Com minhas mãos ardendo e olhar embaçado, continuo andando... Não sei o que estou buscando, na verdade só quero achar um lugar para ficar essa noite.
Foi tudo um desastre, fogo, vidro explodindo, e um único pensamento: será que eu fiz mesmo tudo isso? Acho que não, deve ser um sonho, isso sim, um grande e horrível sonho que logo - espero eu - acordarei, e irei comemorar com todas as minhas forças por não ter mandado tudo aos ares.
Avisto uma ponte um pouco mais a frente. Estou cansada e com frio, a neblina já desceu e tomou conta, mas eu não tenho outra saída, vou ter de dormir embaixo da ponte. Não que isso seja horrível, já dormi em locais piores, inclusive o dormitório do orfanato, mas não era tão ruim... Tinha um cheiro indecifrável de mofo e coisas que ninguém sabe o que é junto com algumas dezenas de adolescentes que não tomam banho e ainda tem esperanças de acharem um lar. Deprimente. Atravesso a avenida da ponte e avisto meu hotel cinco estrelas, o chão de concreto, gelado, sujo, o mal cheiro exalando, um dos piores locais para ter uma noite de sono revigorante. Mas, terá que servir, eu nunca fui lá uma dama, sempre durona e com a cabeça erguida, não por querer ser mais que os outros, apenas porque a vida me ensinou a ser assim, não sinta, não fale, absorva o máximo possível, não sonhe muito. E nunca, nunca ache que será adotada depois dos sete anos.
Deito no chão gelado, o barulho dos carros e o cheiro de gasolina queimada são insuportáveis, demora um pouco para o sono chegar, alguns minutos ou horas. Mas, na hora que durmo, é o mesmo e maldito sonho de sempre.
- Um dia seu espírito será meu, todo meu - a voz dela era suave e agressiva como se fossem seda e espinhos cortantes, afiados e maldosos - Sinceramente você sabe que vai ser minha... O seu lado obscuro já está desabrochando, que orgulho da minha menininha. Então, vai escolher ficar comigo ou morrer em?
Estou tendo uma visão aterrorizante da mulher que estava dizendo isso, ajoelhada no chão de terra, com seus cabelos ruivos sujos, suas vestes estavam um pouco rasgadas e pra lá de batidas, ela era bem magra, eu até diria que ela é fitness se a situação fosse outra.
- Então, deixa eu te contar... Depois que você acordar algumas pessoas virão atrás de você, pra te contar dos Elementares blá blá blá. Eu não gosto muito de explicar, isso é com eles. E ai vão te convidar pra ir em uma Ilhazinha, estudar e ser "forte" - todas as palavras que saíam de sua boca era com um tom de ironia, gosto disso - Mas, isso é propaganda enganosa, na verdade quero que você vá com eles e me conte tudo que ver.
- Por que eu iria dar informações a uma louca igual você? - finalmente eu consigo dizer algo, e foi a pergunta mais idiota da minha vida.
- Pelo mesmo motivo que eu vou lhe manter viva, eu quero informações e você não quer morrer.
- Só tente me machucar, vadia. - minhas palavras foram automáticas, saíram e eu nem percebi.
Ela tirou os joelhos do chão de terra, levantando-se, ficando parada, com seus olhos verdes olhando diretamente nos meus, como se fossem farpas, prontas para atacar.
- Quer ver o que eu posso fazer com você sua trombadinha? - diz jogando as palavras na minha face, como se estivesse ensaiado.
Ela vira o olhar para a direita encarando o chão. Em um segundo meu corpo apareceu, na terra, sujo e machucado.
- Olha menina, não tenho tempo para ficar te convencendo, você vai fazer o que eu mandar, e vai me servir, está entendendo?
Não respondi nada, estava surpresa e chocada o bastante para responder, imagina participar de planos fantasiosos malucos.
Com um movimento rápido ela colocou a mão direita em meu pescoço e começou a apertar, me deixando com dificuldade para respirar.
- Eu perguntei se você entendeu.
- S-sim entendi - susurei baixinho sem ar.
- Ótimo, tenho certeza que essa parceria vai ajudar ambas partes. E não se esqueça do que posso fazer com você viu.
Ela se vira e vai caminhando até sumir na neblina. Meu coração começa a acelerar e bater forte, e eu fico com dificuldade para respirar. Começo a debater meus braços e abrir a boca para tentar respirar mas tudo é em vão. Não consigo aguentar minhas próprias pernas, estão pesadas e pedendo pra baixo... Sinto minha alma ardendo em chamas como se alguém tivesse colocado fogo, não tenho mais vontade de viver.
"Não se esqueça do que eu posso fazer com você"
A voz ecoou na minha cabeça, como um aviso.
Então em um piscar de olhos meu ar voltou, me senti eu mesma novamente, as pernas estavam fortes como a de um touro.
- Miranda, Miranda acorda! - uma voz grave e forte começou a me chamar, provável que seja as carcereiras do orfanato, elas tem voz de homem mesmo. - Miranda Grol Lance acorda!
Opa espera, chamou meu nome completo? Geralmente elas nem sabiam o primeiro.
Levanto com um sobressalto e estou no mesmo chão de concreto, o som alto das buzinas, gasolina, lixo e tudo que tem direito nesse maravilhoso hotel. Ainda está amanhecendo, me sinto péssima e nada denscansada.
Olho para o lado e duas pessoas estão lá, levo um susto por não ter notado a presença deles antes, uma mulher e um senhor, os dois tem aparência impecável ambos bem vestidos.
- Miranda? - o senhor começa com aquela voz de locutor.
- Eu, mas olha... Foi um acidente, simplesmente pegou fogo, não quero voltar pra lá, por favor me deixem ir embora - começo a gaguejar e fazer uma confusão com as palavras.
- Não, nada disso. Viemos conversar sobre os Elementares.
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Os Elementares
FantasyMiranda é uma jovem de 17 anos que vive em um orfanato empoeirado e comum... Bem, vivia, até coisas estranhas começarem a acontecer, e ela acidentalmente colocar fogo em sua antiga "casa". A solução que encontrou foi fugir do orfanato. Mas não espe...