Cidade de Lutéria, - Inverno
Não consegui pregar os olhos aquela noite. Deitado em minha cama de madeira, rústica, presencio o nascimento de um novo dia pela pequena e velha janela do quarto. Como uma sinfonia desalinhada, o vento, as vozes, os mercadores organizando suas parafernálias, o casco dos cavalos que por ali galgavam sobre a neve, as crianças correndo pelas calçadas, desperta a grandiosa Lutéria. Observo novamente, hipnotizado, o folheto todo amassado em mãos . Era o motivo da minha ansiedade.
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"Aos ambiciosos, herdeiros do espírito aventureiro, o mundo os aguarda. Precisamos de você, jovem, junte-se a honrada guarda luteriana"
Academia de defesa de Lutéria
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O folheto exibia a imagem de um jovem bem aparentando, o corpo magro, pele morena, usava o cabelo curto, raspado, segurando uma espada enorme com ambas as mãos, "difícil imaginar esse soldadinho empunhando aquela espada colossal", imaginei, exibindo leve sorriso nos lábios. A águia também era presente no centro, símbolo majestoso, bordado nas braçadeiras dos soldados luterianos, distinguindo-os dos demais exércitos humanos.
O quarto era pequeno, minimalista, uma construção rudimentar, porém, confortável. Roupas estavam espalhadas por todos os lados, desorganizado, típico de adolescente. Miniaturas de guerreiros eram visíveis sobre uma prateleira improvisada, uma réplica do soldado luteriano, um pequeno elfo faltando uma das pernas e criaturas diversas da região.
Passos são ouvidos pela da casa, quebrando o silêncio, como um trovão, uma voz grave, imponente, ganha os corredores até chegar ao quarto.
- Brann, seu moleque preguiçoso! Você não iria visitar o mercado da cidade? - distraído, o grito inesperado fez o menino chutar o ar, assustado.
- Já estou acordado seu velho rabugento, me dê um minuto -respondeu e soltou um enorme bocejo, esfregando os olhos.
Diversas histórias surreais das aventuras do avô Dario eram contadas por sua avó, Fricca. Quando jovem, foi um combatente nas fileiras do exército, conhecido em toda Lutéria pelos seus feitos, um soldado exemplar com uma carreira promissora, porém, interrompida, devido as graves lesões que sofreu em batalha. Apesar de ser o maior admirador, Brann e o avô, nunca conversaram sobre assuntos que envolviam o passado, o que sempre irritava o velho. A aparência forte, e o jeito autoritário faz lembrar os sargentos durões, queixo quadrado, olhos castanhos, pequenos, escondidos atrás dos óculos, lábios grossos e um enorme nariz esparramado. Seu rosto é bem marcado com linhas de expressão, entretanto, não demonstrava cansaço, esbanjava um vigor de invejar, cabelos brancos, curtos e espetados, bagunçado, dava ao velho um ar selvagem.
Como um gato, Brann saltou da cama, com um enorme sorriso largo, abriu a porta do quarto, seguindo o delicioso cheiro de café fresco pelo ar.
- Bom dia Brann, vejo que acordou motivado para explorar a cidade. - o menino fitou a avó por um instante, arrumando a mesa do café da manhã, farta de frutas e pães.
Trajava um sobretudo de lã arcaico enorme que passava da cintura, uma calça grossa por baixo e botas de couro simples, porém, eficientes contra o frio. O material era comprado no mercado e confeccionado em sua própria casa. Apesar da vestimenta rudimentar, preservava uma beleza impar, pele clara, cabelos compridos, pretos, preso, na espécie de um coque, realçando os olhos castanhos esverdeados.
Após um beijo doce no rosto da avó, o menino responde:
-Não estou acostumado com a rotina da cidade, tudo por aqui me encanta.
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Eldennar
FantasyDurante décadas, o espírito explorador era presente no grandioso continente de Eldennar. Líderes do passado, dotados de enorme sabedoria, mantinham o equilíbrio no mundo. A diplomacia forjou alianças entre os três grandes impérios, compartilhando a...