-x- ( att dupla hoje porque eu sou um amor de pessoa <3 ) -x-
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Katy e Meg morreram de tristeza porque adivinhavam que seriam despachadas tão logo a fazenda fosse vendida. Também porque não queriam se tornar um peso morto para alguém que desconheciam. Nem o enterro meu pai precisou pagar. As duas haviam reservado um dinheirinho extra, à custa de muita economia, para aquela finalidade.
Na minha cabeça tudo aquilo estava muito claro. Meu pai comprou a casa em que a gente morava e minha mãe ficou feliz da vida porque ainda sobrou algum. Eu não vi motivo para alegria. Aquele dinheiro custara a vida de Meg e Katy. Eles tiveram de aceitar minha tristeza. E, de certa forma, se sentiam responsáveis pelo meu mutismo.
Minha mãe me comprou roupas e sapatos novos. Meu pai me deu um celular, algo que eu vinha querendo a muito tempo. Eu aceitei, mas não pensem que eu ia lamber as mãos dele por isso.
Por falar em lamber as mãos, o que eu mais queria na vida era um cachorro. Devia ter uns cinco anos de idade quando comecei a pedir. No início, tinha de ser fila ou pastor alemão. Com o tempo, passei a aceitar qualquer vira-la de raça nenhuma. Mas o meu pai resistiu.
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No dia do meu aniversário de 16 anos, percebi desde cedo uma movimentação incomum. Minha mãe não parava de telefonar para o meu pai. E cada vez que ligava se mostrava mais aflita. Até que, pouco antes da hora do almoço, ela ouviu a voz do outro lado, com um brilho nos olhos, e desligou eufórica.
- Harry, você nem imagina o que vai ganhar de presente!
Não podia imaginar mesmo, eles ja haviam me dado tudo, até um iPhone. Quando disse aquilo, eu tive a vontade de perguntar:
- Que presente tão especial é esse? Por acaso vão me trazer a fazenda com a Meg e a Katy de volta?
Parei e me censurei. Achei aquilo muito cruel. Sera que na ânsia de castigar eu não estava agindo exatamente como eles tinham agido?
- E então? Não quer saber qual é o presente? - insistiu ela, doida para revelar.
Examinando minha mãe da cabeça aos pés, respondi:
- Vou esperar pela surpresa. Assim fica mais emocionante.
- Está bem. Você vai mesmo ficar sabendo quando seu pai chegar...
Desapontada, ela virou as costas e seguiu para a cozinha. Eu quase me arrependi de ter falado com tanta frieza.
( De noite )
Meu pai chegou atrasado, ouvi ele explicando que tivera que passar não sei onde para fazer não sei o quê. De repente, ele surgiu na porta da cozinha e veio caminhando na minha direção.
- Parabéns, meu filho. Seja muito feliz, tenha muitas alegrias na vida - ele disse, me abraçando.
Eu o abracei sem muito entusiasmo, ele me olhou sério. Devia estar considerando se valia a pena falar ou não.
- Harry, eu vendi a fazenda porque era a melhor coisa a fazer. Não entendo nada de fazenda. Fui estudar em Bradford porque a vida no campo não me atraía. Desde que seu avô morreu, ela só deu prejuízo. E a gente não tinha nem casa pra morar.
- Não tem importância. Já nem lembro da fazenda.
Ele ficou me olhando em silêncio. Em seguida, acrescentou:
- Outra coisa, Harry... A Meg e a Katy morreram porque chegou a hora delas. Elas viveram mais de oitenta anos. Eu e sua mãe não temos nenhuma culpa pelo que aconteceu.
Eu permaneci quieto. No fundo, sentia que tinha sido bom comprar a casa onde a gente morava. Assim, eu não teria de mudar para outro bairro, trocar de escola e conquistar novos amigos.
O impasse persistia. Ouvi então a voz de minha mãe, que voltava para o quintal:- Aqui está o seu presente de aniversário. Ele vai precisar dr alguém que cuide dele.
Eu olhei para o lado dela e lá estava o cachorrinho mais engraçadinho que eu já tinha visto. Pequenininho, o filhote tinha uma mancha escura sobre o olho direito. E o resto do corpo, incluindo as patas, o focinho e as orelhas, era tudo branco com pintas negras miúdas. O branco era limpo, e o preto, lustroso, brilhante.
O cão me observou com o ar interrogativo, e eu não resisti. Estralei o polegar no dedo médio e ele veio correndo para fazer festa. Quando me abaixei, ficou de pé nos meus joelhos e me lambeu o rosto. Quem visse diria que o cão me conhecia há anos. Eu me levantei, saí correndo e chamando:
- Vem, Larry, vem!
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Primeiro amor // l.s
FanfictionDezesseis anos... Que idade bonita para o primeiro amor!