As Quatro Filhas

Capítulo 1

O Festival, que se celebrava no final do Inverno, há muito era aguardado, pelas gentes de Engleville, um aldeamento, que se considerava uma vila, mas que não passava de um conjunto de casas de madeira e telhados de palha, com uma única rua, que levava a um poço de pedra e a uma estalagem em pedra e madeira, com telhado de barro cozido, a única estrutura do género, mas estas pequenas casas com os seus habitantes, não faziam o conjunto dos moradores da pequena aldeia, situada num pequeno vale, ladeada por um rio, as verdejantes encostas eram a casa do grosso número de habitantes de Engleville, camponeses, que só em duas ocasiões iam ao aldeamento, ou pelos festivais ou para vender e, nem mesmo na segunda se via tanta gente nas ruas de uma só vez como na primeira.

Por estes dias, a estalagem estava lotada. Estava sempre a entrar e a sair alguém, outros a pedirem refeições ou quartos e mais ainda, os solteiros mais novos, esperavam, por uma oportunidade de que a empregada os viesse servir, a filha mais velha do estalajadeiro, em idade de casar, os seus cabelos ruivos e olhos verdes, pele clara e silhueta delgada, causava nos rapazes e até mesmo em alguns homens o assomo de paixão, ficando embevecidos pela sua beleza exótica, no entanto, com tanto trabalho, Lily, não tinha nem tempo para observar e escolher um par para o baile da Primavera.

Foi numa dessas noites, em que Lily mal tinha tempo para notar quem entrava e quem saía, que se fez um silêncio abrupto na sala de refeições, quando a porta da rua se abriu e por ela entraram duas figuras desconhecidas, uma mulher, com um vestido fino em tons claros de azul e um manto com capuz, de um verde brilhante, nada que um habitante de Engleville pudesse comprar, o capuz escondia-lhe o rosto, mas deixava ver uns fios de cabelo loiro, do mais claro possível, o acompanhante era um homem alto, delgado, mas musculado, com uma túnica azul escura, um colete em couro e uma espada ao cinto e a maneira como se movia com ele, provava, que a saberia usar, causando tanto admiração, como algum medo, por parte das pessoas, tinha um cabelo castanho-escuro, pelos ombros, mas não tinha barba, demonstrando a parca idade que tinha. O burburinho começou, era extremamente raro, aparecerem estranhos na vila, as pessoas do Reino das Duas Pontes, esqueciam-se que existia uma vila no meio das montanhas da Água Gela. Os dois dirigiram-se ao balcão, sentaram-se à espera de serem atendidos, como qualquer outro cliente, o que amenizou a curiosidade dos restantes que voltaram às suas conversas em voz alta, tornando a sala de refeições, novamente, num lugar agitado.

Finalmente, quando todos os cliente tinham-se recolhido, deixando a sala de refeições vazia e após Lily a ter limpo, deixando-a pronta para os pequenos-almoços do dia seguinte, que se dirigiu à cozinha, para poder tomar a sua refeição, antes de se deitar, os pais e o irmão mais novo já tinham subido para os quartos.

Ao entrar na cozinha, assustou-se ao ver a mulher de fora de Engleville, sentada numa das cadeiras da mesa, com uma caneca de chá quente, perna traçada e uma posição relaxada, o seu capuz pendia nos ombros, deixando ver o seu cabelo loiro, e uns olhos azuis, numa pele morena, com uns lábios finos, que estavam cerrados, em apreensão:

-Peço desculpa, posso ajudá-la, em alguma coisa? - Perguntou Lily, refazendo-se do susto.

-Sim, era contigo que eu queria falar! Foi por tua causa que vim a Engleville!

Lily arqueou uma sobrancelha, com um sorriso de lado nos lábios, pois não queria ofender a mulher, rindo-se, directamente, na sua cara:

-O que pode, uma filha de estalajadeiros, fazer por uma dama como a senhora?

A mulher, dispensou o comentário com um abanar da mão direita, sorveu um gole da caneca de chá:

-O meu nome é Ingrid Sherman, e preciso mesmo, que me escutes com atenção, mas não sei se vais acreditar nas minhas palavras!