[1]
Éramos amarelos
como os canarinhos
e os girassóis.
Eu fazia a comida,
você alimentava
os dragões. Eu
escrevia os poemas,
você os queimava
na lareira.
Éramos um fogo só.
[2]
Diziam, os vizinhos, quando
éramos amarelos,
que nossos olhos juntos
eram mais que o sol.
Deus sempre vinha
tomar uísque
em nossa casa
de bonecas.
(Éramos amarelos
e cristãos.)
[3]
Mas isso foi antes
daquele verde
nos seus olhos.
Era domingo
e na tv
nada entretinha
as nossas vísceras.
Você, entre um comercial
e outro, alimentou florestas
ao invés de dragões.
(Era domingo demais
para uma natureza
assim tão vasta,
assim tão brusca.)
Quis sair: mas é domingo.
Era domingo, não
entendi.
Quis sair, eu disse: fica.
Com te conter, eu
te perdi.
[4]
Eu, sozinho,
dei de beber coca-cola
e escrever poemas
pra não queimar depois.
Os dragões morreram todos.
Não sei se de fome. Não sei
se de tédio.