As trevas percorriam o horizonte, trovões ribombavam como o sino de uma catedral anunciando a morte. As lágrimas dos deuses uniam-se ao escarlate, rubros afluentes que percorriam a silhueta pálida de um rosto encapuzado pelas trevas, desembocando numa queda livre para a Mãe Natureza. Emaranhados nos seus dedos, os fios de uma longa e espessa barba grisalha entrelaçados à sua mão, realizavam uma simbiose perfeita nas suas extremidades com uma massa disforme e ensanguentada. Esta que pendulava ritmada, entre as botas de couro enlameadas e um gasto manto negro que fundia-se com a trilha de barro.
Em seus ombros, o mundo. Resoluto, ignorava o repetitivo som da chuva nas folhagens daquela densa floresta, passos firmes marcavam suas pegadas no terreno encharcado, enquanto a incessante precipitação dificultava a distinção da trilha há muito inutilizada. Após horas, a chuva havia enfim cessado, no alto do céu pôde vislumbrar a lua em seu auge, o plenilúnio.
Enquanto caminhava, distinguiu as dimensões de uma grande estrada comercial. Abriu a mão, deixando esvair ao solo uma "cabeça". Ergueu os olhos aos céus, sutilmente jogou o capuz para trás, mãos ao alto com o indicador e polegar em riste como quem esquadrinhava as estrelas... Saindo do transe, satisfeito com o resultado, dirigiu-se à um cavalo que margeava a estrada, um alvo corcel, o mais altivo e imponente que um dia já ousou imaginar, portava cela e arreios delicadamente confeccionados e com fluidas inscrições.
Com cautela, aproximou-se da cabeça do animal e sussurrou em um idioma melódico, o cavalo agitado com a presença estranha acalmou-se no ato. O encapuzado olhou com desconfiança para os lados e com pressa colocou na algibeira, envolta em panos, a "cabeça" que carregava. Num movimento, colocou um pé no estribo e utilizou o impulso para montar rapidamente, mais uma vez olhou com desconfiança para a trilha atrás de si e sussurrou no ouvido do corcel. Instintivamente colocou a mão por dentro do seu manto, e quando retornou estava afogada em sangue não coagulado, manchando os pelos do cavalo com uma teia rubra. Num momento sua visão embaçou e sua consciência esvaiu.
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Nas Escamas do Algoz
FantasyA Paz agoniza, sepultada nos confins da Esperança. Elfos e Anões banham a natureza com a mácula rubra da guerra, sem trégua há eras. Homens foram submetidos ao regime de escravidão, como punição ao impulso destrutivo da raça, exilados nas masmorras...