Capitulo 4: "New York State of Mind"

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            Saí do avião com a maior calma possível, tenho de admitir que estava um pouco nervosa. Tinham passado cerca de dez horas desde que tinha deixado a minha mãe e tenho de admitir que já estava com saudades de casa. Mudar de Oakland para Nova York, a capital do Mundo, era uma mudança BASTANTE grande! Mas era uma coisa que já estava a planear desde que me lembro… Pelos vistos, com a minha entrada em NYADA, a faculdade já tinha tratado de tudo: transporte do aeroporto para a escola, quarto, passes de transporte, senhas de refeição e livros, a única coisa que tinha de fazer era chegar lá e preencher o resto da papelada, para assinalar presença e escolher as disciplinas do curso que queria frequentar. Umas da boas ofertas que a escola nos proporciona é o facto de poder-mos frequentar as disciplinas que quisermos e que melhor se adaptem a nós, conforme os nossos gostos. Eu já tinha reflectido sobre isso e, em principio, ia optar por literatura inglesa, dança clássica, história da música, desenho, teatro musical, hip-hop e história e cultura das artes. Eram disciplinas sobre as quais eu sabia algumas coisas, até por uma questão de cultura geral, e em que eu confiava o facto de saber que se iriam adaptar muito facilmente a mim.

                Percorri o grande corredor que dava acesso à zona da bagagem, onde enormes tapetes rolantes percorriam a sala em todo o seu comprimento, com toneladas de bagagem em cima, de todos os tipos, variando desde malas, a móveis, passando pelos animais de estimação. Estive cerca de vinte minutos à espera das minhas malas, com um carrinho que tinha pedido a um dos ajudantes que ali se encontrava. Peguei nas malas, coloquei-as no carrinho e segui caminho, seguindo as placas para onde dizia “Chegadas”. Tenho de admitir que nunca tinha visto nada assim: pessoas a correr de um lado para o outro, malas, carrinhos, famílias inteiras com passaportes e bilhetes na mão, tentando conjugar bilhetes numa mão, uma bolsa debaixo do braço, a criança mais nova pela outra mão, telemóvel ao ouvido encostado ao ombro e ainda conseguir controlar os outros dois filhos que jogavam à apanhada à volta das pessoas, seguranças de um lado para o outro, luzes, ecrãs gigantes com partidas e chegadas e aviões e, sobretudo, muita agitação. Estaria preparada para este corrupio todo? Mudança, era a resposta. Há que mudar. E, como todas as mudanças, o mínimo de esforço era preciso por isso eu sabia que iria conseguir. Tinha de o provar, não só à minha mãe, mas como um desafio superado para mim própria.

                Cheguei a uma rampa com acesso à saída mas algo de estranho se passava: um segurança indicou-me que não poderia sair por ali e que tinha de ir dar a volta porque aquele acesso estava interdito.

                - Mas porque é que não posso sair por este lado? – insisti com o segurança

                - Menina, já lhe expliquei. Este acesso está vedado devido à multidão que se encontra à porta do Aeroporto

                - Multidão? Mas há alguma manifestação? – perguntei, um pouco espantada. O segurança soltou uma gargalhada

                - Manifestação? Não, minha senhora! É que está a chegar uma banda dessas que andam por ai na berra entre as adolescentes e elas decidiram que devia ser giro para os seguranças aqui da equipa acamparem aqui à porta. Daí ter-mos de vedar alguns acessos, para impedir que algum dos rapazes se magoe! – respondeu-me com um leve sorriso

                - Ah! Oh, banda? Ok ok… Então desculpe-me! Eu vou seguir por onde me mandou! Muito obrigada pela ajuda – acabei por agradecer. Simpático o segurança. Mas banda? Qual banda? Maioria das jovens vedetas hoje em dia que têm a mania que são melhores que toda a gente!

                Tive de percorrer o aeroporto todo, até à outra saída alternativa de chegadas, para fazer o check out, o que me roubou mais cerca de dez minutos que o previsto. Assim que lá cheguei pude ver um senhor, cerca dos seus cinquenta e tal anos, com um cartaz com o meu nome. Provavelmente seria da faculdade, para me vir buscar. Aproximei-me dele com as malas.

                -Mrs. Caroline? – perguntou-me com um leve sorriso. Respondi com um aceno de cabeça. – Sou o Evan, um dos motoristas principais da NYADA. Estou aqui para a levar até aos dormitórios. Quer ajuda com as malas?

                - Oh, olá. Sim, por favor, se não lhe for muito incomodo… - respondi, enquanto punha uma das malas no carro. Evan deu uma pequena ajuda.

                Entrámos ambos para o carro, eu para a parte de trás, enquanto Evan ocupou o lugar do condutor.

                -Mrs.Caroline, a viagem vai demorar cerca de meia hora. Estamos em plena hora de ponta e aqui são menos cinco horas do que na Califórnia Miss – ótimo, jet lag, pensei imediatamente – se precisar de alguma coisa é só avisar sim?

                - Sim, obrigada. Não se preocupe, obrigada. – respondi, num tom amável. Realmente muito simpático o motorista, mas também, era o trabalho dele certo?

                O resto da viagem foi feita me silêncio. Estava completamente absorvida no ambiente de Nova York: desde os prédios altíssimos, aos cartazes gigantes de publicidade, as lojas com imensas luzes e montras enormes, à quantidade de pessoas que circulava na rua àquela hora, o tamanho das filas de carros, o trânsito. Até com a largura das passadeiras para peões fiquei admirada. Realmente, Nova York detinha de um título ao qual dava bastante uso: era uma cidade com vida, luminosa e barulhenta. Sem dúvida a cidade que nunca dorme. Encostei a cabeça ao vidro e quase que juro que acho que fechei os olhos até chegar à faculdade.

Holding Out For A HeroOnde histórias criam vida. Descubra agora