o domingo nascera frio apesar dos raios de sol que se escapavam por detrás das nuvens,não era comum numa altura em que parecia ainda haver muita chuva por cair.o tempo parecia indeciso.
João não pregara o olho durante a noite toda,sempre que o tentou fazer acabava sendo visitado por sonhos estranhos,havia despertado quase meia dúzia de vezes durante uma noite que teimava em não terminar.
o bater da porta lhe era familiar,abriu-a e deparou-se com Beto.depois de tanta vida partilhada acabaram se tornando bem mais que amigos.João não chegara a conhecer o pai e teve o azar de perder a mãe ainda miúdo.os pais de Beto num ato de coragem haviam cuidado dele até que se fizesse homem.
-acordei-te? - perguntou Beto notando o cansaço estampado em seu rosto.as olheiras eram impossíveis de disfarçar.
-eu quase nem dormi- respondeu-lhe antes de um longo e sincero abraço.
-já imagino-disse Beto em baixo tom passando a mão sobre a barba preta e volumosa provavelmente insinuando qualquer coisa.o seu sentido de humor era algo raro de se ver numa época e num lugar em que pouco existia,era assim desde miúdo,várias vezes fazia troça até das coisas mais sérias.em seguida soltara um riso que João conhecia muito bem. -onde estão as meninas? - perguntou enquanto ajeitava a camisa axadrezada que parecia encolher a cada dia.
-com certeza foram pra igreja.
as últimas palavras do padre foram consoladoras aos ouvidos de todos.quase a vila inteira se encontrava naquela pequena igreja deixando as ruas quase às moscas.
acenou com a mão enrugada antes de caminhar para a porta.
Lila carregava a pequena Alice ao colo passando pela multidão que tentava de forma organizada sair do lugar,chovia sorrisos e saudações por toda a parte,uns menos sinceros e mais forçados.
sua prima Juliana apesar do corpo largo e baixo já havia conseguido se escapar aos pequenos empurrões e à esperava por baixo de uma árvore.possuia um rosto tipicamente redondinho e tinha um lenço preso à cabeça cobrindo os cabelos pretos.
-tu devias ter asas.-disse Juliana com alguma ironia à mistura.
-fazia tempo que não via essa igreja assim,parecia que meio mundo estava aí dentro.
- so não vi o teu esposo.-questionou Juliana.
-ficou em casa descansando,nem deve ter nos visto sair.
-está tudo bem entre vocês?-perguntou Juliana com natural preocupação.
-claro que sim-respondeu Lila sem muito entusiasmo.
-ele já sabe da notícia?-perguntou Juliana enquanto passava carinhosamente a mão sobre o rosto da pequena Alice que definitivamente não mostrava interesse algum no que se passava.
-ainda não,na verdade nem sei se é a altura certa.precisamos os dois de um tempinho.-respondeu Lila baixando o olhar aparentemente envergonhada.
-eu sinceramente não acho.isso vai na verdade fazer-vos muito bem.
-é suposto fazer.
o padre aproximou-se das duas jovens.era um homem de altura elevada e o vasto tempo de vida já o vergava o tronco paulatinamente. possuía uma típica barba branca e comprida.era sem dúvida alguma um dos homens mais respeitados daquele lugar assim como velho Francisco e o ancião,suas palavras eram sempre sábias,doces e precisas,seu rosto quanto mais enrugado mais serenidade transmitia.há muitos anos que havia sido enviado pela igreja pra aquele lugar sacrificou toda a sua juventude e abdicou da vida da cidade grande pra cuidar das pessoas e espalhar a então conhecida palavra salvação.
Lila beijou-o as mãos em sinal de respeito e em seguida Juliana fez o mesmo.
-bom dia senhor padre.-disseram as duas quase que como um coro ensaiado.
-bom dia filhas.-respondeu-lhes com a habitual calma.-está grande a menina-referiu-se a pequena Alice que realmente se tornava mais crescida a cada dia.
-três anos apenas-disse Lila.
-parece que foi ontem que era recém nascida e a batizei nessa igreja.na verdade sinto isso com todos vocês-fez uma pausa e concluiu dizendo:-mande cumprimentos ao seu esposo.
abandonou-as em passos lentos.típico de quem já viveu o bastante e agora o tempo deixava de ser preocupação.
durante o caminho pra casa Juliana insistia várias vezes a Lila que partilhasse com João aquilo que tanto guardava,pra ela era o mais sensato a se fazer e pra Lila ainda não era o momento certo.
-pra quê viver adiando isso?-perguntava vezes sem conta.
-a reação dele pode não ser das melhores-justificou Lila.
-mas você so vai saber disso depois de se atrever a contar.guardar isso não vai te servir pra muita coisa.até porque conhecendo o teu marido como eu conheço ele iria preferir ser a primeira pessoa a saber de uma coisa dessas.
Lila refletiu por alguns minutos e percebeu o quanto Juliana estava certa.de certeza seu esposo iria querer que ela o contasse o quanto antes.
-eu vou falar com ele.ainda na noite de hoje.
-faça um jantarzinho delicioso,aquele prato que ele adora e depois sentem e conversem...isso não tinha que ser novidade pra ti.
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o lago dos segredos.
Mistério / Suspenseos habitantes daquele lugar temiam o pequeno lago que escondia grandes mistérios.muitas estórias já haviam sido contadas a respeito,certezas haviam poucas,mas alguém estava agora disposto a descobrir uma verdade escondida a sete chaves,ainda que iss...