Quase sem querer.

Capítulo 1- Seu amor!

As lágrimas que desciam pelo meu rosto já não tinham vida, meu corpo não parecia que ia aguentar muito mais tempo. Eu olhava para o caixão e só conseguia me perguntar porque o destino havia feito isso logo com ele, meu pai, o único homem que eu consegui amar.
Senti um toque carinhoso em minha cintura, um toque que eu conhecia bem. Era ela!
- Oi amor - ela falou e encostou a cabeça em minhas costas.
- Oi minha linda - virei a recebi o carinho que ela estava me dando. Senti o calor do seu abraço e voltei a chorar.
- Não chora, por favor. Você sabe como eu fico desesperada quando te vejo chorar.
- Desculpa, não foi minha intenção.
- Vem, vamos sentar comigo um pouco.
Ela segurou minha mão e me puxou para a área de serviço. Tinham poucas pessoas por perto, alguns primos e tios, amigos do meu pai, outros eu não conhecia.
Eu passava e recebia olhares de afeto, algumas palavras de conforto, outros apenas fechavam os olhos e balançavam a cabeça, mas eu sabia que eles estavam sentindo um pouco daquela dor comigo.
A Daniela estava sentada ao meu lado, segurando uma das minhas mãos, e fazendo pequenos movimentos com a outra em meu cabelo.
- Assim que soube comprei uma passagem. Por que não me ligou para avisar?
- Eu não queria atrapalhar sua viagem, amor.
- Fiquei muito chateada por saber por outras pessoas. Tenho que estar ao seu lado em todos os momentos, Luna.
- Eu sei, me desculpa.
- Tudo bem. De todo modo, já passou.
Sentei um pouco mais perto dela, de algum modo ficar perto dela me trazia um bem, uma paz que eu nunca tinha conseguido encontrar em outros braços.
- Como aconteceu?
- O que?
- O acidente, amor!
- Ah! Os polícias disseram que estava chovendo muito na hora, e provavelmente não dava para ver muita coisa na pista. Havia um caminhão na frente do carro do meu pai, e um dos pneus traseiro travou. O carro do meu pai bateu, e vinha um ônibus atrás... Não tinha como sobreviver.
- Eu sinto muito - ela disse e me abraçou. As lágrimas brotaram dos meus olhos, mas dessa vez não eram lágrimas de dor, e sim de felicidade. Felicidade por ter a Daniela ao meu lado, por saber que mesmo sob tantos preconceitos que nós sofriamos, ela estava ali comigo, sem medo, sem pena. Ela só queria transferir para mim um pouco do amor dela, para se misturar com minha dor e me deixar um pouco melhor.

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