Capítulo II

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       — Exato. — confirmou Lívia — Não vamos envolvê-los nisso. Pelo menos não por agora.

    — Então o que faremos, daremos um jeito neles nós mesmos? Iremos destruí-los? — perguntou Kário, que não tinha aberto a boca dês do início da reunião.

    — Acho que nos voltarmos contra eles é muito arriscado. — afirmou Luba e depois argumentou sua tese: — O número de demônios que eles tem é grande. E sabemos que não é fácil matar um deles. Mesmo para nós.

    — Mas nós somos os líderes, temos exércitos. — falou Magno. — iremos preparar nosso povo. Todos nós já estivemos em guerras. Não será nem a primeira nem a última vez que passaremos dificuldades.

    — Temos também um povo a zelar. — afirmou Luna. — Demônios são cruéis, podem atacar nossas vilas e cidades. Não estou disposta a sacrificar minhas ninfas por isso, prefiro que as consequências recaíam sobre mim do que para meu povo.

    Kário passou as mãos na sua extensa barba branca... E os longos e violetas cabelos de Lúcia se moveram sobre a mesa quando ela falou:

    — E se os feiticeiros fizessem barreiras que não deixassem eles entrarem em nossas terras? Existem magias muito poderosas nas mãos deles.

    — Só conheço dois feiticeiros capazes de executar tamanho feito contra demônios. E os dois estão sendo caçados pela Comunidade, não sei se lembram. — disse Lita.

    — Podemos oferecer asilo a eles — argumentou Luna.

    — Nos voltar contra a CAL é tão ruim quanto Lúcifer e Klaus. — afirmou Prina, e estava certa, não se brinca com a Comunidade dos Anjos de Luz.

       O sol a esta hora do dia já estava exibindo seus raios e, a luz castigava sem pudor os olhos alheios. As corujas do sol cantavam alto, e as noturnas fechavam os ouvidos. Lívia que já estava incomodada com isso olhou para a grande cortina que estava nas laterais das maiores janelas do salão e elas se fecharam. Mas a luz solar continuou a entrar pelas frestas menores, impedindo do breu tomar conta da reunião.

    Por mais de sessenta segundos o silêncio prevaleceu. Magno, disfarçava olhar para Kário, e o mago do norte fazia o mesmo. A relação dos dois nunca mais foi a mesma, pois há muito tempo atrás, eles governavam juntos a Cidade dos magos. Mas por divergências políticas cada um foi para o seu lado, e cada mago escolheu a quem seguir, assim foi criada Glomera: governada por Kário, e Rington a comando de Magno.

       As ideias estavam correndo sem rumo pelos neurônios. Agora que Lívia já tinha dado uma previa do que estava por vir, todos tinham medo. Vilas poderiam ser dizimadas, cidades destruídas, vidas tiradas e sangue inocente derramado em vão, mas tudo isso iria ser impedido. E a notícia chegou com uma carta, e uma visita inusitada.

       Felipe, um dos elfos de maior confiança de Lívia, entrou ferozmente pela porta.

    — Minha rainha. — ele a saudou com sua voz grossa e imponente. — Desculpe interrompê-la, mas chegou a pouco um recado da Comunidade dos Anjos, algo aconteceu, uma profecia. Dois representantes da CAL estão vindo encontrar a todos vocês para contar mais precisamente o que houve. — ele disse esbaforido.

    — Obrigada, Felipe. Por acaso eles chegaram a dizer do que se trata a profecia? — perguntou Lívia, de certo curiosa.

    — Infelizmente não.

    — Obrigada, pode se retirar.

       Depois que Felipe saiu, todos ali presentes, até mesmo Scarlett e Ziroy, se entreolharam abismados. A CAL não é de mandar lembranças, se importar, tampouco fazer visitas. Algo de muito sério estava, ou estaria por acontecer. E seja lá o que fosse, mudaria o curso das coisas tanto para os humanos quanto para os Reinos ocultos, como assim chamavam.

    — Eles sabem? — questionou Luba — Sabem que estamos fazendo uma reunião, sem eles?

    — Quanto a isso não há dúvidas, — afirmou Magno — por algum motivo eles sabem de tudo. Sempre.

    — O que eles querem? Não gosto da presença da Comunidade. — disse Lita. A ninfa do fogo, realmente nunca foi com a cara daqueles anjos metidos a besta.

    — Essa é uma pergunta que será respondida apenas quando eles chegarem. — afirmou Lívia, seus cabelos dourados e macios a deixavam muito mais intimidadora do que realmente era. A Rainha das fadas nunca foi o tipo de pessoa com quem se possa brincar, enganar então muito menos. Muito poderosa, ela já comandou exércitos ao triunfo quando lutava com outros reinos. Entretanto, era gentil e bondosa, como nenhuma outra Rainha de Mirian havia sido.

       O silêncio era ensurdecedor. Todos estavam excitados por respostas, haviam se passado quarenta e seis minutos desde que Felipe havia dado o recado. Os oito ali presentes sentiam, intensamente, que algo muito maior que eles estava por acontecer. O nariz pontudo e longo de Kário já estava por ficar branco de ansiedade. Entrementes, as pontas do cabelo de Lita, que mudavam de cor conforme suas emoções, estavam vermelhas alaranjadas de raiva, odiava esperar. Luna, que sempre foi o oposto da irmã, aguardava com calma e disciplina. Lívia mantinha seu semblante calmo, embora um milhão de possibilidades passassem pela sua cabeça, ela sempre foi de muito pensar e analisar. Lúcia estava ereta e com a respiração controlada, tentando não transparecer a ansiedade e nervosismo. Magno estava com suas mãos gigantes em cima dos lábios, e os cotovelos apoiados na mesa. Luba fazia esforço para não pensar em nada. E Prina já estava com todas as unhas das mãos ruídas e em pedaços...

       O sol estava estalando do lado de fora, mas uma forte ventania fria deu uma trégua aos animais que morriam de calor nas copas das árvores. Lívia, ouvindo a movimentação exterior se levantou, foi até a janela e empurrou a cortina, seus olhos se encontraram com cinco anjos que voavam no céu. Um negro, alto, com as asas brancas, uma mulher morena, com os cabelos tão lisos e sedosos quanto o pelo brilhante de Ziroy, um homem baixo e musculoso, e dois em particular que mais chamaram sua atenção: uma mulher alta, tão branca e com os cabelos tão ruivos alaranjados que poderia ser facilmente confundida com uma vela gigante, e o outro era levemente bronzeado, loiro e com uma cara mais amarrada que seja possível imaginar..

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