amanhã, se o tempo melhorar, podem voltar a brincar. – Valery forçou um sorriso mais largo do que o costume, tentando disfarçar seu real motivo de colocar sua filha para dentro e impedir que ficasse muito tempo na companhia dos primos.
Mas será que isso realmente adiantaria, se o destino quisesse pregar outra peça?
Sua priminha Jade, da mesma idade de Marie, foi a primeira a se despedir, agarrou-a e plantou dois beijos melados nas bochechas. Os cabelos ruivos e encaracolados de Jade se misturavam com as plumas de seu casaco de mesma cor e por algum motivo a mais que isso, Valery sorriu.
Mathis, irmão mais velho de Jade, se adiantou em se despedir também, ele era um pouco gorducho, mas tinha um rosto bonito, harmônico e sincero e lembrava muito sua mãe, a esposa do irmão de Valery que havia morrido de câncer há 4 anos.
Agarrado a imensa bola listrada, vermelha e branca, estava Louis. Ele tinha o olhar fixo em Marie e, de longe, Valery chegou a pensar que estivesse zangado. O semblante fechado, as bochechas avermelhadas, tanto pelo frio, quanto pelo calor que a brincadeira com a bola havia provocado neles. Mas não era isso. Louis largou a bola ao se aproximar de Marie e a abraçou tão forte que a levantou do chão, fazendo a menina gargalhar. Louis era apenas 3 anos mais velho, mas parecia muito mais maduro para sua idade.
Valery suspirou e aguardou que a filha viesse até ela. Acenou para as crianças e mandou lembranças aos parentes. Vincent, seu irmão e pai de Mathis e Jade, e sua prima Emma, mãe de Louis. As crianças desceram a rua quase correndo e Valery franziu o cenho ficando um pouco apreensiva por um instante, até se lembrar de que eles estavam bem acostumados a andar pelas redondezas, e todos na comuna francesa Saint-Bon-Tarentaise conheciam aqueles garotos e suas famílias como se fossem suas próprias.
Assim que entraram, Valery pôs Marie para se banhar e depois de devidamente vestida e agasalhada, preparou uma bela xícara de chocolate quente para a menina que já demonstrava sinais de sono. A lareira já crepitava aquecendo a sala de estar e Valery deixou que sua filha se acomodasse no sofá com sua xícara enquanto ela sintonizava o canal que passava o desenho preferido de Marie: "Cavalo de Fogo".
Após dar um beijo na testa da filha, Valery se sentou na poltrona do outro lado da sala, que ficava próxima a janela e era seu cantinho de leitura preferido. A luz batia num ângulo perfeito sobre a página do livro e podia economizar a eletricidade por mais tempo. Deu uma conferida no grande relógio/calendário analógico na parede e mais uma vez seu coração palpitou. A data. Estavam no início de Fevereiro e o cenário no quadradinho de vidro que indicava a estação do ano, estava todo pontilhado de branco, como o inverno que ainda esfriava os dias naquela região da Europa naquela época do ano.
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aquele samba em Botafogo
Historia CortaCarnaval, 1990. RJ, Brasil. Valery Orleans, 21 anos, Canadense. Patinadora Artística. João Paulo Galvão Jr., 36 anos, brasileiro. Advogado. O que eles têm em comum? Estão noivos e são 'parentes'.... Um almoço, um único encontro, para apenas uma ú...