Amor em Milão

Uno - A Galla

A Piazza del Duomo¹ estava lotada, como o de costume.

Haviam pombos que ficavam em meio as pessoas pegando as migalhas de alimentos que os turistas deixavam. E no meio de toda aquela multidão, Maisie Scopelli ficava sob o sol escaldante tirando fotos com a sua câmera Pentax K-1000, a preciosidade herdada de seu pai. Entre suspiros e sorrisos que eram causados por ver cenas bonitas como as de famílias reunidas e a felicidade alheia, ela se deixava levar pela tarde quente de Milão.

Quando o pôr do sol chegava, ela se permitiu fazer uma pausa e caminhar pacientemente até a sua lanchonete favorita. A porta dupla de vidro deixava bem visível o movimento lá dentro, mas Maisie ficou firme e agradecia em silêncio por ter barulho a sua volta, senão todos ouviriam a sua barriga dando olá e em seguida iria dizer: "que momento oportuno para me dar alguma coisa comestível, você não acha?". Isso fez com que suas bochechas corassem e ela soltasse uma risada, atraindo olhares inquisitivos e outros, no entanto, divertidos como o caso de Ethan Meurer, que a observava desde que saiu escondido da Galeria Vittorio Emanuele². Ele sabia que era Maisie desde o início, quando a sua espontaneidade ficou diante de seus olhos. Ela era simplesmente linda do jeito que era. E ele nunca se sentiu tão feliz em reparar algo que o distraísse que fosse tão... belo.

Então, não desperdiçando sua chance dela repará-lo, ele correu até a porta da lanchonete antes de Maisie, abrindo a porta e deixando seus dedos se roçarem em milésimos de segundos. Vê-la assim tão de perto deixava-o meio tonto, tanto por sentir o aroma deliciodo de seus fios castanhos-acobreados novamente, quanto sua presença que ali ficava em suas memórias há exatamente 730 dias.

Quando entraram no local, recebidos de um ar-condicionado bem vindo, Maisie virou para agradecer àquele que fez a gentileza, e se encontrou perdida momentaneamente por vê-lo na sua frente.

- Ethan? - sua surpresa foi visível e isso o deixou um pouco incomodado.

Ele reparou que seus olhos eram os mesmos. Tinham a cor do céu ao anoitecer e suas íris eram como as estrelas que iluminavam aos poucos a sua mente e que aqueciam seu coração.

- Olá, Maisie - ele colou um sorriso desajeitado no rosto. - Eu...

- Quanto tempo - ela soltou, interrompendo-o. - Você está tão diferente.

Ele engoliu em seco, observando seus olhos confusos.

- É, é verdade.

A falta de palavras deixou Maisie nervosa, como se isso fosse considerado um crime diante deles dois, que haviam conversado tanto durante as férias que viveram.

Há dois anos atrás.

Mas agora, tudo era diferente. Ela havia passado na Universidade de Milão e alugara um apartamento com sua melhor amiga, Pietra.

E ele morava em uma república na Inglaterra, cujos amigos que viviam junto com ele também estavam lá. Na cidade em que tudo aconteceu.

- Quer tomar um café comigo? - ele resolveu falar depois de alguns segundos constrangedores. - É por minha conta.

Ela concordou silenciosamente e o seguiu até uma mesa afastada.

Enquanto Ethan pedia dois cafés gelados, Maisie sentia sua barriga revirar, como nunca acontecia. Só quando estava perto dele. Suspirou, tendo a confirmação do que ainda sentia por ele. E, Deus, como machucava.

Mesmo que não tivesse o tocado realmente, seu interior clamava para poder ficar perto dele de novo e ouvir suas palavras suaves sussurradas ao pé de seu ouvido.

Aquele verão parecia tão distante. Tão inalcançável. Era como se eles fossem completos desconhecidos. E, de fato, estavam quase lá porque... suas personalidades adolescentes deram origem ao amadurecimento e aquilo criava um certo abismo entre os dois. Além disso, Maisie reparou evidentemente que Ethan havia cortado os cabelos compridos. Ele não estava mais cabeludo de um jeito rebelde, como se a provocasse desde o dia em que pousou os olhos nela. Não. Seu cabelo estava curto, mostrando muito pouco as suas mechas claras naturais na região de sua franja e seu ar descontraído tinha desaparecido.