Capítulo 11

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A falta de notícias deixou Constância mais nervosa. Se tudo estivesse bem, por que o Rico ainda não tinha voltado? Cansada de permanecer sentada, levantou-se, saindo pela porta de vidro que dava no jardim. As luzes estava todas acesas, promovendo um belo espetáculo.

Ellen, levantou-se na sequência, indo até ela. Estava angustiada também e o silêncio só fazia aumentar esta angústia. Mesmo sem saber como seria recebido seu comentário, ousou quebrar o silêncio.

- Daqui a pouco, o Rico trará seu convidado, devem estar presos no trânsito, apenas isto...

- Espero que tenha razão, Ellen – Constância parou para reparar na acompanhante de seu filho. Se fosse melhor nascida, daria uma ótima nora. No entanto, teve que reconhecer que conseguia ser agradável – Gosta bastante do meu filho, não?

- Trabalhamos juntos, não há como não gostar – respondeu sem graça, não esperava que fosse tão direta.

- Entendo – Constância a encarou, deixando claro que não havia engolido aquela resposta.

- Mesmo porque, acredito que não tenha chance – Ellen aproveitou o momento. Viu Constância arquear uma das sobrancelhas, desconfiada.

- Por que não teria chance? Meu filho não traria alguém aqui em casa, se não tivesse o mínimo de admiração pela pessoa – tentou entender o que queria dizer com aquilo.

- Não sei... Como disse, trabalho com o Rico. Eu o conheço um pouco e sei que, pelo menos no momento, está interessado em uma mulher.

- Deve estar errada. Rico me diria, se isso fosse verdade. De onde tirou essa conclusão?

- Ele deixou escapar – tecnicamente disse a verdade, porém, fora do contexto – Algo sobre uma tal de Júlia.

A mudança na expressão de Constância denunciou o que Ellen desconfiava. Se a mãe de Rico já ouvira falar nela, era sinal de que representava uma ameaça muito maior do que imaginara.

- Não... Deve estar enganada. Ele jamais se interessaria por aquela... – na boca vieram várias palavras, mas para não espantar Ellen, manteve a que sempre usava e que não poderia lhe render um processo – Cozinheira.

- Cozinheira? – Ellen fez-se de desentendida, pois havia conhecido Júlia e entendia o motivo da indignação de Constância. Tinha que confessar que até para ela foi um pouco de surpresa, não imaginava que aquele fosse o tipo preferido de Rico, visto que era bem diferente das mulheres com quem desfilava. Contudo, não se incomodou tanto pelo fato de ela ser negra, mas sim pelo fato de ser bem bonita.

- Desculpe Ellen, é o modo de dizer. Só sei que ganha a vida, cozinhando. Nada tenho contra isso, mas definitivamente ela não é uma mulher para o meu Rico. Ela ficou em um passado distante...

- Sinto muito, Constância, no entanto creio que esteja enganada, porque tenho certeza de que é algo recente – Ellen a interrompeu, insistindo.

- Pode me falar mais a respeito? – Constância questionou, esquecendo-se por momentos até mesmo da aflição que estava sentindo. Queria escutar o que a levara a acreditar que Ricardo pudesse estar pensando novamente naquela mulher. Ellen, por sua vez, estava bolando um jeito de convencer Constância do que estava falando, sem contar o modo como o nome de Júlia viera à tona.

****

- Você não é estéril.

Ricardo perdeu a conta de quantas vezes ouviu a mesma frase em sua cabeça durante o trajeto do apartamento até o hospital que indicou para os paramédicos. Aliás, entre a chegada da ambulância e a imediata remoção do médico, era como se tudo se passasse em câmera lenta, como se fosse um flash, um borrão.

Doce Sabor de Pimenta (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora