Se uma pessoa levasse um acompanhante para jantar em Naviglio Grande, era porque ela estava realmente apaixonada por ela.
Não durou muito tempo pegar o trem da estação perto do Castelo até o bairro dos canais. Por volta dez minutos.
Chegando lá, entraram em um restaurante fino, onde as pessoas estavam bem vestidas e ficavam com um sorriso no rosto por saberem que era começo do final de semana — também por saberem que tinham uma bufunfa boa no bolso.
Ethan conduziu Maisie até uma mesa ao lado da janela de vidro, onde as pessoas passavam no conforto do tempo de verão. Não foi muito difícil saber que ela se sentiria desconfortável por estar vestida no contexto errado, mas ele nem se importava.
Pediram Tortelli, pedacinhos de massa fresca com ovos recheados com uma mistura moída de prosciutto, mortadela, queijo parmesão e uma pitada de noz-moscada, de formato similar ao dos cappellettis. São servidos num caldo suave de carne ou galinha, polvilhados com parmesão¹.
Durante a janta, conversavam como se nada tivesse acontecido, sempre contando o cotiano um do outro. Enquanto ela falava sobre como era morar com uma amiga, ele pegou sua mão sobre a mesa e ficou brincando com seus dedos. Ela sorriu e tentou continuar.
Em um dado momento do jantar, quando Ethan estava comendo, Maisie ligou rapidamente sua câmera para tirar uma foto e o fotografou levando a massa até a boca. Eles se divertiram tirando mais fotos.
Às vezes algo dava errado e trocavam farpas. Algumas sem conexo, e outras engraçadas.
— Você pegou o meu pedaço! Eu não acredito nisso! — ela sussurrou alto, olhando para a mesa ao lado onde tinha uma criança gargalhando com o que seu pai disse.
— Não fique exaltada, il mio cuore! — ele riu.
Ela bufou, prendendo uma risada.
No final da noite, eles decidiram que não iriam fazer nada de específico. As ruas já estavam meio desertas e a iluminação pedia um silêncio meio assustador, diferente de toda aquela movimentação de dia.
Sentaram em um banquinho de madeira em frente a algumas lojas e começaram a brincar de guerra de dedão. Eles não aguentavam e iniciavam a rir sem qualquer motivo. Diziam que era a culpa das duas taças de vinho.
Maisie estava quase dormindo quando a hora bateu no relógio. Eram 5:00 da matina e eles não haviam desistido de tentar valer a pena. Conversavam baixinho e trocavam algumas carícias. Algumas vezes cantarolavam músicas em comum ou imitavam uma orquestra.
— Que merda, Maisie — ele resmungou. — Tem alguma loja aberta 24hs?
Ela esfregou os olhos, esquecendo que tinha rímel nos cílios. Ela estava tão acostumada em não passar maquiagem que ficava difícil não esfregar o rosto com as mãos.
— Sim, perto de casa — ela bocejou.
— Vamos comprar um energético — ele pegou os pertences sobre o banco e parou quando Maisie tinha fechado os olhos novamente. — Vamos!
Ela levantou em um pulo, correndo com ele até a rua de seu apartamento.
Como os trens não funcionavam naquela hora, eles tinham de correr rápido.
A loja era pequena e estreita. O atendente estava quase roncando no caixa e Ethan teve que acordá-lo com um tap fraco no rosto.
— São 5 euros — ele bocejava, atraindo Maisie, que bocejava também.
Ao saírem, Maisie tomou a garrafa das mãos de Ethan e deu um longo gole.
— Pietra deve estar se descabelando agora — ela disse brincando na rua de pedra. — Uma vez eu fiquei fora de casa porque estava terminando um trabalho na biblioteca. Ela disse que tinha me ligado dez vezes e eu não atendia a nenhuma ligação. Eu tinha pegado no sono. E também falou que pensou que eu tinha dormido com alguém.
Ele apurou os ouvidos.
— Sei.
— Mas não foi o caso — ela sussurrou e se espreguiçou, olhando para o céu.
— Tenho uma surpresa para você — ele pegou sua mão e a conduziu de volta ao Parque Sempione, até a Torre Branca, onde podia ver os limites da cidade.
— Giovanni, que bom que você já está aqui! — Ethan disse ao chegar no último destino.
— Ethan, irmão! — o ruivo sorriu, girando o molho de chaves com um dedo. — Que bom vê-lo por aqui! Há quanto tempo não nos falamos!
Giovanni era um amigo de longa data de Ethan. Se conheceram em uma excursão da cidade e mantinham contato até hoje.
Eles se abraçaram brevemente.
— É mesmo. Mas você pode me ajudar? Eu quero mostrar a bela paisagem do nascer do sol para essa bela dama aqui — ele entrelaçou os seus dedos com os dela. — Maisie, este é Giovanni, um grande amigo meu; e Giovanni, essa é Maisie, minha Maisie.
Ela corou.
— Prazer em conhecê-la! Bom, podem subir, daqui a pouco vai amanhecer. Deram sorte hoje, pois cheguei mais cedo — ele riu.
Eles subiram rapidamente pelo elevador, chegando ao observatório que exibia uma paisagem um pouco clara. A pequena cafeteria ficava na cabine de baixo, mas não adiantaria nada pedir um café para Gio, já que estava fechado.
Após dez minutos, o sol começava a surgir e uma centelha de animação passou pelos seus corpos.
Vendo a oportunidade de ouro, vendo sua amada ali diante dele, tomou o seu rosto entre as mãos e a beijou.
Eles suspiravam internamente, vendo suas conquistas crescerem e o amor aumentar a cada segundo, a cada respiração compartilhada.
E apartir daquele instante, cada um decidiu que iria ser feliz ao lado um do outro. Não importava as circunstâncias e os obstáculos.
Eles iriam ser felizes.
E foi isso que fizeram.
FIM.
.
.
.
.
.Curiosidades:
¹: texto retirado do site Guia GetNinjas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor em Milão
Historia CortaUm pequeno conto sobre memórias significativas, verões italianos e amores novos. *** Desafio de fevereiro do RomanceBR ❤