O Que É Amor?

Capítulo 3

Quando fiz 13 anos comecei a ver as coisas de uma forma diferente. Não permitia mais, de jeito nenhum, que me fizessem de escrava. Passei a pensar que se eles me colocaram dentro da casa deles foi porque quiseram, a mamãe era uma pessoa maravilhosa, de coração mole, mas deixava que me fizessem de gato e sapato e sinceramente, cansei daquilo, precisava começar a planejar o futuro. 

Já estava no 8º ano do ensino fundamental, estudava sempre que tinha tempo, estava determinada a sair daquela casa algum dia. 

Eu tinha crescido um pouco, estava com o corpo mais desenvolvido e por onde passava tinha algum engraçadinho filho da mãe pra falar uma gracinha, cada homem ridículo, sentia nojo. Pra completar, o tal do José estava cada dia mais ousado, um velho nojento, fedorento, um crápula. Um dia, eu estava lavando roupa no quintal, estava sozinha em casa e ele chegou, esse foi sem dúvida o pior dia da minha vida... O cara chegou silenciosamente, sabia que eu estava sozinha, colocou as coisas dele no quarto dele e da mamãe, tirou os sapatos para não fazer brulho e foi para o quintal. A pia ficava de frente para a porta do fundo, dessa forma eu estava de costas para a porta, ele veio, pisando manso e eu não percebi que ele estava ali. Ah... não tem explicação para o que senti... Aquele ser horrível chegou perto de mim e segurou meu cabelo com toda a força que puder imaginar, naquele momento eu busquei algum objeto, mas não tinha nada a meu alcance, perdi as forças quando ele fez aquilo... nem precisei ver o rosto para saber quem era. Meus olhos se encheram de lágrimas quando ele colocou a mão em meu seio esquerdo e disse baixo no meu ouvido:

- Achou que eu ia deixar passar aquela paulada, negrinha? - Riu sarcasticamente enquanto apertava meu seio e meu cabelo ao mesmo tempo - Sua vaca, agora você tá mais gostosinha, dá até gosto olhar, melhor ainda vai ser pegar! 

Um medo inexplicável invadiu meu corpo, minha mente, meu ser... tentei me desligar do mundo, mas era impossível. Ele sabia que a mamãe dormiria na casa da patroa e os filhos estavam ocupados demais para ir para casa cedo, então decidiu que aquele era o dia para acabar com a minha vida. Depois de dizer coisas nojentas e horríveis ele me virou de frente para ele, segurando meu cabelo e prendendo minhas mãos, eu realmente estava sem forças, daí José me arrastou para dentro de casa dizendo pra eu me calar, caso contrário ele me mataria e sumiria comigo. Me calei, só fazia chorar e pedir pra que aquilo passasse logo. Ele pegou uma faca na cozinha enquanto me segurava pelos cabelos e me arrastou para o quarto dele e da mamãe. Colocou a faca sobre  uma cadeira velha e começou a se despir me mandando ficar quieta. Segurando a faca me mandou chegar perto dele, com a mão desocupada suspendeu meu vestido e arrancou minha calcinha, rasgou ela toda, depois com a faca rasgou meu vestido e amarrou minhas mãos com o que sobrou dele. Eu chorava em desespero, quando ele me jogou em cima da cama com violência e começou a fazer coisas que eu não entendia, minhas intimidades doíam, ardiam, era uma dor quase insuportável, ele me xingava o tempo todo e me ameaçava, perguntava se eu queria que parasse e se eu dizia que queria que parasse ele fazia coisas piores ainda... Queria apagar isso da memória... quando ele finalmente cansou eu já estava inexpressiva, me sentindo um lixo, José me fez ficar em pé, me deu uma surra e me mandou tomar banho pra tirar o cheiro de "vagabunda". 

Depois disso decidi que iria embora dali, arrumei minhas coisas em umas sacolas e fui naquele mesmo dia.  Tudo de ruim que eu poderia viver já tinha vivido, o que tinha a perder? Saí sem rumo, pensando onde eu poderia me hospedar por um tempo até que fizesse 14 anos e pudesse trabalhar, faltava pouco menos de um ano pra isso... Fui para a casa da Lúcia, expliquei a situação a ela e a mãe dela e elas permitiram que eu ficasse, me apoiaram e lá fiquei.