Doce Sabor de Pimenta (Degustação)

Capítulo 1

Júlia sentiu um frio na barriga. Aquela sensação devia ser comparável a subir em um palco diante de milhões de pessoas. Respirou fundo, tentando não chorar e borrar a maquiagem. Apanhou a mão de seu pai com mais força e ele acariciou o dorso da mão da filha de modo a acalmá-la.

Quando a música começou, Júlia pensou que o coração fosse sair pela boca. Seu pai olhou para ela e sorriu, iniciando a caminhada, conforme haviam treinado. Assim que a porta da igreja se abriu, todos os olhares foram em sua direção e ela sentiu o coração bater acelerado.

Seu vestido havia sido inspirado na roupa da princesa Tiana, da história da princesa e o sapo, retratada nos cinemas anos antes, e era exatamente daquele modo que estava se sentindo. Tudo estava como imaginara, desde a decoração na igreja, até a recepção que havia sido preparada cuidadosamente para um pouco mais de duzentos convidados.

Ricardo a viu se aproximar e nem mesmo em seus sonhos pensou que fosse ficar tão bonita. Estava perfeita, parecendo uma verdadeira princesa. Sentiu as pernas bambas e lágrimas virem aos seus olhos, mas não eram de felicidade.

Lutando contra a vontade de chorar, Júlia o viu. E realmente estava tão bem-vestido que parecia saído de um conto de fadas. Pelo casamento ser à tarde, havia optado por um terno cinza um pouco mais escuro que o colete da mesma cor. Completando o visual, no colarinho da camisa branca, uma gravata de cetim num tom intermediário entre os dois tons de cinza utilizados.

Continuou andando e foi como se deslizasse por todo o caminho, pois vê-lo fez com que sua caminhada, até então vacilante, se fizesse segura. Finalmente, conseguiu domar o nervosismo e sorrir. Chegando perto do altar, viu rapidamente sua mãe, com os olhos marejados e Constância, a mãe de Ricardo, que lhe sorriu cúmplice. Eduardo estava ao lado dela e, Júlia não conseguiu deixar de sorrir ao vê-lo dentro de um terno. Não era um visual ao qual estava acostumado e sabia que só fazia isso em consideração a ela e ao seu irmão. Ainda viu o médico da família e o achou sério demais, era o único que não sorria.

Ricardo engoliu em seco, antes de ir apanhá-la das mãos de seu pai. Cumprimentou-o rapidamente e deu-lhe a mão. Júlia percebeu que devia estar tão nervoso quanto ela, pois tremia e sua mão estava fria. Ao ser conduzida até o altar, sentiu falta também de seu sorriso, atribuindo à ansiedade toda aquela seriedade. Ajoelharam-se diante do altar e o padre iniciou a cerimônia.

Júlia mal conseguiu ouvir tudo o que o padre dissera, tamanha emoção que sentia. Ele era seu sonho e agora se tornaria sua realidade. Só faltava um detalhe para saírem de lá em direção ao seu final feliz.

- Senhorita Júlia Lins Pimenta, aceita o senhor Ricardo Góes Vidal como seu legítimo esposo, para amá-lo, respeitá-lo e lhe ser fiel, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, todos os dias de sua vida, até que a morte os separe?

- Sim - foi um fio de voz que saiu e Júlia sorriu nervosa, quando Ricardo olhou para ela. Percebeu os olhos dele, cheios de lágrimas. O padre continuou, agora virando-se para Ricardo.

- Senhor Ricardo Góes Vidal, você aceita a senhorita Júlia Lins Pimenta como sua legítima esposa, para amá-la, respeitá-la e lhe ser fiel, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, todos os dias de sua vida, até que a morte os separe?

À pergunta do padre seguiu-se um silêncio incômodo. Júlia olhou para ele, assim como as outras pessoas, esperando que respondesse. O padre repetiu a pergunta e Júlia estranhou quando seu noivo soltou sua mão. Será que estava tão nervoso, a ponto de perder a voz?

- Não - Ricardo respondeu, após encará-la.

Júlia arregalou os olhos sem querer acreditar no que ele dissera. Houve um burburinho entre os convidados. Mesmo sabendo da seriedade de Ricardo, acharam que se tratasse de alguma brincadeira, pois todos sabiam do quanto eram apaixonados. Sob os olhares do padre, ele se levantou devagar e viu a noiva fazer o mesmo.