Eu e o Senhor Manson entramos no carro e Hallyson começou a dirigir. Não sabia para onde estávamos indo, muito menos se existia alguma Ilha do jeito que eles estavam dizendo.
Na verdade eu devia acordar para a vida, isso não era real. O fogo, os elementos, essas pessoas com histórias de guerras passadas, meus pais. Nunca foram reais, apenas minha imaginação voando e tentando fugir dessa realidade desanimadora.
- Miranda, então você não sabia sobre ninguém? Quer dizer, sobre seus pais e tudo mais - Hallyson perguntou tentando puxar assunto.
- Não, nunca consegui lembrar de nada - respondo sinceramente - algumas vezes pensava em possibilidades, nunca lembranças... Poderia até ter alguns relances, mas não tinha certeza se era verdade ou fantasia.
Engulo em seco lembrando das vezes que pensei em meus pais... Fui abandonada muito cedo, então tive que lidar com a solidão... Mas a possibilidade de existir alguém que me amou, mãe e pai, família, isso soava tão bem, mas tão difícil de se lidar na prática, quando eles na verdade não estão mais aqui, mortos... Não que eu sinta falta deles, nem os conheci direito, porém, o fato de saber que alguém da minha família lutou em uma guerra para salvar o mundo, para me salvar, a isso era muito estranho e consequentemente animador.
- Agora estamos com você - o diretor começou - Como mencionei, todos passamos por isso... A dúvida, os questionamentos internos, a cobrança. Sabemos perfeitamente como se sente. Alguns de nós já nasceram em famílias Elementares, então não tiveram de passar por isso, pois já sabiam que seriam diferentes e que isso era um dom. Mas a grande maioria era "normal"... Bem, até algo importante que libertasse o seu elemento adormecido acontecesse. Foi como aconteceu com você, Miranda. Não sei ao certo o que houve no orfanato, mas provavelmente se sentiu enfurecida, triste ou simplesmente sentiu O Elemento. Isso, se chama Iniciação. Quando você liberta seu poder, até o ocorrido, ele estava digamos, dormindo, ausente. Me diga... Nessas últimas semanas, você sentiu algo estranho? Pode ser um pressentimento, ou apenas ter feito algo inexplicável, diferente...
Minha mente começa a trabalhar, tentando relembrar as últimas semanas... Passo por todas as lembranças horríveis no orfanato: surras odiosas, dias sem comer, o fogo nas minhas mãos, as janelas explodindo...
- Posso perguntar algo antes de responder? - digo, buscando algumas respostas.
- Claro, pergunte o que quiser e lhe responderei da melhor forma possível, tudo que eu puder. - ele responde de forma amigável.
- Não sei como dizer isso mas... Como vocês sabem o que aconteceu ontém? Quero dizer... Tem algum rastreador como nos X-Men, ou simplesmente sabem quando alguém "desabrocha"? - pergunto automaticamente, não conseguindo controlar minha curiosidade.
Hallyson solta uma gargalhada curta sem querer do banco do motorista, parece que a pergunta ou a forma que eu falei foram o bastante pra ela se divertir.
- Bem, não conheço esses X-Mens, mas digamos que temos nossas formas de descobrir se alguém será um Elementar ou não.. E também existe uma lista de pessoas para checar, possíveis futuros Elementares, com tendência... Investigamos todos os fatores para poder resumir essa lista, e só depois de ter certeza, abortamos o possível Elementar - ele responde de forma calma, quase ensaiada, olhando para fora da janela do carro como se essa fosse a pergunta mais normal do mundo... Velho doido.
- Hmmm... Entendi. Bem, sobre as lembranças e pressentimentos ruins... Eu sempre tive, mas os encarava como algo banal. Afinal, não é possível ter sonhos e pensamentos positivos no lugar que eu vivia... Digo, era horrível viver lá e achei que o que eu sentia não passava de bobagem. Até ver o fogo, chamas e labaredas saindo de minhas mãos. Foi um choque e tive que fugir. Se eu ficasse, quem iria acreditar em mim? Se eu não fosse eu, não acreditaria...
- Eu lhe entendo e não a julgo - Hallyson afirma - Deve ter sido difícil todas essas coisas, porém não pode se agarrar ao passado, muito menos ficar sofrendo pelo que já se passou. Agora é hora de olhar para frente, e começar a pensar no que quer para você mesma. Falando nisso, falta pouco para chegarmos.
Pensando em todos os conselhos e palavras, me perco em meus pensamentos. Será que isso tudo estaria acontecendo mesmo? Ou contínuo delirando? É estranho, mas me sinto confortavelmente bem. Será realmente possível a existência de uma Ilha? Elas existem normalmente, mas nunca ouvi alguém falar em uma habitada por pessoas poderosas assim, muito menos as quais conseguem controlar assim os elementos... Ah, espera um momento, e se ela existe, como chegar um uma ilha indo de carro? Preciso perguntar sobre isso... Será que estão me sequestrado? Meu Deus, como fui tão burra e nem percebi que essas pessoas querem me matar?
Antes de ter a oportunidade de falar algo o carro desceu uma ladeira que levava a um corredor embaixo da terra, como o metrô. Meu corpo pulava no banco do carro, a estrada provavelmente era esburacada e cheia de pó, pois era fácil sentir os buracos e defeitos. Tentei olhar pela janela, mas nada além de pó e um corredor revestido por terra... É hoje que eu morro, eles vão aproveitar e me deixar aqui nessa terra fria e nojenta.
Hallyson acelera e dá um sorriso malicioso:
- Preste atenção nessa parte Miranda, na primeira vez é sempre incrível.
Pronto. Ela vai bater o carro pra me matar e ainda fala pra eu prestar atenção.
Um pulo do carro me tira das idéias malucas e suicidas. De repente o corredor de terra e pó é substituído pela visão mais linda que eu poderia ter enxergado por toda minha vida... Tudo ficou claro e bonito, maravilhada e com a boca aberta olho para fora, estávamos em um corredor de video, embaixo d'água. O asfalto não tinha nenhuma falha ou lombada, e as águas por trás dos vidros do corredor eram cristalinas. Consegui avistar muitas algas, animais aquáticos de todas as cores e tamanhos colorindo o mar, a maioria peixes iguais, nadando de forma sincronizada e bonita, como uma dança coreografada. Algumas flores soltas e algas. Conforme o carro andava, eu ficava mais maravilhada com aquela linda vista, a luz acima do mar, era como se fosse um peixinho perdido feliz por reencontrar sua casa.
- Gostou da vista, Miranda? - o Senhor Manson pergunta.
- É lindo - digo devagar, ainda ingerindo todas as informações e pensando se havia algo mais bonito no mundo.
- Então, vai gostar mais da Ilha, aliás, estamos quase lá.
O carro sai do corredor de vidro e começa a subir em uma estrada de terra, entrando em uma mata aberta com árvores altas e exuberantes.
- Chegamos, bem-vinda a Ilha.
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Os Elementares
FantasyMiranda é uma jovem de 17 anos que vive em um orfanato empoeirado e comum... Bem, vivia, até coisas estranhas começarem a acontecer, e ela acidentalmente colocar fogo em sua antiga "casa". A solução que encontrou foi fugir do orfanato. Mas não espe...