Capitulo 2

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Depois da primeira vez que o José tentou abusar de mim me fechei completamente, se já não era uma criança normal, depois disso então as coisas pioraram. Fazia o máximo para não ficar sozinha com ele em casa, nem com ele nem com os filhos dele pois tinha medo que fizessem o mesmo.
Comecei a me dedicar mais aos meus estudos, estava no 6º ano do ensino fundamental e se eu queria que todo aquele pesadelo acabasse teria que estudar muito!
Na escola havia uma garota chamada Lúcia, éramos amigas, conversávamos muito sobre as nossas vidas, - que diga-se de passagem eram muito diferentes - compartilhávamos segredos.

Lúcia era uma menininha bem magra, pele clara, olhos verdes, cabelos lisos e negros feito carvão, quase sempre usava vestidinhos floridos que pareciam caros e sapatilhas muito bonitas. Ela e a família moravam em um casarão situado em uma área considerada nobre na cidade, tinham boa situação financeira e viviam cheios de mimos. Apesar da diferença notável entre as nossas "classes", Lúcia não tinha vergonha nenhuma de andar com uma pobre menina negra, muito pelo contrário, me tratava muito bem, posso dizer com todas as letras que aquela garotinha era a minha melhor amiga. 

Após três dias de constantes fugas de José e seus filhos - dias sufocantes por sinal, fiquei com medo que, depois de ter batido naquele monstro com um pedaço de madeira, ele tentasse algo pior - fui à escola. Antes que o primeiro período começasse encontrei Lúcia no corredor:

-  Oi, Lúcia! - cumprimentei com um sorrisinho meio amarelo, mas ela percebeu que algo estava muito errado comigo.

- Oi Sam... está tudo bem com você? Tá estranha... - me olhou como se tivesse tentando adivinhar o que estava errado em mim.

- Aconteceram umas coisas horríveis... nem sei como contar isso, nem sei direito o que aconteceu, só sei que foi horrível... - uma lágrima apareceu no canto do meu olho, Lúcia me abraçou.

- Vai ficar tudo bem, Sam. Temos que ir para a aula agora, é matemática, não podemos perder, não tenho a sua inteligência - sorriu - Vamos! Depois conversamos, me conte tudo.

Fomos para a aula, como já era de se esperar não consegui prestar atenção em nada, a única coisa que passava pela minha cabeça era que ele poderia estar atrás de mim, talvez na porta da escola me esperando sair para fazer alguma atrocidade. 

A aula acabou e finalmente eu e Lúcia pudemos conversar.

- Então Sam, desembucha! O que de tão horrível aconteceu pra você ficar assim, mais estranha e triste?

- Ah, Lú... foi horrível! Sabe o inútil do marido da mamãe? 

- Sei sim, o que ele fez dessa vez? Te bateu poque você não enxugou o chão do banheiro enquanto ele tomava banho? - sorriu, tentando acabar com um pouco da tensão...

- Não, foi pior do que isso... ele tentou fazer comigo o que faz com a mamãe, me mandou tirar a roupa, mas não o deixei fazer nada, bati nele antes e corri para bem longe de casa - Contei toda a história para ela que ficou impressionada com tudo o que tinha acontecido.

Depois daquele desabafo fui para casa, passei o caminho inteiro olhando para todos os lados, morrendo de medo que aquele ser sem escrúpulos estivesse me seguindo, para a minha felicidade não estava. 

Cheguei em casa, ninguém estava lá. Tomei um banho, fiz café, comi um pão dormido meio duro que tinha em uma vasilha e fui limpar o chão da casa. Terminei de limpar tudo e fui fazer meus deveres de casa. Estava empolgada com as matérias da escola, sonhava em um dia ser professora para poder ensinar às crianças, não só sobre coisas científicas, mas também sobre coisas da vida.  

                                                                                     ***

Os dias passaram e desde o dia em que quase fui abusada pelo  José apanhei várias vezes, parecia que ele sentia prazer em me ver sofrer, tentou abusar de mim outra vez, mas a mamãe chegou e ele desistiu. Vivi um verdadeiro pesadelo... Só Deus pra me dar forças pra suportar aquilo tudo. 


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