Ainda no primeiro motivo.

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- Qual o seu problema, afinal? Você não fica comigo, mas não me deixa livre para ficar com outros...
- Pô, eu não sou exclusivamente seu. Mas você é exclusivamente minha!
Idiota. Essa era a palavra certa para definir não só ele, como eu. Meu corpo todo agia de forma idiota sempre que ele dizia coisas do tipo, por mais que soubesse o tamanho da injustiça que era aquilo, o fato de ter uma chance mínima de ser 'dele' deixava todo o meu corpo a mercê. Eu estava a mercê dele como uma mercadoria estava para ser comprada.
- Algo me diz que quando você cansar disso, eu não vou voltar a me achar.
- Você não consegue simplesmente curtir o momento? Que droga, Cami. Você consegue estragar até os momentos que eu tento ser amável.
E ele nunca tenta ser amável.
- Eu não posso ser sua, Clin. Eu quero ser minha. Por mais que deseje ser sua, não posso me perder.
- Não me venha com metáforas, sabe que não gosto delas.

O mais irônico de tudo isso, é que ele era uma metáfora. Mas não aquelas metáforas bobas que você encontra em livro infantil, não. Ele era uma daquelas metáforas que nem Dalai Lama teria criatividade para escrever.
Ele era complicado, complexo demais. Era um daqueles livros antigos que você quer ler mas sabe que não vai entender metade dele.
Estávamos sentados na grama, debaixo de um Ipê. Era fim da Primavera e as flores rosas cobriam o chão como um tapete, me permiti sorrir. Eu, como uma boa adoradora de clichês, amava flores.
- Qual sua flor preferida? - Ele perguntou, parecendo perceber a minha admiração.
- Quem disse que gosto de flores?
- Seus olhos, eles falam muito mais que sua boca - um sorriso lateral brotou nos lábios dele. Aquele tipo de sorriso cafajeste que derrete o coração de muitas. (Eu disse que adorava clichê).
- Girassóis.
- Girassóis? - olhando-o de soslaio pude perceber a dúvida estampada em seu rosto. - Tantas flores bonitas e delicadas, e você escolhe um girassol para ser sua preferida?
- Clin, se parar pra' perceber, pelo jeito que falou, você é um girassol pra mim - entrelaçando os dedos na grama verde tentei não rir.
Era engraçado como ele agia quando contrariado. Nunca ficava quieto é claro, mas nunca respondia na mesma hora. Sabia que, naquele momento, ele estava esperando a situação exata para rebater, para sair por cima. Ele sempre queria estar por cima.
- Quer dizer então que sou sua flor preferida?
- Não, quer dizer que de tantos garotos bonitos e delicados, eu escolhi logo o oposto dele.
- E de você.
- E de mim. - Concordei.
Não tinha como não concordar.
- Somos opostos não atraídos - Ele disse, e pela primeira vez na vida fez sentido algo que saiu de sua boca.
É claro que éramos opostos não atraídos que se encontraram
em um esbarrão casual por aí.

Sua cabeça agora se encontrava encostada na grama. Estava deitado e o contraste que as flores faziam seus fios de cabelos negros era incrível. Eu podia ficar vidas observando-o e mesmo assim seria pouco. Ele não era o mais atraente, legal e irresistível. Não. Mas ele era atraente o suficiente para mim, e isso era o suficiente. Deitei ao seu lado e juntei as mãos ao meu corpo fechando os olhos em seguida. E ficamos em silêncio.
Um silêncio as vezes diz mais do que nossas palavras (aí, para acrencentar na lista de clichês). O seu silêncio era aquele que eu queria ouvir para o resto da vida, mas sabia que não poderia; não poderia porque não daria certo, não era pra ser. Não estávamos predestinados, seja lá o que isso significa. Nenhum vento soprava ao nosso favor, mas na insistência, remavamos contra a maré. E ai que bate aquela pergunta: e se acabar? Se acabar, tudo teria sido em vão. Tanta batidas de novos amores na porta que nao foram convidados para entrar, não voltariam mais. Se acabasse não teria ninguém para quer ter para mim. Mas tinha que acabar.
É irônico com começamos as coisas já pensando em não dar certo. Temos medo de arriscar e quebrar a cara, e isso é bom; cedo ou tarde sempre vamos quebrar a cara. E ele me mostrou isso desde o começo. Assim que entrei nessa eu sabia que quebraria mil vezes a cara, mas sempre disse ter fita para colar os pedaços. Mas uma hora, tinha que acabar.
E aqui vai mais um clichê: Como cortar pela raiz se já deu flor?

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Oi! Como estão? Vi que tem algumas pessoas acompanhando e fico grata!
Se está um pouco confuso os capítulos, vou explicar: o motivo sempre vai vir em um capítulo e no segundo um diálogo. Espero que entendam no decorrer da história.
Nesse capítulo dei "nome aos bois", Clin e Camill é o nome desse casal mal casado.
Kisses.

Cinco motivos para deixá-lo ir.Onde histórias criam vida. Descubra agora