Capitulo 1

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Meus cabelos perfeitamente arrumados e ruivos, descem sobre meus ombros, e meus olhos verdes chamativos encaram o espelho a minha frente, arrumando a gola da camiseta de botões, e dando os últimos retoques na saia.
Havia se passado muito tempo, muitas matérias sairam no jornal, e muitos a procuravam, e sendo assim, Daphne decidiu deixar-me ter aulas particulares em casa, fazendo o professor jurar que não daria a localização para os jornalistas tiranos.
Quero dizer, não é todo dia que em uma cidade pequena, temos um assassinato tão macabro quanto aconteceu com meus pais.
Só de lembrar daqueles momentos, os pelos de meu corpo se eriçam, e o meu batimento cardíaco acelera.
1, 2, 3 Madison. 1, 2, 3. Controle-se.
Essa mesma voz automática em minha mente, havia me acalmado durante os dez anos que se passaram.
Era como se a obedesse-se e ficasse feliz comigo mesma.
A sensação estranha tem dominado meu corpo, e a única coisa que eu quero realmente, é dar a volta por cima.
Não que eu não tenha dado, quero dizer, afinal, não passo todas as noites chorando como passava, mas o luto ainda não havia saído de mim.
Lembro como se fosse hoje do dia do enterro...caixões fechados pela deformação dos corpos, frios e com cheiro de decomposição. Deixaram para enterrar muito tempo depois, considerando que estavam "examinando" o corpo.
Não acreditava em nada disso, porém, não podia fazer nada.
Daphne tem sido uma mãe-postiça e tanto! Sempre prestativa, e muito amorosa. Vivia tratando os pacientes, por isso, dificilmente conseguia sair do hospital, então, fez a coisa que achou ser mais inteligente: comprou um cachorro.
Ela pretendia subornar a vizinha, para que a filha me fizesse companhia, mas descobri logo, e tratei de tirar a idéia de sua cabeça.
Sou o tipo de garota que nunca conheceu ninguém do mundo afora, sozinha, e com muitos boatos a respeitos.
Uns diziam que eu tinha fugido para Nova York, e iniciado uma carreira de atriz de comercial de yogurte.
Outros que eu era a mendiga estranha do beco, e que tinha entrado no mundo das drogas e da prostituição.
Mas a única coisa que eu havia feito, era me isolar, e seguir em frente.
Porém, a exatos 2 meses, eu me formei. Tudo bem, não tive uma educação exemplar, porém, foi o bastante.
Cursei faculdade a distância, depois que a senhora Colins terminou seu trabalho comigo durante o ensino fundamental e médio.
Tratei de iniciar em direito, e logo depois de cinco anos, me formei e fiz especialização em investigação criminal e retrato falado.
Muitos acham que quando você se forma, simplesmente entra em um site de empregos, arranja um, e começa a trabalhar.
Eu achava isso, porém, percebi que era totalmente diferente.
Agora, dez anos depois do ocorrido, eu amadureci, não sou mais a menina ingênua dos meus treze anos.
Tenho o corpo e a mente de uma mulher adulta, o que significa que eu tenho mudado fisicamente também, e isso me ajuda muito, considerando minha reputação.
Não quero a pena de ninguém!
E sei, que se descobrirem quem sou, não demorará muito para todos os boatos voltarem.
Quero apenas ser uma adolescente normal...com um namorado, uma turma de amigas que fazem festas do pijama constantes, e um professor gatinho que eu possa olhar e pensar: Uau!
Porém, cá estou eu, encarando o espelho, em busca de minhas imperfeições. Haviam algumas espinhas na bochecha direita, mas misturadas com as sardas, acabam nem aparecendo.
Meu nariz era levemente arrebitado, o que dava um ar de graça, porém, meus grandes olhos, me faziam parecer uma boneca de desenho japonês.
Aparentemente, eu era um para-raio para nerds viciados em vídeo-games, considerando que se eu prender o cabelo no alto, e espantar ele, viro exatamente um cosplay de uma misty do Pokémon.
As vezes sou mais nerd do que penso...
Nunca me apaixonei, porém, já senti uma leve atração pelo meu vizinho de janela, que era lindo, com um belo par de olhos castanhos e cabelos igualmente escuros, com uma pele quase albina, e um corpo nem tão malhado, nem tão magro...Não que eu tenha percebido tudo isso!
-Madison Browter, desça agora mesmo para pegar seu café da manhã!-gritou Daphne, do andar de baixo.
É tão estranho...Eu nunca mais fui chamada de Madison Layer. Meu nome verdadeiro, no caso. Agora virei Madison Browter. A filha da enfermeira mais bonita do hospital da cidade.
Busco minha bolsa preta, e penduro sobre meu ombro, tentando encontrar um lado profissional dentro de mim, e então, abro a porta do quarto em que passei a maior parte de minha vida, saindo uma ou duas vezes ao ano, apenas quando Daphne se esquecia de levar os comprimidos para regular minhas emoções.
O corredor, mesmo estando do lado de fora de meu quarto o tempo todo, parecia uma coisa inusitada, e considerando a grande janela acima das escadas, eu realmente poderia ser vista pelos vizinhos.
Meu problema não é ser vista, e sim, reconhecida.
-Já estou indo!-grito de volta.
E assim, desci as escadas, agarrada ao corrimão, para finalmente chegar a sala, onde Daphne a esperava com um sorriso esplendoroso no rosto.
-Oh querida...É tão difícil ver você solta novamente...-murmurou Daphne, limpando algumas lágrimas que brotavam em seus olhos.
Sorri, indo abraçá-la, e murmuro em seu ouvido:
-Eu sei, mas, quando menos perceber, vamos finalmente ter uma vida normal, e logo, você terá netinhos, uma filha formada, e um genro maravilhoso. Isso, se não encontrar um marido antes!
Lhe lançei uma piscadela cúmplice, lembrando do Dr. Simons, o chefe de Daphne, que vivia lançando alguns sorrisos alinhados e brancos na direção da mesma.
Daphne sorriu, vermelha de vergonha, e seus cabelos agora na altura dos ombros, caíram sobre seus ombros.
-Ora, mais respeito mocinha!-fala ela, sorrindo.
Sorrio de volta, e então, pego a maçã que ela me estende, e posto um beijo sobre sua testa.
-Se cuida, eu volto logo. Amo você.-falo a encarando.
-Eu também amo você. -responde sorrindo e então, penteia meus cabelos com os dedos, os colocando atrás, nas costas.
Lhe lanço um último sorriso, antes de me virar, e sair porta afora.
A claridade, me cegou por um momento, mas, logo que me acostumei, me encantei com os vizinhos que andavam pela rua.
Uma mulher leva um cachorro na coleira, que eufórico, a arrasta pela rua. Um homem arruma a gravata, e aperta a mão sobre a maleta, nervoso com algum problema em questão. Um casal apaixonado, com as mãos dadas, sorriam entre si, cúmplices, e davam uma caminhada matinal, com o sol batendo sobre seus rostos, e mostrando o brilho do amor em seus olhos.
Eu queria ter esse brilho.
Suspiro, me afastando, e então, vou até o ponto de ônibus, como Daphne me ensinou.
Algumas pessoas sentadas, me encaram curiosas, e em um ímpeto de fúria, olho para a senhora sentada a meu lado, lanço um sorriso singelo, e aceno movimentando um dedo de cada vez, lentamente.
Ela me encara fixamente por alguns segundos, e então, sorri de volta, abaixando a cabeça pela vergonha.
Encaro a rua, com uma sensação de vitória dentro de mim, e então, me volto para o passe de ônibus, o rodando entre os dedos.
Eu estou nervosa, isso é fato, mas não é todo dia que você saí pela primeira vez em 5 anos.
E esse dia eu tenho uma sensação de que irá ficar para a história.

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