Contas Vencidas

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A neve caia. As pequenas colinas de Twin Falls se cobria de um branco impecável. Era noite.
Helen pediu para Carlin um chocolate quente e, como sempre, foi ao Buffalo Cafe buscar.
Helen mexia nos documentos em cima da mesa que o xerife havia deixado para que ela pudesse verificar e mandar as assinatura para o Departamento Estadual.
"Adolescente Mary Vivian Walter, 16 anos, morta e arrastada por um ataque de urso. Legistas do DCA(Departamento de Ataques Animais) deu o caso como terminado na tarde do dia seguinte."
Helen fechava os olhos em indignação ao ler o pequeno trecho de apresentação do caso da jovem Mary. O DCA não queria prolongar e ter gastos para a investigação detalhado do curso do corpo até o palco do Park City. "Pequenas cidades. Casos comuns", foi o que o investigador Carl disse antes de sair naquela noite da delegacia.
-Delegada Helen - disse Carlin, colocando a cabeça para dentro da sala.
-Oi, Carlin - disse Helen, se desconcentrando das fotos que embrulhava em envelopes do caso de Mary.
-Seu chocolate - ela entrou de vagar, com uma caneca branca estampada com o rosto de um búfalo, cheia de chocolate. Carlin era uma senhora de aproximadamente cinquenta anos, olhos verdes profundos e cabelos negro(pintados). Sempre usava o mesmo suéter de linho verde com o emblema da policia de Twin Falls.
Ela deixou a caneca em cima da mesa, longe dos papéis. Encarou as fotos.
-O caso da pequena Walter, não é?
-Sim - disse ela abrindo o lacre da caneca e tomando um pouco da bebida - infelizmente, fecharam o caso antes mesmo de eu poder ver o corpo. Acho muito estranho um animal arrastar uma vítima por uma estrada movimentada sem ser visto.
Carlin parecia obter toda nas fotos. Pegou uma nas mãos.
-Houve um caso parecido com esse a quase quinze anos atrás delegada - dizia ela, colocando a foto do peito nu da vitima com o corte artificial e buraco no coração de volta na mesa.
Helen pegou a foto. Olhou a linha linear que se formava no peito, era como se não precisasse dele ali, como se qualquer animal não tivesse inteligência para usar suas garras para isso.
-Igual - disse ela, guardando a foto em outro envelope e carimbando.
-Sim - Carlin se sentou na cadeira de frente à mesa - o filho do professor Cornet, acho que era Philip o seu nome. Ele havia saído com uma turma depois da faculdade para uma acampamento em Jerome. Adolescentes em busca de sexo e aventuras - te virou os olhos - os amigos dizem que ele começou a passar mal, sua pele ficar cinza. Falaram a DCA que ele foi lavar o rosto perto de uma casa particular ao fundo do acampamento. Sua namorada a achou pela manhã perto do rio com cortes profundos e um bem parecido com esse _ olhava o envelope que ela assinava embaixo do carimbo vermelho - encerraram o caso assim como esse. Ataque animal.
Algo estranho nascia em Helen. Um desejo de reabrir o caso. De tentar encontrar o "animal" que fez isso.
-Sabe como faço para encontrar o Sr° Cornet?
-Infelizmente, ele se mudou para o Brasil um tempo depois.
-E a namorada?
-Morar na verdade não sei, mas esses dias fui comprar alguns produtos orgânicos no Smith's na Addison Ave E e ela estava trabalhando como caixa la. Porque o interesse?
Antes que pudesse dizer algo a mais, Helen já havia levantado e pegado seu paletó na cadeira ao lado do armário de arquivos.
- Obrigado pelo chocolate quente - disse ela saindo rapidamente da sala.

***

Os pelos voavam. A neve nunca foi tão violenta perto da ponte Perrine Bridge. A velocidade de Jacson aumentava a cada distancia percorrida na margem do rio Snake River, ele estava atrás daquela figura negra que corria diretamente para a densa floresta que se evacuava para os lados da margem.
Enfim, Jacson estava onde deveria estar. De frente, a antiga casa de veraneio da família Pedragon. As luzes estavam apagadas, apenas a lua iluminava a figura larga de madeira sobre a água. Uma silhueta canina enorme estava na ponte que dava ligação para a casa. Apenas seus olhos vermelhos eram evidentes em meio a escuridão.
Agora, andava lentamente até a entrada da casa. Jacson observava, sem se mexer. Não lembrava que seu irmão era tão rápido, nem que conseguia controlar a velocidade daquela maneira. Por pouco, Jacson não o perde de vista. Mas, por algum motivo ele esperava que ele fosse trazer ele ali, foi ali que tudo começou. Nada mais justo que terminar ali.
Agora, a forma esguia do lobo se dissolvia como poeira, os músculos iam criando formas naturais e os ossos voltando ao formato humano. A figura que entrava na casa, não era mais a canina que Jacson persseguia e, sim, a de um homem alto de cor negra.
Jacson correu, ainda na forma de lobo até a ponte. As luzes se acenderam. Os vidros da sacada baixa refletiam e aumentavam a claridade, de repente havia luz por todos os cantos. Jacson olhava com os olhos negros em direção a porta aberta em sua frente, mas a luz o cegava, apenas um vulto negro se destacava em sua frente de pé. Então, algo foi lançado. Encarou o chão. Eram roupas.
Jacson deixou sua forma lupina, seus pelos se tornaram cinzas e daquele corpo quadrúpede longo e músculos surgiu um homem nu de quatro. Apenas um amuleto em seu pescoço se sobressaía. Ele pegou primeiramente a calça jeans e a jaqueta, somente quando viu que a figura negra estava parada no sofá pôs os sapatos.
Tirou o amuleto do pescoço e colocou nas mãos. Ele havia se esquecido como aquela entrada era grande e iluminada a noite pelas luzes internas. Colocou as mãos na pilastra central da sala e pulou em um ápice repentino em direção ao vulto no sofá, mas apenas conseguiu destruir a pequena poltrona azul.
Jacson encarava o ar, tentava entender. Nem mesmo ele era tão rápido. Nem mesmo ele era tão astuto para precaver uma ataque daquele.
Ele observava a enorme sala quadrangular a sua frente, lustres de cristais realçava as grandes luzes no topo, o piso era do mesmo jeito que lembrava, frio e de madeira fina. Havia um sofá que compunha toda parede e uma mesa de vidro baixa italiana no centro.
- Se mamãe estivesse viva ficaria furiosa com você - uma voz saia da escada - ou melhor, ela daria um jeito de colocar culpa em mim.
Era Nicolas. Agora, mais parecido com ele. A não ser pela barba por fazer. Ele estava sentado em um dos lustres, olhando com os olhos negros para Jacson.
-Esse amuleto - apontou para o objeto brilhante que sobressaía pela sua camiseta.
Nicolas saltou na frente de Jacson. O encarava com frieza. Empunhou o amuleto e colocou na visão de ambos.
- Papai me deu antes de morrer, foi a única herança que me foi confiada, pois afinal tudo ficou para você - disse ele jogando Jacson sobre a mesa. Cacos voaram para todo lugar. O chão se cobria de sangue.
Jacson estava estirado no chão. Nicolas com a mão direita apertando seu pescoço para que ele não se soltasse.
-Cadê seu bando, Jack? Te abandonaram?
Disse ele em um tom sarcástico.
-Pedi que não se envolvesse nisso, afinal, em briga de família não se pode intervir a não ser os próprios familiares e como não tem mais papai pra te proteger...
Os olhos de Nicolas mudaram do negro para um vermelho fosco. Sua mão esquerda serravam-se em punho. O amuleto brilhava na luz.
-É diferente ele em seus pescoço - disse Jack olhando para o amuleto que balançava em sua frente - afinal, não é qualquer falsche hunde que pode usar um desses.
Nicolas pressionou o pescoço de Jacson no chão fazendo a madeira se romper. O punho fechou e o soco era certo. Fatal.
Mas repentinamente, o vento foi cortado. Uma figura forte e grande jogou Nick para o sofá, fazendo ele se desmontar em duas partes. Era um lobo. Seus pelos eram diferentes dos de Jacson. Tinha uma pelagem branca apenas nas patas e em um círculo no focinho. O restante era de uma cor negra. Mesmo sendo menor que a transformação de Jack ainda era enorme e musculosa. O animal rosnava. Seus dentes estavam pressionados. Seus olhos vermelhos, raivosos.
Jacson se levantou. Se aproximou do lobo, e se apoiou em seu corpo. Olhavam para Nicolas se levantando.
- Bem que dizem que covardes carregam sempre consigo seus lobos de estimação - ele se apoiava na pilastra que fazia formação com a escada - como mamãe dizia mesmo?
-Homo lupus homo - disse Jacson, ele se virou para o animal gigantesco - Eion disse a vocês que não interviessem. Volte ao bando!
Eion olhou para Jacson. As grandes feridas já não estavam mais em seu rosto, apenas o sangue em sua roupa. Eion abaixou a cabeça e se dirigiu para a porta. Andou lentamente sobre a plataforma de entrada, como se esperasse que algo acontecesse para poder retornar. Mas sua silhueta sumiu, nem Jackson e Nicolas se moveram.

Escape Da Fúria - Dias De Guerra(LIVRO 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora