A neve caía vagarosamente do lado de fora, podia quase senti-las ritmadas com a doce canção que tocava no piano de cauda branco. Uma música antiga, passada por gerações há quase um século. O tal Debussy deveria ser muito bom no piano, para que continuassem a ensinar a sua tão famosa clássica "Clair de Lune", nas aulas de Música. Sempre que a ouvia ou a tocava, uma pequena história romântica adentrava minha mente.
Podia quase sentir o que minha personagem sentia na pequena história. Fechava meus olhos e abria a mente para uma grande imaginação, as vezes, mamãe dizia que quase podia ver o que eu imaginava. Claramente aguçava minha curiosidade e a misturava com a grande criatividade. Como teria sido todo o tempo antes de chegarmos até aqui?
- Perdida nos pensamentos novamente, Rebecca... Isso não cabe a uma futura Rainha. – ouvi a voz grossa e rude de meu pai. Meus olhos se abriram no susto e minhas mãos pararam em meu colo.
- Perdão Pai. Resolvi tocar por conta da neve. Mamãe falou-me que nenhum instrutor voltou da cidade a tempo das aulas de hoje. – ele rapidamente fez uma careta e assentiu, saindo da sala em seguida. Meu pai estava mais frio do que nunca esteve. Trabalho e poder, sem filhos, família. Eu sinceramente não sabia como minha mãe havia conseguido ter Grace, minha irmãzinha de 3 anos.
Minha vontade de prosseguir no piano havia partido, então andei pelos corredores em direção a meu quarto. Uma criada me parou após eu cumprimentá-la.
- Vossa Graça, as damas da costura a chamam para terminar os detalhes de seu vestido para seu Aniversário.
- Ah. Muito Obrigada, irei para lá agora! – então saí em direção ao terceiro andar do Palácio. Passei por guardas desconhecidos descendo as escadas, cumprimentei-os intrigada. Deviam ter sido contratados pelo meu pai para a festa.
Entrei no Salão de Costura e as costureiras ajeitavam o traje de um garoto. Era forte, aparentava ser anos mais velho que eu, tinha uma pele pálida cheia de sardas na área das bochechas e cabelos ruivos, com olhos castanhos claros profundos, convidativos. Sem jeito, todos da sala fizeram uma breve reverência e arqueei as sobrancelhas.
- Vossa Graça! Perdão mas não deveria ter chegado aqui agora. Maldita Eve! – a Sra. Clarke estava vermelha e bufava. O garoto sorria levemente, como se tudo para ele fosse engraçado, quase uma piada, o que obviamente me irritou. – Este é o Príncipe William Sparks Garret de Ravage.
Subitamente a irritação passou e corei, arquejando de leve. Se meu pai soubesse que eu estivera na presença do meu possível futuro marido, de uma forma acidental, criados seriam punidos. Pensei rapidamente. Quando o Príncipe iria abrir a boca em protesto do profundo silêncio, o impedi.
- Não! Pelo amor de Deus! O Rei não deve saber que estive em sua presença, então a Senhora poderia liberá-lo? – A Sra. Clarke assentiu e pediu que o Príncipe trocasse suas roupas rapidamente, e este o fez.
Antes de sair da sala, parou a minha frente e fez uma reverência, beijando minha mão em seguida.
- Prazer em conhecê-la Princesa Rebecca. – falou e corei, tirando a mão em seguida. Me irritei, porém ele riu. - Vossa Majestade ou Vossa Graça? O que preferes?
- Nenhum dos dois, lembre-se que nada aconteceu aqui, Príncipe. – ele sorriu de canto, piscando para mim e seus olhos castanhos de profundos passaram a brincalhões. - Estou falando sério, Príncipe. E o modo que deverá me tratar será um assunto para outro momento, visto que não nos conhecemos ainda.
- Perdoe-me Princesa Rebecca. Prazer em não tê-la conhecido ainda. – um sorriso brincou em seus lábios e eu revirei os olhos, evitando sorrir de volta. - Ah, perdão também pela minha incômoda presença repentina. - ele me reverenciou e deixou a sala.
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Recôndito
Historical FictionEm um futuro distante, o mundo é exatamente o esperado. Escassez, poder, sangue e fome. Ele está separado em duas sociedades, o Ocidente é denominado Ravage e o Oriente é chamado Remediation. Duas políticas diferentes, um segredo escondido. Quando t...