Outro Conto de Natal

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- Mas será possível que não exista nenhuma casa de chás nessa cidade?

Sarah estava caminhando há quase três horas em busca de algum lugar para tomar um chá da tarde. Como a cidade não era lá muito grande, já havia passado por todos os lugares possíveis. Havia muitos cafés e bistrôs, mas nenhum deles servia chá, apenas café.

Chegara em Bien-queues havia pouco menos de uma semana, e este era seu primeiro sábado na charmosa cidadezinha. Como acordou tarde, cozinhou um almoço rápido no apartamento mesmo, e depois saiu para dar um passeio e comprar presentes de Natal para seus pais e amigos. Algumas horas depois, cansada, com frio, e carregando várias sacolas, daria qualquer coisa para sentar em algum lugar e tomar um chá bem quente. Mas, inacreditavelmente, aquela cidade parecia não saber da existência do chá.

De repente, deu-se conta de que estava no meio de uma praça. Logo avistou um banco e, muito aliviada, largou as sacolas numa ponta e se sentou na outra.

- Pensei que demoraria mais que uma semana para começar a sentir saudades da capital. – Falou consigo mesma, sentada no banco da praça. Sempre gostou de falar consigo mesma. Era relativamente discreta: falava em voz baixa e mexia pouco os lábios. Tinha certeza de que ninguém nunca a vira falando sozinha.

Não sabia muito bem o que estava fazendo em Bien-queues. Depois da crise de burnout, sabia apenas que precisava se afastar do trabalho por um tempo, e também da família e dos amigos, cuja preocupação excessiva desde o fatídico episódio não estava ajudando em nada. Bien-queues era uma cidade no interior do estado, a aproximadamente 6 horas da capital. Era famosa por suas águas termais e pelo charme pitoresco de suas construções e paisagens. A longa viagem de ônibus seria um preço pequeno a se pagar por duas semanas de total relaxamento. Assim, deu entrada no balneário no domingo à noite, e já na segunda bem cedo começou o primeiro de uma série de banhos terapêuticos anti-stress. De fato sentia-se bem melhor, mas a sua incapacidade de relaxar era algo impressionante.

- Eu adoro café, mas neste momento eu realmente gostaria muito de um chá. – Falou mais uma vez, tão concentrada na sua própria frustração, que apenas quando um casal de jovens parou a poucos centímetros dela, olhando e apontando animadamente para alguma coisa à frente, que ela se deu conta.

A praça onde estava sentada – a principal da cidade – estava repleta de maravilhosas decorações de Natal. Bem à sua frente, havia um boneco de neve enorme, iluminado por luzes internas, e com caixas de presentes de todas as cores e tamanhos à sua volta, também iluminadas. O casal posava sorridente, junto ao boneco de neve, para uma selfie. Sarah olhou em volta e notou um número significativamente maior de pessoas do que quando ela chegou. Àquela hora, com o sol começando a se pôr, provavelmente era quando as luzes eram acesas, trazendo famílias com crianças e casais de namorados à praça.

Sarah levantou-se, pegou suas sacolas, e caminhou pela praça. Mais à frente, próximo ao coreto, havia um imenso Papai Noel sentado dentro de seu trenó, amarrado a seis renas com narizes vermelhos reluzentes. Um pai com duas crianças, uma menina e um menino, parou ali e se ajoelhou perto dos filhos, apontando:

- Estão vendo este trenó? É assim que o Papai Noel distribui os presentes para as crianças. Toda noite de Natal, ele sobe neste trenó, puxado por estas seis renas e, enquanto sobrevoa as casas, joga os presentes de todas as crianças pelas chaminés de suas casas.

A garotinha, que parecia mais velha do que o garoto, olhou para o pai com uma expressão de confusão, e disse:

- Mas, pai, não tem chaminé na nossa casa. Nós moramos em apartamento. Como é que o Papai Noel deixa nossos presentes?

O pai, aparentemente pego despreparado, abriu a boca para responder, mas dela não saiu nem um som. Ele olhou para Sarah, em busca de algum apoio. Ela, percebendo certo desespero na sua expressão, arriscou:

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