Capítulo 2 - Cristal

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2017

Amanheceu. Quinze.

Hoje eu não cumpri a minha rotina milimetricamente organizada.

Enquanto Breno saía do banheiro e descia as escadas para ligar a maquina de café expresso, eu permanecia na cama e me colocava a pensar como quinze anos passaram tão rápido.

De repente meu casamento debutou. E se fizéssemos um balanço o que construímos? Em que evoluímos?

O relógio de parede marcava vinte para as sete da manhã. Mesmo no escuro eu conseguia ver os ponteiros se movimentando e isso se tornava extremamente irritante! Ele me sinalizava que o tempo está passando e eu sinceramente não sei o que fazer.

Na época eu não via mais saída para o nosso casamento. Precisávamos de ajuda e a terapia de casal foi o que primeiro me veio a mente. 

Quantas vezes marquei e ele resmungava que terapia era uma perca de tempo.

Mas depois de muita insistência a dois meses Breno aceitou ir a terapia de casal.

O combinado foi uma vez na semana. E assim seguimos sem muitos avanços.

Recordo-me que coincidentemente hoje é dia de terapia.

Ligo a luz do abajur e procuro minha agenda que está sempre no meu criado mudo ― sem minha agenda eu não sou ninguém ― e está lá de caneta vermelha, consulta com Doutora Meg ás dez horas da manhã.

Respiro fundo. 

Será mais uma consulta em vão?

Não sei, eu só sei que não posso desistir.

Vou para o banho e tento colocar a minha melhor capa. Ou digo minha melhor roupa?

Breno está lendo o jornal, sentado a mesa de café da manhã. O terno pousado no encosto da cadeira e a gravata ainda sem dar o nó. Como em todas as manhãs.

Não há flores, nem músicas ou declarações que tornavam a lembrança de mais um ano de casados especial. Nada. Essa rotina me corroí.

Caminho em direção a mesa e pego duas fatias de pão integral.

― Bom dia amor.

― Bom dia. 

Breno nem se dá ao trabalho de levantar o olhar e me cumprimentar. Seus óculos de grau miram as letras do caderno financeiro do jornal.

― Você tem algum compromisso hoje de manhã ou vamos direto para a consulta? 

 Todo dia de consulta eu faço a mesma pergunta.

― Hoje é dia de terapia é? 

E toda vez ele me dá a mesma resposta.

― É sim Breno...

Preparo meu sanduíche de queijo minas ― de costas e em pé na bancada ―onde eu escondo a minha frustração.

― Eu vou direto com você, hoje não tenho nada pela manhã.

Fico surpresa. Ele sempre  tem uma desculpa... Meu coração dispara, será uma luz no fim do túnel?

***

Chegamos cedo ao consultório da Doutora Meg.

A sala onde ela atende os casais é muito bonita, agradável e de uma decoração de muito bom gosto. Daqui avistamos uma bela escultura no canto esquerdo da sala e uma grande luminária com uma luz amarela que trazia um tom acolhedor ao ambiente.

Sem Você  (DEGUSTAÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora