Os Elementares

Histórias e descobertas.

- Não, nada disso. Viemos conversar sobre os Elementares.
Eu já não entendia o que estava acontecendo, quem eram aquelas pessoas e muito menos o que seria Elementares.
- Sr. Manson não seja tão direto com a pobre criança. - a moça disse e virou-se para me observar - Miranda Lancce, foi difícil achar você em.
Ela estava muito bem arrumada, os olhos verdes claros combinavam e ficavam exatamente perfeitos com o contorno do seu rosto, seus cabelos castanhos claros realçavam a pele branca, usava botas surradas verde musgo, calças jeans rasgadas e uma bata branca de crochê que lhe caiu muito bem, tinha alguns anéis nas mãos, e um colar grande de couro e enrolado em pedras.
- Sou a Hallyson, não precisa ficar receosa, só queremos conversar...
- Vocês vieram pelo que aconteceu no orfanato? - digo gaguejando um pouco - Eu não sei o que aconteceu, estava com raiva e de repente o fogo apareceu, olha, eu odeio aquele lugar, mas sei que é o lar de muitas garotas... Nunca faria aquilo com elas.
Quando menos espero as lágrimas estão em meus olhos, saindo como sentimentos guardados, secretos e que podem me fazer explodir a qualquer momento. Não gosto de chorar, na verdade acho que é algo pessoal demais para compartilhar.
- Se acalme minha cara - o senhor começa - nós temos conhecimento do que aconteceu na noite passada, mas também sabemos o motivo.
Ele tinha cabelos grisalhos, olhos pretos e um chapéu escuro cobrindo sua cabeça, vestia roupas elegantes mas um tanto quanto velhas. O Senhor levantou e me ofereceu sua mão:
- Mas que falta de educação a minha...  Meu nome é Richard Manson, todos me chamam de diretor Manson, mas só para os íntimos - ele deu uma risada grosa e olhou para a mão do mesmo esticada, me lembrando que tinha de levantar.
Pego em sua mão e tomo um impulso para erguer meu corpo que não estava mais me obedecendo muito bem nos últimos dias.
- O Senhor vai me desculpar mas ainda não entendi porque estão aqui. São assistentes sociais? - digo da forma mais educada possível, eles estão sendo legais comigo, não quero parecer chata.
- Nós não somos assistentes sociais - Hallyson diz se levantando do chão gelado - Mas, viemos conversar sobre o que houve no Orfanato.
- Eu já expliquei, podem me chamar de maluca ou qualquer outra coisa, mas o fato é que eu não sei o que aconteceu.
- Miranda - o Sr. Manson começa - nós sabemos que você está confusa, cansada, sem saber para onde ir. Porém, se aceitar minha proposta, terá um lugar para ficar, e descobrirá tudo o que está acontecendo consigo mesma. Todos nós passamos por isso, sabemos como é estar se perguntando o que é de verdade.
- Não me entendam mal, mas eu não estou querendo mais um orfanato para ficar. Quero independência, conseguir um emprego em qualquer lugar, não posso voltar a vida de humilhação e tutoras agressivas. - começo falando tudo que eu estava com vontade de dizer. - E também, quem me garante que esse lugar não será como os outros?
- Talvez porque não é um Orfanato, e sim uma Ilha, eu lhe garanto que se não gostar te trago de volta.
- Uma Ilha, assim como a mulher do pesadelo disse - deixo escapar pensamento alto. 
- Mulher do pesadelo?  - Hallyson pergunta olhando para o Senhor de uma forma um tanto quanto desconfiada - Que mulher?
- Ah, não é nada, eu tenho alguns sonhos com a mesma mulher a um tempo... Mas isso não tem importância, tem?
Manson tira uma foto do bolso da sua calça e entrega em minhas mãos:
- Por acaso seria essa?
A foto estava um pouco suja, com cara de antiga, algumas manchas, embora eu reconheceria aquele rosto em qualquer lugar ou imagem velha. Era ela, que estava me ameaçando em meus sonhos. Sua expressão leve, parecia mais nova, como se a foto estivesse sido tirada muitos anos atrás; talvez dez ou doze.
- Sim... Sim é ela - digo assustada e surpresa - Mas como você tem uma foto dela? E como... Como eu...
- Se ela está em seus sonhos, as coisas estão piores do que imaginávamos - o Sr. Manson diz me interrompendo.
Eu já não sabia no que acreditar. A expressão passiva dele havia sido substituída por preocupação.
Mas vamos combinar, isso está muito estranho. Recapitulando: orfanato pegando fogo, outro pesadelo com a bruxa velha, acordar com pessoas falando sobre Elementares (?), ou seja, devo estar muito louca.
- Manson, conte logo á ela. - Hallyson diz - essa menina é teimosa, não irá conosco sem saber a verdade.
- Ei, eu ainda estou aqui.
- A Hallyson tem razão - ele começa - você tem que saber algumas coisas antes de escolher ir conosco ou ficar e ser independente.
- Os Elementares são pessoas que conseguem controlar algum elemento, como o próprio nome diz. Alguns são muito raros, pois sabem domar mais de um.
Somos muito antigos, e, para falar a verdade, ninguém sabe quando começamos, minha tese é que desde o princípio estamos aqui, nossos antepassados provavelmente observaram o mundo evoluir, mas isso é outra história.
Sua mãe era uma Elementar rara, ela tinha uma grande afinidade com a água, mas em uma ocasião nos mostrou que também controlava o fogo, o que é muito contraditório e especial, daí que veio seu elemento.
Às vezes alguns de nós não consegue domar seu verdadeiro eu, foi o que aconteceu com a mulher dos seus sonhos, então ela virou-se contra os Elementares, Elizabeth conseguiu um exército de povos africanos, a maioria controlando a terra, e então a mesma deu início a guerra. Travamos uma longa batalha e depois de muito lutar, com a ajuda de sua mãe vencemos. Mas não para sempre. Ela fugiu, com alguns aliados poderosos; antes de partir nos prometeu que um dia voltaria, e se vingaria de cada um que não concordou com seu plano.
- Mas quem era ela? - pergunto tentando não demonstrar a confusão que estava em minha cabeça - E vocês demoraram tanto para vence-lá?
- Vamos deixar as perguntas para o final ok - ele se recompõe e volta a falar - Quando sua mãe quis batalhar com essa mulher, para tentar mata-la você era apenas uma garotinha, o Phillip seu pai faleceu antes de você nascer... Então Meire decidiu que enfrentaria Elizabeth, pois ela estava sem controle.
- Então eram Meire e Phillip - penso alto demais - Os nomes dos meus pais.
-Você não sabia o nome deles? - Hallyson me pergunta e faço um aceno com a cabeça.
- Mas minha mãe...  Conseguiu derrotar a mulher?
- Nada de perguntas até o final lembra? - o diretor volta a falar - Depois da batalha entre as duas nosso mundo teve uma pequena queda... Muitas pessoas morreram, o sofrimento se espalhou, pois Elizabeth começou a matar Elementares, até hoje não sabemos o porque, afinal, ela sempre protegia nossos irmãos de elemento e queria matar quem não tinha afinidade nenhuma, quem desconhecia desse poder. Desde tudo que aconteceu, o caos vem adentrando mais e mais no mundo Elementar... Mas você não deve se preocupar com isso, lógico.
Estou bem confusa agora. E pra falar a verdade, só estou começando a acreditar porque na noite passada fogo saiu de minhas mãos, se não fosse por isso eu já teria corrido dessas pessoas. Mas, algo dentro de mim, talvez intuição, ou simplesmente loucura, existe alguma coisa que me diz para acreditar. Acreditar em cada palavra, como se fossem as mais verdadeiras que já ouvi no decorrer da minha vida. 
- Hallyson, você pode ir pegar o carro por favor? - ele pregunta tirando-me de meus pensamentos. - Com prazer.
Ela sai andando até uma curva na avenida, no acostamento havia um carro antigo, Hallyson abre a porta do mesmo e eu não acredito que eles estavam andando naquilo.
- Então Miranda, vai vir conhecer a Ilha conosco ou ficar ai esperando chegarem pessoas para te levar a um outro orfanato ou algo pior?
- Digamos que eu escolha ir, se eu não gostar, posso voltar não é? Espera, e as perguntas que eu ia fazer? Não querem me responder?
- Sim, eu não vou tirar o seu direito de escolher o que é melhor para si mesma... E sobre as perguntas, você pode fazer as mesmas no carro a caminho da Ilha.
Hallyson encosta o carro e buzina para nós entrarmos.
- Se decidiu coisinha linda? - ela pergunta
- Eu acho que não custa ir conhecer, afinal, não sei como vocês vão conseguir me provar que isso existe mesmo.
- Vai se surpreender, não tenha dúvidas. Entre no carro que vamos para um lugar especial. Você nunca vai se arrepender de ter ido conhecer A Ilha.