Numa noite linda e estrelada de Julho, mais precisamente o décimo dia desse mês, comemorávamos o tão esperado aniversário de 16 anos de minha irmã mais velha, Corine. Todos dançavam animados ao som de uma música qualquer enquanto eu sorria e observava a felicidade de minha querida irmã. Apesar de ser mais velha, ela sempre parecia ser pequena e indefesa para mim; sentia-me seu maior e mais supremo protetor.
A festa transcorria tranquilamente e todos os convidados pareciam satisfeitos. O grande jardim de nossa casa fora enfeitado com fitas e laços cor-de-rosa, balões flutuantes e móveis amadeirados e brancos. Era uma festa delicada como Corine. Eu chamava-a carinhosamente de Cor, e ela gostava muito.
Mamãe esquecera a vela de minha irmã em casa, e solicitara com muita urgência minha ajuda para pegá-la; pois as pessoas estavam impacientes para ouvir o cântico dos Parabéns.
-- Não demore nem um segundo, Kevin. Já está tarde e seus avós querem ir para casa descansar. Vá ligeiro! -- Ela disse.
Então fui rapidamente até o interior de nossa casa em direção à cozinha, me agaixei e abri a última gaveta do armário com louças. Peguei a vela brilhante de Corine, que estava debaixo dos forros de mesa, e surpreendí-me ao perceber, graças à uma fissura, que havia um fundo falso naquela gaveta.
Tirei todos os forros de lá e puxei a gaveta para fora do armário, encontrando uma placa de madeira colocada como um piso no chão. Bati com os dedos dobrados sobre ela e percebi que estava em cima de algo oco. Arranquei a madeira do chão com um pouco de dificuldade e a poeira subiu até meu rosto. Tossi e afastei a nuvem de poeira com as mãos. No buraco à minha frente havia uma espécie de livro; era espesso, velho e desgastado. Peguei o mesmo e limpei sua capa; nela estava escrito em letras cursivas e antigas: "Meu Diário Pessoal". De quem será esse diário? Por que ele está num buraco na cozinha de minha casa? Perguntei-me confuso.
-- Kevin! -- Ouvi minha prima, Charlotte, me gritar da porta de casa.
Coloquei rapidamente tudo em seu lugar, mas o livro foi para debaixo do meu terno. Eu o leria mais tarde. Disfarcei pegando a vela em minhas mãos e indo em sua direção.
-- O que foi, priminha? -- Perguntei fingindo não entender o por quê de sua cara fechada e irritada para mim.
-- Só me dê essa vela estúpida! -- Disse ela ríspida, e eu logo dei a ela o que pedira, mas antes de sair ela insistiu:
-- Por que seu rosto está sujo assim? -- Cerrou os olhos com desconfiança.
-- Não foi nada. Um espanador caiu em mim enquanto procurava pela vela. -- Tentei convensê-la sem ter fé em meu sucesso.
-- Ah sim. Pois saiba que espanadores não acumulam esse tanto de poeira normalmente, só se estivesse parado desde décadas atrás. -- Charlotte disse e foi para fora em direção ao jardim, fechando a porta em suas costas.
Respirei fundo e apressei-me em subir até meu quarto, colocar o diário debaixo da minha cama, lavar meu rosto muito bem e sair rapidamente de volta à festa.
Minha mãe me encarou rigidamente devido ao atraso. Engoli seco e comecei a pensar o que diria para me explicar a ela mais tarde. Talvez eu cochilei enquanto procurava sentado no chão; mas eu não tinha motivos para estar cansado a ponto de isto acontecer. Eu tinha que ser melhor. Me atrasei porque encontrei um rato na gaveta e tive que matá-lo. Esta nunca seria conciderada, pois mamãe era a mulher mais asseada que já conheci. Eu precisava pensar em algo. Ah! Abri a gaveta errada, a penúltima onde fica o álbum de Cor quando era bebê, e me distraí a olhar e imaginá-la quando criança; além de pensar em como ela pôde crescer daquela maneira. E nesta eventualidade o espanador caiu em minha cabeça sujando meu rosto. Perfeito! Ela entenderia.
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O Diário de Mr. Lee
Mystery / Thriller"Suas mãos grossas pousavam-se em meus quadris me agarrando com força de mais. Iria ficar roxo. Mamãe não sabia disso, e nunca iria saber. Era vergonhoso pensar em contar-lhe tal fato. Tio Antonni, o mais querido de toda a família. Ninguém nunca ima...